Compra por impulso atinge 21,4% das famílias

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Pesquisa da Fecomércio-RJ sobre o mercado da moda revela aumento no consumo de roupas e sapatos.


A mão até coça. O cliente pede para dar uma voltinha a mais no shopping para pensar se a compra é realmente necessária, mas acaba voltando à loja e se rende à tentação. Roupa na sacola - pode ser até parecida com aquela que já tem no armário - e mais uma conta no bolso. O consumo de vestuários por impulso atinge 21,4% das famílias brasileiras, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ sobre o mercado da moda.

De acordo com o levantamento, realizado em outubro deste ano, a relação entre impulsividade e aquisição de roupas e sapatos cresceu na comparação com 2011, quando a fatia de famílias que se enquadrava no hábito ficou em 17,3%. Já em 2010, o prática atingiu 19,4% dos pesquisados.

Na avaliação do economista da Fecomércio-RJ Christian Travassos, comprar por impulso pode estar relacionado ao efeito renda e ao acesso a crédito.

"O movimento que tivemos das classes C e D também aconteceu no cume da pirâmide. Aumentou a parcela de brasileiros com cartão de crédito e também com poder aquisitivo elevado, e isso ajuda a haver um certo relaxamento no ato do consumo", avaliou.

Travassos pondera ainda que o vestuário é um segmento em que o consumidor fica mais suscetível à publicidade. "A agilidade com que a moda passou a ser incorporada no dia a dia da população aumentou, chegando de diversas formas, via internet, e-mail, redes sociais, além de TV e rádio. Vemos roupas que foram destaque em novelas chegarem aos serviços de uma forma impressionantemente ágil na comparação com pouco tempo atrás. Por esses motivos, a questão do impulso está mais presente", disse.

Pesquisas anteriores, segundo Travassos, mostravam que vestuário é o segmento mais citado entre os brasileiros que pedem financiamento.

Para o economista Gilberto Braga, a impulsividade na hora da compra se reflete no endividamento das famílias e na taxa de inadimplência, que chegou a 5,9% em novembro, o maior nível já registrado em toda a série histórica do Banco Central (BC), iniciada em junho de 2000.

"O consumo compulsivo em famílias com orçamento apertado pode ser porta da entrada para o endividamento e calote. A pessoa que tende a ser impulsiva nunca se satisfaz e está sempre comprando, às vezes sem condições de pagar", afirmou.

Entre os pesquisados, 58,3% responderam que consomem para aproveitar a liquidação. "Para presentear alguém" foi a resposta de 44% das famílias e 24,5% afirmaram que compram por que "querem andar sempre na moda".

O preço é o fator que as famílias mais levam em consideração na hora de consumir calçados e roupas (95,1%). Em seguida vem conforto (83,9%) e visual (75,5%). Marca e moda são os que têm menos influência: 42,3% e 41,5%, respectivamente.

Gilberto Braga considerou que os dados da Fecomércio confirmam uma série de outros levantamentos que mostram que os consumidores não sabem com que gastam 20% do seu salário. Segundo ele, a maior parte pode ser atribuída à compra impulsiva. "As pessoas não mensuram bijuteria, lanche, sorvete, cerveja. Esse conjunto de gastos soma aproximadamente 20% do salário mensal. Quando uma pessoa olha o extrato bancário ela não consegue associar o nome da loja ou a razão social a um gasto marcante e relevante que ela tenha feito", explicou Braga.


Nova geração - Segundo ele, outro fator que pode explicar a impulsividade na hora do consumo é a falta de educação financeira. "Nos últimos anos tivemos a incorporação de uma nova geração de consumo que não passou pela inflação alta, que nunca viveu uma verdadeira crise econômica. As pessoas têm uma relação diferente com o dinheiro, falta a educação financeira que existia na época da inflação. De alguma forma, o conceito de valor do dinheiro era mais presente pelas próprias condições de remarcação constante do preço. Com a economia estável, as pessoas tendem a tomar decisões individuais de consumo, sem interferência do ambiente socioeconômico", acrescentou.

Em relação ao responsável pelo consumo de vestuário entre as famílias pesquisadas, as mulheres estão muito na frente dos homens. Em 2012, elas foram responsáveis pela compra de vestuários em 65% das famílias, enquanto a fatia de homens era de apenas 9,2%. O levantamento mostra que o homem vem diminuindo a participação no consumo de roupas e calçados. Em 2011, eles eram os responsáveis em 18,5% desses gastos das famílias e em 2010, em 24,4%.

Ainda de acordo com dados da Fecomércio-RJ, as famílias que desembolsam mais de R$ 400 por mês ao vestuário caiu à metade. Em outubro deste ano, 5,6% das famílias disseram que gastam um valor superior a essa quantia por mês, enquanto em outubro do ano passado, correspondia a 8,1% dos entrevistados. Já o percentual de famílias que destina 50% do orçamento em vestuário aumentou em dez vezes, subindo de 0,1% em outubro do ano passado para 1% em outubro deste ano.

A pesquisa da Fecomércio-RJ ouviu 1 mil brasileiros em todo país entre os dias 20 e 31 de outubro. (AG)



Veículo: Diário do Comércio - MG


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