Há dois anos, a Cooperativa dos Pecuaristas, Agricultores e Cafeicultores de Minas Gerais (Copacafé), instalada em Belo Horizonte desde 1978, considerou necessário investir em uma alternativa para enfrentar a típica bienalidade da cafeicultura, que se reflete em uma safra de boa produtividade seguida por outra de rendimento mais baixo.
A estratégia foi aproveitar o fato de o Estado abrigar a maior bacia leiteira do país, com produção anual da ordem de 5,6 bilhões de litros, e partir para a pecuária leiteira. A cooperativa primeiro arrendou um posto de resfriamento situado no município de Bambuí, e depois investiu aproximadamente R$ 2 milhões na aquisição de uma fábrica localizada na cidade de Manhuaçu, na zona da mata mineira.
Agora, a estratégia mudou. Desde meados deste ano, a Copacafé-Leite, como foi batizado o braço de lácteos da cooperativa, deixou de destinar a matéria-prima entregue por 1,2 mil produtores para três grandes laticínios da região e passou a investir em processamento próprio para a fabricação de leite em pó e concentrado. No leite em pó, a produção chega a 8 toneladas por dia, enquanto no concentrado, produto que passa por um processo de desidratação para ter maior durabilidade em comparação ao natural, a capacidade é para 150 mil litros diários.
Segundo o presidente da Copacafé, Flávio Castello Branco, a mudança aconteceu em consequência do cenário difícil para a pecuária leiteira neste ano, prejudicada por uma seca prolongada que deixou as pastagens com má qualidade nutricional. Nesse contexto, os pecuaristas tiveram que recorrer à ração - que, por sua vez, encareceu com a alta do milho e da soja, ingredientes básicos para a alimentação animal. "Mas o pecuarista não conseguiu diluir o custo da produção diante de remunerações tão baixas", afirma ele.
Em outubro passado, o valor do litro alcançou sua melhor cotação média mensal deste ano, R$ 0,80. Mas em meses anteriores, o preço ficou na casa dos R$ 0,60 e R$ 0,70 na média nacional. "Muita gente investiu em rebanho em virtude dos bons preços do ano passado, quando o litro chegou a valer quase R$ 1", observa Castello Branco.
Para se manter distante desse mercado, a Copacafé-Leite planeja outra diversificação em 2013. Já programou investimentos de R$ 10 milhões nas produções de leite longa vida (UHT), leite condensado e em embalagens menores de leite em pó, hoje vendidas apenas em pacotes de 25 quilos para a indústria. No total, Castello Branco espera que a cooperativa produza 100 mil litros diários de leite UHT e processe de 60 mil a 70 mil litros para a fabricação de leite condensado. "Não restam dúvidas que essa decisão é a mais acertada".
Com essa nova virada, o presidente afirma que a fábrica passará a utilizar em breve toda a sua capacidade de 400 mil litros de leite por dia. E não esconde a expectativa de que a unidade de lácteos da cooperativa tenha um dia a mesma importância da cafeicultura, que no ano passado gerou 400 mil sacas de 60 quilos cada de café arábica.
Veículo: Valor Econômico