Há TVs de sobra e cada vez mais baratas

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No terceiro trimestre, os balanços de Samsung, Philips, Sony e LG trouxeram resultados desalentadores 

 

Sobram televisores no mundo, mesmo os de LCD. Ainda um objeto de desejo para os brasileiros, esses aparelhos já não dão bom lucro aos grandes fabricantes globais. Com a crise internacional, os preços caíram ainda mais. 

 

No terceiro trimestre, os balanços de Samsung, Philips, Sony e LG trouxeram resultados desalentadores, com fortes quedas na rentabilidade. Como Samsung e LG são os maiores produtores mundiais das telas - em fábricas que custam bilhões de dólares na Ásia -, têm maior vantagem competitiva e travam uma guerra de preços ao redor do mundo, inclusive no Brasil, onde a demanda cresce acima de 100% ao ano. 

 

Os televisores de tubo resistem no Brasil, por serem mais baratos que os de tela fina. Mas a diferença de preços é cada vez menor. 


 
Margens de lucro com televisores não são mais as mesmas


  
Embora os televisores de LCD ainda sejam um objeto de desejo para a maioria dos brasileiros, os grandes fabricantes globais já não estão mais obtendo lucros atraentes com o aparelho. Nos países desenvolvidos, a tecnologia LCD deixou de ser uma novidade e os televisores transformaram-se em uma commodity, facilmente encontrada nas lojas. Com a recessão econômica mundial, a demanda retraiu-se mais do que o esperado e agora há televisores de sobra - nos Estados Unidos, já é possível comprar aparelhos de LCD de 32 polegadas por US$ 400, ou menos de R$ 1 mil.

 

A situação preocupa os analistas de investimentos que acompanham as empresas de tecnologia na Ásia e nos EUA, levando-os a esperar por novas quedas nos preços, tanto das telas de cristal líquido (matéria-prima dos televisores) quanto dos aparelhos prontos. A corretora CLSA, de Hong Kong, prevê que a produção mundial de LCDs excederá em 13% a demanda em 2009. No terceiro trimestre deste ano, os balanços consolidados de grupos como Samsung, Philips, Sony e LG já trouxeram resultados desalentadores, com fortes quedas na rentabilidade, em grande parte devido à acentuada redução dos preços e ao excesso na oferta de LCDs. 

 

Como a LG e a Samsung produzem elas mesmas as telas - em fábricas na Ásia em que investem bilhões de dólares -, as duas marcas coreanas possuem uma maior vantagem competitiva sobre seus concorrentes e vêm empreendendo uma guerra de preços ao redor do mundo, no Brasil inclusive. A Samsung é hoje a maior fabricante mundial de telas, seguida do braço de painéis da LG, a LG Display. 

 

Com o avanço das duas empresas coreanas, marcas que sempre possuíram forte presença em televisores de tubo (CRT) hoje têm mais dificuldade para manter suas participações de mercado e sentiram o golpe nas margens de lucro. No Brasil, o mercado de TVs de tubo foi dominado por vários anos pela Philips e pela Semp Toshiba. Mas, segundo fontes do setor, com a falta de evolução tecnológica, os preços dos televisores de CRT caíram de tal forma que, apesar de ainda representarem a maior fatia do mercado brasileiro, os aparelhos já dão pouco retorno aos fabricantes. 

 

A Semp Toshiba, controlada pela família Hennel, é uma das poucas indústrias que decidiu manter o foco nos televisores convencionais no Brasil, enquanto a Philips, sua velha rival, entrou na disputa pelo mercado brasileiro de LCDs com a Samsung, LG e Sony. 

 

Até hoje, o tubo resistiu em países em desenvolvimento por ser muito mais barato que a tela fina. No entanto, essa diferença de preços está cada vez menor. Em 2009, se confirmadas as expectativas de novas reduções nos preços das telas de LCD no mundo, a sobrevida do tubo estará ainda mais ameaçada. Na internet, já é possível comprar um televisor de LCD de 19 polegadas da Samsung por R$ 1 mil. Um televisor de tubo de 29 polegadas (tela plana) da Semp Toshiba custa R$ 800 na Americanas.com. 

 

"A queda nos preços das telas LCD é positiva para o Brasil e vai compensar, em parte, a elevação do dólar", afirma José Roberto Campos, vice-presidente da Samsung, que prevê que a migração da demanda dos televisores de tubo para os aparelhos de LCD vai se acelerar no Brasil. Segundo ele, a empresa não mexeu nos preços no mercado brasileiro mesmo com a forte variação cambial neste trimestre. Fontes do setor estimam que o câmbio tenha um impacto direto sobre 90% do custos de produção do LCD. 


O vice-presidente da Philips, Paulo Ferraz, e o gerente da Sony, William Lima, também dizem que as empresas mantiveram os preços dos televisores de LCD, mesmo com a alta do dólar, e prevêem que o consumo continuará crescendo, apesar da crise. 

 

Segundo Ferraz, o ritmo de expansão do mercado brasileiro é hoje uma "música para os ouvidos das matrizes" das grandes multinacionais. Diferentemente dos EUA e da Europa, onde a demanda por LCD já está consolidada e as economias atravessam maus momentos, o mercado brasileiro ostenta taxas de mais de 100% de crescimento. "O Brasil está na contramão (das economias maduras) ", diz Ferraz. 

 

Neste ano, os mais otimistas estimam que o consumo de TVs de LCD alcançará 2,7 milhões de unidades, para um mercado total (incluindo tubo) de 9 milhões de televisores. Em 2009, há expectativas de que o mercado brasileiro total de TVs recue entre 10% e 15%, para 7 ou 8 milhões de aparelhos. Mas as previsões para LCD ainda são positivas. Espera-se que o mercado atinja algo entre 3 milhões e 3,5 milhões no ano que vem. 

 

Campos afirma que o Brasil é visto como um mercado estratégico e prioritário para a Samsung, que investiu neste ano para assumir a liderança em televisores de LCD . "Como nós possuímos uma linha completa, de 19 a 52 polegadas, isso nos dá uma grande vantagem", afirma o executivo. O fato de a empresa ser a maior fabricante de telas do mundo também garante um nível de competitividade maior. 

 

Mas os concorrentes tradicionais, como a Philips e a Sony, estão reagindo ao avanço dos coreanos no mercado de LCDs. Segundo Ferraz, a Philips conquistou participação de mercado neste ano nas telas de 42 e 32 polegadas no Brasil, disputando a liderança nesses nichos. 

 

No mundo, a Philips, com sede na Holanda, enfrenta dificuldades com a sua divisão de televisores, que está passando por custoso processo de reestruturação e prejudicou os resultados da companhia neste ano. A multinacional européia decidiu sair do mercado americano, onde licenciou sua marca para o grupo japonês Funai, vendeu sua fábrica de TVs no México para a Ecoteq e parou de vender aparelhos na Austrália. "Estamos saindo de mercados onde a Philips não tinha uma participação expressiva, como os EUA. Esse não é o caso do Brasil, ou da França, Alemanha e Argentina, onde a posição da Philips é muito forte", afirmou Ferraz. Segundo ele, a multinacional ganha dinheiro no Brasil. 

 

As vendas globais da Philips com a divisão de "life style", que inclui TVs, caíram 8% no terceiro trimestre. O lucro operacional da divisão recuou 45%, para ? 95 milhões, devido a gastos de ? 61 milhões com a reestruturação do negócio de televisores. Os países emergentes foram os únicos locais onde a Philips registrou crescimento nas vendas no terceiro trimestre, de 6%. Nos países "maduros", as vendas caíram 5%. 

 

O terceiro trimestre também não foi positivo para a Sony Electronics. Embora as vendas tenham crescido 0,6%, o lucro operacional foi 40,5% menor em relação a igual período de 2007. Mas, no caso da marca japonesa, o vilão não foi o LCD e sim a divisão de PCs Vaio, cujos preços caíram acentuadamente. A rentabilidade dos televisores de LCD, porém, também preocupa o grupo, que afirmou que adotará "várias medidas de redução de custos para recuperar a lucratividade". A Sony quer conquistar a posição de número 1 no mercado mundial de LCDs até 2010. 

 

A Samsung também amargou uma forte queda, de 46%, no lucro operacional com o negócio de televisores de LCD, embora suas vendas tenham crescido 6% no terceiro trimestre. Os analistas que acompanham as ações da companhias prevêem dias ainda piores diante da recessão econômica mundial. "O colapso repentino nos preços dos painéis de LCD nos preocupa", escreveram analistas do banco Morgan Stanley sobre a Samsung, prevendo um cenário de aterrisagem brusca para a indústria de LCD em 2009. 

 

Veículo: Valor Econômico


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