Networking interno também é essencial

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Manter uma boa rede de contatos é um dos mandamentos do mundo corporativo. A prática - hoje pomposamente chamada de networking - não é nova. Por trás desses termos está a idéia de que, quanto mais pessoas um profissional conhece, maiores são as suas chances de conseguir uma colocação no mercado. Afinal, a confiança é sempre o ponto de partida para um relacionamento profissional positivo. Basta observar que, na maior parte dos casos, quem está no mercado procura trabalhar com pessoas que já conheça ou cuja competência seja reconhecida. É bom frisar, no entanto, que networking nada tem a ver com favorecimento a amigos. Trata-se de uma relação profissional, uma espécie de ajuda mútua.

 

O diretor financeiro de projetos especiais da norte-americana Laureate Educational no Brasil, Marcelo Moreira, é um exemplo de como os contatos são importantes para a carreira. Ele já atuou como controller do McDonalds no Brasil, como diretor de controladoria do Atlantica Hotel International e foi gerente de auditoria interna e controller da multinacional de alimentos e fertilizantes Bunge.

 

Ele conta que costuma manter uma relação próxima com seus pares, tanto no aspecto profissional quanto no social. Tal postura sempre lhe gerou boas oportunidades, tanto dentro quanto fora da empresa. Sua saída do McDonalds, em setembro de 2000, ocorreu devido a um convite feito por Gregory Ryan, um dos executivos que trouxe a marca para o Brasil. Quando deixou a rede de lanchonetes e abriu o Atlantica Hotel International, Ryan procurou Moreira.

 

A transferência para a Bunge ocorreu de modo semelhante. Em 2001, Moreira recebeu um convite do diretor financeiro mundial da empresa na época, Bill Wells, para trabalhar com ele em Nova York. Wells também havia sido colega de Moreira no McDonalds e só fez o convite a quando soube que o executivo havia deixado a empresa. Porém, Moreira conta que o americano não sabia que ele estava, na época, trabalhando com Ryan, também ex-McDonalds. Para que ninguém saísse prejudicado, os interessando no trabalho de Moreira sentaram para conversar e chegaram à conclusão de que a Bunge representava uma ótima oportunidade para Moreira, principalmente por envolver uma experiência profissional internacional.

 

Todos os convites foram lastreados em uma relação de confiança. Moreira conta que Wells passou por um momento difícil no Brasil, quando assumiu o cargo de diretor financeiro da Bunge no País. "Ele acabou sendo rejeitado na empresa. Tive que ajudá-lo muitas vezes", conta. "Isso acabou mostrando que havia um relacionamento de lealdade entre nós", prossegue.

 

A postura de Moreira lhe traz dividendos até hoje. "Alguns executivos que eram do McDonalds e hoje estão em outras empresas me enviam oportunidades. Alguns dias atrás recebi contatos de um headhunter dos Estados Unidos, por causa de uma indicação de uma pessoa que trabalhava comigo na Bunge em Nova York", completa.

 

Em todas as frentes

 

Segundo Carmelina Nickel, consultora da empresa de gestão do capital humano DBM, construir uma boa rede de contatos é útil não apenas na hora de se buscar uma nova posição no mercado de trabalho, mas também para alcançar objetivos profissionais dentro da empresa em que se atua. Neste caso, trata-se de manter uma rede de contatos e relacionamentos internos.

 

De acordo com a consultora, esse tipo de networking é corriqueiramente esquecido pelos executivos. "Eles fazem contatos com seus pares em outras empresas, participam de palestras, estudos e análises sobre seus mercados, mas esquecem de se relacionar nas próprias companhias em que atuam", comenta Carmelina. "É um erro. É imprescindível alimentar o networking também no ambiente de trabalho, sob a pena de se perder a posição para alguém de fora, apenas porque o cliente interno não o conhecia."Para o executivo interessado em ampliar sua rede de relacionamentos dentro da empresa em que atua, a primeira dica da consultora é abrir espaço na agenda para almoçar com os colegas, sejam eles superiores ou subordinados. Aceitar convites para um cafezinho no meio do expediente também é aconselhável, pois esses encontros podem ajudar a estabelecer alianças, a vender idéias ou até mesmo a encontrar apoio. "Não é perda de tempo fazer ou aceitar os convites. Essa visibilidade pode significar uma promoção, participação em projetos importantes, reconhecimento de competências ou uma transferência de área", garante Carmelina.

 

Mas a construção de uma rede de relacionamentos não acontece do dia para a noite e deve pautar-se na reciprocidade. Para a consultora, é necessário também que todas as oportunidades sejam aproveitadas para o fortalecimento da rede e não apenas as relativas ao âmbito de trabalho. "Atividades culturais e até esportivas podem ser excelentes momentos para testar e ampliar rede de relacionamentos. É importante que essa rede seja construída naturalmente", adiciona. "O networking interno ou externo é um exercício de civilidade. É a construção do tecido social."

 

Contudo, a formação de uma boa rede de relacionamentos não significa a criação de uma personalidade falsa só para conseguir um posto. "É preciso ser muito competente. Só espuma não se sustenta uma carreira por mais de seis meses. Postura é fundamental", afirma. "Numa empresa, quando alguém é um bom profissional, vira referência. Então ele pode parar e ouvir uma pessoa e pode dizer que não tem tempo. Se faz isto uma ou duas vezes, logo é taxado como ‘aquele cara que não se abre’. Mas é possível ter uma outra postura e dizer que tem só 10 minutos e, nesse tempo, ajudar o outro em alguma necessidade", observa.

 

Para manter uma boa relação, é preciso que o executivo esteja permanentemente atento ao modo como lida com as pessoas. "Como você percebe quem está do seu lado? Olhe para o lado, converse com as pessoas. São pequenas coisas, mas muito importantes", adiciona.

 

De acordo com Carmelina, a postura para construir uma rede de relacionamento interno ou externo é a mesma. "Quem sabe se relacionar e desenvolver seus contatos profissionais e pessoais faz isso tanto fora quanto dentro da empresa", ressalta. Segundo a consultora, pelo menos 70% das recolocações de executivos ocorrem por meio da rede de contatos do próprio profissional.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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