Infraestrutura deficiente anula a competitividade dos produtos brasileiros
Entre os empresários brasileiros é comum dizer que o produto brasileiro é competitivo da porta para dentro da fábrica, mas a falta de infraestrutura elimina esta vantagem. Recente levantamento da Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Abdib), com base em estudo do Fórum Econômico Mundial, mostra que o Brasil apresenta problemas crônicos quando o tema é competitividade relacionado à gestão pública.
De 144 países pesquisados, o País ocupa a lanterna em relação ao "peso da regulação para os negócios" e "extensão e efeito de tributação".Paulo Godoy, presidente da Abdib, lembra que em 2011 o Brasil investiu o equivalente a 4,18% do PIB em infraestrutura. A Tailândia, que mais tem investido neste setor no mundo, aplica 15% do que produz internamente.
Para o dirigente, seria preciso um esforço concentrado em quatro pontos para melhorar o quadro brasileiro: maior desoneração para os investimentos, eficiência na gestão do Estado, linhas de financiamento mais acessíveis para projetos e ampliar o programa de concessões.
O economista Gesner de Oliveira, presidente da GO Associados, lembra que entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) a qualidade da infraestrutura brasileira está abaixo dos demais emergentes.
"Um levantamento do Global Competitiveness Report revela que o Brasil está atrás da China e da Índia, mas à frente da Rússia no ranking de competitividade. Quanto à infraestrutura, perdemos para a Rússia, China mas somos superiores a Índia", afirma.
Um estudo comparativo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) cita como exemplo o custo de exportação de soja do Brasil e dos Estados Unidos para o porto de Hamburgo, na Alemanha. A participação do transporte no custo total da soja embarcada (rodoviário, marítimo e fluvial) é de 31% no porto de Paranaguá, mas cai para 20% via Minneapolis, nos Estados Unidos.
Interferência. O diretor de Infraestrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas, revela que em 2008 a entidade enumerou dez itens que à época interferiam na competitividade dos produtos brasileiros.
Entre os dez, destaque para os custos de portos e aeroportos, frete internacional, transporte interno e de manuseio em armazéns nos portos. "O que assistimos é um esforço correto do governo para corrigir estes problemas com o PAC, mas em uma velocidade ainda aquém da necessária," acrescenta.
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, lembra que neste ano os investimentos em infraestrutura devem chegar a R$ 194 bilhões, um crescimento real de 6% em relação a 2011.
"O governo da presidente Dilma tem trabalhado para os fundamentos para um ciclo de crescimento de longo prazo, o que é imprescindível", diz Coutinho.
Neste ano, o Brasil ficou pela primeira vez entre os 50 países mais competitivos no Relatório Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. O País subiu cinco colocações, ficando em 48.º.
Alguns dos destaques negativos foram a "qualidade da infraestrutura de transportes", em que o Brasil ficou no 79º lugar, a "qualidade da educação" (116.º lugar) e o "volume de taxação como limitador ao trabalho e investimentos" (144.º lugar).
Nas entrevistas feitas com executivos brasileiros, a "oferta inadequada de infraestrutura" ficou em segundo lugar entre os fatores mais problemáticos para se fazer negócios no Brasil, com 17,5% das respostas.
Em primeiro lugar, ficaram as "regulações tributárias", com 18,7%, e, em terceiro, a "carga tributária", com 17,2%, seguida da "burocracia governamental ineficiente", com 11,1%.
Veículo: O Estado de S.Paulo