A comercialização de café no Brasil está atrasada nesta temporada 2012/13
O mês de outubro foi preocupante para o produtor de café, que viu as cotações internacionais caírem mais de 10% nas bolsas tanto para o arábica quanto para o robusta. Na Bolsa de Mercadorias de Nova York (ICE Futures), que baliza as cotações internacionais do arábica, no último dia de outubro os patamares em que o mercado caiu foram os mais baixos em quatro meses.
E mais, Nova York perde o importante suporte de US$ 1,60 a libra-peso (contrato dezembro), com o mercado dando mostras de que pode, sim, testar US$ 1,50 no curto prazo. Afora os famigerados fatores técnicos e gráficos, cujos sinais especuladores e fundos usam para comprar e vender sem tanto "apego" aos fundamentos de oferta e demanda do produto, há importantes razões para esse comportamento. Tanto do lado da oferta, quanto da demanda.
Segundo o analista de Safras & Mercado, Gil Barabach, as notícias de boas floradas no Brasil no final de setembro e em outubro foram decisivas para as perdas no mercado. Essas floradas vão resultar na safra de 2013, que no país será menor dentro do ciclo bienal da cultura. Mesmo menor, as floradas conduziram ao sentimento de que poderá ser uma "grande pequena safra", como indica Barabach. Ou seja, levando-se em consideração a bienalidade, será uma boa produção se as condições climáticas seguirem favoráveis.
Ainda no lado da oferta, o final do ano marca o começo da chegada da safra da América Central, colheita na Colômbia e também entrada do Vietnã com seu robusta. E, ao contrário dos últimos anos, esses importantes países produtores não estão com tantos problemas e devem colher safras consistentes.
Comercialização - Para completar, a comercialização no Brasil está atrasada nesta temporada 2012/13, os produtores estão dosando bem a oferta de uma grande safra e há muito a vender ainda. Estão capitalizados e contam com amplo volume de recursos de financiamentos do governo para estocagem.
O problema é que isso chega aos "ouvidos" dos compradores de uma outra forma neste momento. "Há muito café a negociar e o cafeicultor brasileiro terá de colocar essa oferta no mercado mais cedo ou mais tarde", raciocinam as grandes empresas e também os especuladores e fundos no mercado futuro. Assim, as indústrias têm esperado um momento de maior fluxo comercial do Brasil, ou de outras origens para alongarem posições.
certo que a temporada de frio no Hemisfério Norte está chegando e o consumo cresce, e isso traz natural sustentação ao mercado de café. O problema é que o cenário atual é de crise financeira na Europa e incertezas fortes nos Estados Unidos quanto ao crescimento econômico; o mesmo ocorre quanto à China.
Isso, de acordo com análise de Safras, estimula a cautela nas compras das grandes torrefações e preocupa os investidores no mundo, e em dias mais nervosos há uma corrida para longe das commodities, que são mercados de alto risco, o que deprecia o valor dos produtos.
Todos esses fatores resultaram em um outubro negativo no mercado, e novembro começa muito na mão das origens, de como elas vão se posicionar nas suas vendas, se serão mais agressivas com a entrada de safras e com temores de mais quedas nos preços ou se dosarão a oferta. Quanto ao Brasil, também dependerá da conduta dos produtores nas suas vendas.
O analista de Safras diz que não é o momento para desespero, mas para se aproveitar oportunidades quando os preços sobem lá fora para vender um pouco mais a preço melhor aqui, diluindo as vendas ao longo do tempo.
Veículo: Diário do Comércio - MG