A crise financeira internacional afetou a demanda e as cotações da celulose, mas o novo cenário que irá emergir deve fortalecer ainda mais o Brasil no cenário internacional. Esta é a avaliação feita ontem pelos participaram do "Madeira 2008", evento que reúne representantes da indústria e do segmento de base florestal, realizado em Porto Alegre. O diretor executivo da Unidade de Negócios Florestais da Suzano Papel e Celulose, João Camério, diz que o cenário ainda é nebuloso as tendências só serão claras a partir do primeiro semestre de 2009, mas diz que a empresa já observou uma reação no mercado.
"Houve uma pequena retomada da demanda nos últimos dias", diz Camério, apontando a Ásia como fator desta reação. A empresa, que tem um ambicioso plano de crescimento até 2015, com a construção de três unidades no Nordeste, não revisou os investimentos por entender que os pontos fortes do Brasil na produção de celulose ficarão ainda mais acentuados nos próximos anos. "Após a crise a competitividade do Brasil vai ficar mais nítida, principalmente em relação ao Hemisfério Norte", diz, referindo-se aos baixos custos de produção. A Suzano, que deve fechar o ano com uma produção de 2,8 milhões de toneladas entre papel e celulose, pretende alcançar 7,2 milhões de toneladas até 2015. "As vantagens do Brasil são estruturais, e não transitórias".
Camério mostrou que, enquanto no Brasil o custo de produção de uma tonelada de celulose é de US$ 381 a tonelada, nos EUA supera US$ 530 e, na Finlândia, ultrapassa US$ 700. Baixos custos representam boas margens em ciclos de alta e maior capacidade de resistir a períodos de preços mais baixos.
O vice-presidente da empresa finlandesa de engenharia e consultoria Pöyry Tecnologia, Carlos Alberto Farina, entende que, apesar das incertezas do curto prazo, o consumo de papel-cartão, por exemplo, vai continuar crescendo e passará de 386 milhões de toneladas em 2006 para 500 milhões de toneladas até 2020, demanda puxada principalmente pela Ásia. "Essa crise pode demorar, mas vai depurar a concorrência e disciplinar o aumento da oferta. O Brasil vai sair mais fortalecido", vislumbra.
Enquanto empresas como Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz têm os seus projetos postergados, a sueco-finlandesa Stora Enso enfrenta outros percalços, como a dificuldades para formar a base florestal devido à proibição da aquisição de terras por estrangeiros na chamada Faixa de Fronteira. "Para 2009, precisamos comprar mais terra. Não temos mais estoque", diz o diretor Florestal da Stora Enso, João Borges. A empresa cultivou até agora cerca de 20 mil hectares, 10 mil a menos que o planejado, o que atrasará a fábrica prevista para 2012 em pelo menos três anos.
Veículo: Gazeta Mercantil