Fábrica da J&F recebeu R$ 6,2 bilhões em investimentos e saiu no prazo, mas ainda não tem eucalipto próprio para toda a produção
A Eldorado Brasil, projeto de celulose da holding J&F em Três Lagoas (MS), teve suas máquinas acionadas pela primeira vez na semana passada, dois anos após o lançamento da pedra fundamental do empreendimento, que consumiu R$ 6,2 bilhões em investimentos. Mas a unidade, que tem capacidade inicial de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano, enfrenta um desafio: conseguir florestas para alimentar a fábrica em seus primeiros anos de operação.
A empresa afirma que começou a desenvolver seus projetos florestais ainda em 2006, mas admite que não tem madeira suficiente para abastecer a unidade. A ideia da Eldorado – cuja inauguração oficial será em 12 de dezembro – é chegar perto da capacidade total já em 2013, e possivelmente estendê-la para 1,7 milhão de toneladas a partir de 2014.
Mas concorrentes afirmam que conseguir matéria-prima para extrair celulose pode ser um problema, já que não há muita madeira "independente" no mercado, pois as fabricantes compram grandes áreas para evitar a escassez. "Num primeiro momento, terão de trazer madeira de longe", diz um concorrente.
As florestas também são um empecilho diante das ambições futuras da companhia. Segundo o presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich, a empresa prevê triplicar sua capacidade de produção com a construção de duas novas unidades anexas à atual. Isso elevaria a produção para cerca de 5 milhões de toneladas ao ano, o que aproximaria a companhia das atuais líderes de mercado, Fibria e Suzano.
No entanto, Grubisich admite que é impossível triplicar a área plantada com eucaliptos – a empresa contabiliza cerca de 160 mil hectares atualmente – em menos de dez anos. A saída para esse "labirinto", afirma ele, está no investimento pesado em pesquisa e manejo florestal.
Do total de R$ 6,2 bilhões aplicado na construção do projeto Eldorado, R$ 900 milhões foram destinados às florestas. Ao contrário do que faz boa parte da concorrência, a empresa não vai terceirizar a administração de suas áreas de eucalipto. Dos 2,5 mil trabalhadores atualmente envolvidos na Eldorado Brasil, cerca de 1,8 mil trabalharão nas áreas de florestas, de acordo com o executivo.
Para que as outras duas unidades em Três Lagoas saiam do papel, explica Grubisich, o centro de tecnologia florestal criado pela empresa terá de encontrar maneiras de reduzir ainda mais o ciclo do eucalipto. A vantagem competitiva do Brasil no setor está baseada justamente no fato de que as árvores ficam adultas após seis anos, um a menos do que na Europa. Mas a Eldorado acredita que dá para reduzir ainda mais esse prazo.
Entre as alternativas estudadas pela empresa estão variedades que possam ser cortadas em cinco anos e árvores que contenham mais polpa do que as atuais. "Todo o projeto se baseia na lógica de reduzir custos", diz Grubisich.
Veículo: O Estado de S.Paulo