Os problemas com a estiagem levaram a safra de trigo argentina ao menor nível dos últimos doze anos e comprometerão a oferta do cereal no Brasil em 2009. Ontem, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires revisou pela quarta vez a previsão, que caiu de 10 milhões de toneladas para 9,7 milhões de toneladas. O país vizinho é o maior fornecedor para o Brasil e um dos maiores produtores mundiais. Na safra passada, o saldo exportável do país foi de 10,8 milhões de toneladas, segundo a Safras & Mercado. Pelo menos metade disso foi absorvido pelo Brasil. A consultoria prevê que no próximo ano o saldo recuará 58%, para 4,5 milhões de toneladas.

 

"Vamos ter que buscar cerca de 2 milhões de toneladas fora do Mercosul. Mas não acredito em preços altos porque a produção mundial será maior e o mercado olha para isso", explica Luiz Martins, presidente do moinho Anaconda, um dos maiores do País. O executivo observa que tanto aqui como lá fora não encontra dificuldades para adquirir trigo. Além disso, revela que não depende de crédito para comprar matéria-prima. "Pagamos tradicionalmente à vista e vamos continuar suprindo todos os nossos clientes sem problema algum". O empresário acredita que o consumo continuará firme em 2009.

 

Lawrence Pih, presidente do Grupo Moinho Pacífico, revela que está difícil comprar trigo fora do País por causa da falta de crédito, no entanto explica que ainda possui estoque. "Também ainda há muito trigo no mercado interno. O problema são os preços baixos, que devem desmotivar o produtor".As intervenções do governo para garantir os preços mínimos são consideradas positivas pela cadeia, porém não têm conseguido sustentar as cotações. Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, diz que o trigo para panificação no Paraná é negociado em R$ 460 a tonelada, R$ 20 a abaixo do mínimo. Ele explica que a queda ocorreu porque os produtores argentinos venderam rápido parte da produção com receio de novas restrições no embarque. "Por esse motivo, os produtores brasileiros estão evitando o mercado e optando pelos leilões do governo. Até o começo do ano haverá preços baixos". Segundo disse, 90% dos contratos de opções de compra leiloados foram arrematados, somando mais de 900 mil toneladas. Já a demanda pelo Prêmio de Escoamento da Produção (PEP) tem crescido nas últimas duas semanas, com 120 mil toneladas arrematadas.

 

Pedro Loyola, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), explica que 35% dos 3,1 milhões de toneladas do estado foram vendidos. A média histórica é de 50% nesse período. "Orientamos a fazer o EGF para quitar dívidas e segurar a produção, além de participar dos leilões do governo".

 

Veículo: Gazeta Mercantil