A Unilever sai da retranca

Leia em 4min

Como a filial brasileira da gigante anglo-holandesa de bens de consumo voltou a crescer, depois de dois anos de vendas estagnadas.



Quando garoto em Buenos Aires, o executivo argentino Fernando Fernandez, presidente da Unilever no Brasil, tinha como diversão favorita jogar futebol nas ruas do bairro de Boedo, que ja foi a sede do tradicional San Lorenzo de Almagro, seu time do coração. Fanático pelo esporte bretão, ele resolveu adotar uma equipe para torcer no Brasil, assim que assumiu a subsidiária brasileira, em setembro do ano passado. A escolha recaiu sobre o São Paulo – e não foi influenciada por nenhum diretor da filial local. Fernandez, hoje com 45 anos, tem boas lembranças do esquadrão do técnico mineiro Telê Santana, bicampeã da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes, nos anos 1990, que reunia craques como Cafu, Muller e Raí, além do goleiro Zetti.

O executivo recorda-se da objetividade no toque de bola e da velocidade dos atacantes, um ritmo que escolheu para tocar os negócios da subsidiária local da gigante de bens de consumo anglo-holandesa, dona de um faturamento de € 46,5 bilhões em 2011. “Meu estilo é acelerado e gosto de assumir riscos”, diz Fernandez com um forte sotaque portenho. A pressa de Fernandez é fácil de ser entendida. Nos últimos dois anos, a Unilever andou de lado, apesar de manter uma liderança folgada nas áreas de sabão em pó, desodorantes e sorvetes. Seu faturamento bruto permaneceu na casa dos R$ 12 bilhões. Ao mesmo tempo, seus concorrentes avançaram no mercado brasileiro. A americana P&G, por exemplo, tem crescido a uma média anual superior a 20%. A britânica Reckitt Benckiser aumentou sua receita em 50% nos últimos dois anos.

A rival local Flora, do grupo J&F, quer se transformar na “Unilever dos trópicos”. Em seu primeiro ano à frente da Unilever no Brasil, Fernandez abandonou a retranca e mandou seu time para o ataque. Primeiro cortou custos. “Quero uma operação enxuta e ágil”, afirma o executivo. Depois, acelerou os projetos, renovando 70% da linha de produtos. O resultado? “O crescimento da receita no mundo foi de 7% no primeiro semestre deste ano”, diz Keith Weed, executivo-chefe da área de marketing global da Unilever, que visitou o QG da subsidiária, localizada no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, em meados de setembro. “No Brasil, a expansão é de mais de 10%.” Isso significa que a Unilever, em uma estimativa conservadora, acrescentará às suas receitas mais de R$ 1 bilhão, o equivalente ao faturamento da Flora, à metade do da Reckitt e a um terço do da P&G.

Um exemplo da velocidade imprimida por Fernandez na tomada de decisões foi o lançamento da linha para cabelos Tresemmé, resultado da aquisição da empresa americana Alberto Culver em 2010. Trazer um novo produto para o mercado brasileiro era um processo que demorava de dois a três anos, exigindo pesquisas de mercado e análise da concorrência e uma série de tarefas burocráticas. Desta vez, tudo isso foi feito em 135 dias. “Após o primeiro varejista fazer o pedido do produto, em 22 horas ele estava na gôndola do hipermercado”, diz Andrea Salgueiro Cruz Lima, vice-presidente de negócios de cuidados pessoais da Unilever. Em 12 meses, a linha Tresemmé contribuirá com vendas de R$ 250 milhões, cerca de 2% da receita da companhia no Brasil.

 
“O Brasil já tem um status diferente”

Responsável por definir os rumos das estratégias de marketing e sustentabilidade da Unilever em todo o mundo, o executivo britânico Keith Weed falou à DINHERO sobre a importância da operação brasileira para a companhia.

Qual é o plano de longo prazo da Unilever?

Temos uma meta de dobrar de tamanho até 2020, ao mesmo tempo em que esperamos reduzir pela metade o impacto ambiental dos nossos produtos. Isso será importante porque até 2050 teremos 2,5 bilhões de pessoas a mais no mundo.


Qual será o papel do Brasil?

O foco do mundo está se voltando para o Sul e para o Leste. O crescimento da receita no mundo foi de 7% no primeiro semestre deste ano. No Brasil, a expansão é de mais de 10%.

 
Como isso se espelha na estrutura da empresa?

Fizemos uma reestruturação recente para dar mais destaque aos países emergentes. Antes, a empresa era dividida em três regiões, e agora são oito. O Brasil, como o segundo maior mercado mundial, já tem um status diferente. Podemos atrair melhores pessoas para cá.

 
O foco do consumo está nos países emergentes, mas já se desenvolvem produtos nesses locais?

Já temos centros de pesquisas no Brasil, em Cingapura e em Mumbai, que empregam mais funcionários do que em Londres.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


Veja também

Exportação do Brasil para Argentina caiu 33% em setembro

Com recuo, saldo comercial favorável ao mercado brasileiro despencou 80%, ficando só em US$ 157 milh&otild...

Veja mais
Vaca transgênica tem leite que não dá alergia

Pesquisa feita na Nova Zelândia é primeiro passo para a produção de lácteos desse tipo...

Veja mais
O fim da marca Esso

A Raízen, dona da centenária rede de postos de combustíveis, decide aposentar uma marca que fez his...

Veja mais
Exportação de tabaco à China pode chegar a US$ 500 mi

Os embarques de fumo à China devem movimentar US$ 500 milhões neste ano, ou 31,5% a mais do que em 2011. A...

Veja mais
Redução de tarifas cria briga jurídica na área de cargas

O transporte ferroviário de carga no Brasil observou com atenção a liminar judicial ganha pela Am&e...

Veja mais
Shopping espera alta do comércio de brinquedos

A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) prevê crescimento de 14% nas vendas de brin...

Veja mais
Varejo reforça estoque para o Dia da Criança

Redes do comércio varejista estão animadas com o período que antecede o Dia da Criança, come...

Veja mais
Arcor do Brasil lança Panettone Premium Recheado com Chocolate

Com mais sabor e cremosidade no recheio, o novo produto é umas das grandes apostas da marca neste Natal   ...

Veja mais
Agas projeta alta de 8,5% nas vendas no Dia das Crianças

Conforme a Associação Gaúcha de Supermercados, 70% dos brinquedos disponíveis no setor s&ati...

Veja mais