Concorrência externa, barreiras alfandegárias e custos elevados com folha de pagamento. Estes são alguns dos principais desafios enfrentados pela indústria calçadista mineira, que impedem um avanço mais expressivo da atividade no Estado. Conforme a pesquisa Indicadores Industriais (Index), da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o setor apresentou, no primeiro semestre, crescimento modesto de 2,95% no faturamento na comparação com idêntico intervalo de 2011.
Contudo, os dados do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Calçados de Nova Serrana (Sindinova), polo calçadista que integra 1.100 fábricas de Nova Serrana (região Centro-Oeste) e cidades do entorno, são ainda piores. Conforme o diretor da entidade, Júnior César Silva, o faturamento foi, na primeira metade do ano, 5% abaixo do obtido nos primeiros seis meses de 2011. "A desaceleração da economia prejudicou vários setores da indústria e a calçadista não ficou de fora", lamenta.
Ele atribui o fraco desempenho do período à concorrência com os importados, sobretudo da China, em média 20% mais baratos que os nacionais. Silva também acrescenta que as medidas protecionistas adotadas pelo governo argentino, principal importador dos sapatos de Nova Serrana, também contribuíram para a desaceleração do segmento. Segundo o diretor do Sindinova, os embarques na fronteira estão levando um tempo maior que os 60 dias determinados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Recuperação - O início de ano conturbado não desanima os fabricantes, que apostam em uma recuperação, mesmo que tímida, neste semestre. Conforme Silva, o faturamento deve crescer, entre julho e agosto, 3%, na comparação com idêntico intervalo de 2011. Além de ser tradicionalmente mais favorável aos negócios, devido, em grande parte, às encomendas para o Natal, ele destaca outros aspectos responsáveis por impulsionar a atividade nesta época.
Entre eles, Silva aponta a realização da Nova Serrana Feira e Moda, na última semana de julho, que movimentou R$ 35 milhões em negócios. Além disso, ele ressalta que o Plano Brasil Maior, que desonera a contribuição do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) da folha de pagamento do setor de calçados, dá novo fôlego à atividade. Isso porque a indústria calçadista depende muito de capital humano e, com isso, sofre com os altos custos gerados pela legislação trabalhista do país. O polo de Nova Serrana gera cerca de 20 mil empregos.
O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados no Estado de Minas Gerais (Sindcalçados), Jânio Gomes, afirma que a produção oscila muito durante o ano. "Em fevereiro, a produção estava aquecida, já em decorrência das encomendas para o inverno. Em junho, ela diminuiu e entre agosto e novembro ela voltará a acelerar devido ao Natal", explica.
A afirmativa de Gomes é comprovada pelo Index. Segundo o estudo da Fiemg, o faturamento do setor no Estado caiu 13,06% no sexto mês deste exercício, na comparação com maio, na série dessazonalizada.
Gomes chama a atenção, ainda, para outro problema enfrentado pelo segmento: a falta de mão de obra qualificada. Isso porque, pelo fato de o setor não oferecer remunerações muito elevadas, a maior parte dos trabalhadores opta, após algum tempo, por atuar em outro ramo. "Com isso, temos dificuldades para manter o funcionário. O fabricante precisa investir mais na formação do profissional", alerta.
Veículo: Diário do Comércio - MG