O carioca Nelson Carneiro, presidente da TP Vision, joint venture entre a chinesa TPV Technologies e a holandesa Philips para a fabricação de televisores, foi um dos poucos brasileiros que tiveram motivos para comemorar durante a Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul. Na época, o executivo comandava a divisão de produtos de consumo da Philips no País, área que incluía o setor de televisores. Ao contrário do técnico Dunga, cujo esquema de jogo não foi capaz de evitar a derrota do time brasileiro para a Holanda nas quartas de final, Carneiro adotou a estratégia correta para o campeonato. Tradicionalmente, os consumidores renovam seus aparelhos a cada quatro anos, justamente para assistir ao evento esportivo.
Trata-se da data mais importante desse mercado. “Mandei trazer tudo de avião para ser o primeiro a chegar com produtos nas lojas”, afirma o executivo. “Acabamos vendendo mais do que todo mundo.” Essa agilidade, que garantiu o sucesso de Carneiro na Copa, é o que vem puxando os negócios da TP Vision, que trabalha com a marca Philips, no Brasil. Desde que iniciou as operações, em abril deste ano, assumindo a problemática divisão de tevês da gigante holandesa, a TP Vision conseguiu reduzir em 57% o seu prejuízo. Ela deverá voltar ao azul em 2014. Além disso, consolidou-se na terceira posição à frente da japonesa Sony e atrás apenas das coreanas Samsung e LG.
Mas o mais importante é que assumiu a segunda colocação na área de tevês com conexão à internet do País, as chamadas smartTVs, segmento que mais cresce atualmente. Antes, era a quinta. No quarto trimestre deste ano, o Brasil ainda deve ultrapassar a Alemanha e se tornar o maior mercado da TP Vision no mundo, em número de unidades vendidas. O cenário atual é bem diferente do que se projetava em abril do ano passado, quando a joint venture (a TPV Technologies detém 70% do capital, ficando o restante com a Philips) foi anunciada. Eram tempos difíceis para os televisores Philips. A companhia, que fabricou seu primeiro aparelho de tevê em 1928 e chegou a ser líder mundial de mercado, vinha perdendo participação para Samsung e LG.
A importância do segmento para a corporação também estava em queda. As tevês representaram menos de 12% de suas receitas totais em 2011, ante 25% cinco anos antes. Segundo Carneiro, o que prejudicava a Philips era o fato de não atuar em toda a cadeia produtiva, como acontece com os asiáticos. No caso, ele se refere à fabricação dos painéis de LED e LCD, justamente o maior negócio da TP V e um mercado liderado por Samsung e LG. A liberdade para tomar decisões rapidamente é apontada por Carneiro como outro grande benefício de não fazer mais parte da gigante holandesa. “Nosso mercado possui margens muito baixas, de menos de 2%”, afirma.
“É melhor tomar uma decisão logo, mesmo que precise voltar atrás, do que demorar.” O atual portfólio da companhia serve de exemplo de como essa rapidez pode ajudar no negócio. Quase a totalidade dos modelos vendidos pela TP Vision possui tela de LED e se conecta à internet. Trata-se de um importante diferencial competitivo, uma vez que são esses os tipos de aparelhos que mais vendem no Brasil, segundo dados da empresa americana de pesquisas GFK. De janeiro a outubro deste ano, enquanto as vendas de tevês de LED cresceram 76%, ante o mesmo período do ano passado, as de LCD tiveram uma queda de 8%.
Já as smartTVs representaram 25% do total comercializado, porcentual que era de 21% um ano antes. Essas duas tecnologias, segundo a diretora da GFK Gisela Pougy, vão ditar o crescimento do mercado de televisores no Brasil até a Copa do Mundo de 2014. “Ainda tem muita gente que vai trocar as antigas tevês de tubo por tecnologias mais modernas”, afirma Gisela. “A maioria deve optar por uma tevê de LED.” A estratégia de Carneiro, mais uma vez, é se adiantar à concorrência. “Precisamos ser mais rápidos que os concorrentes, porque em quatro anos tudo pode mudar”, afirma Carneiro. “E ninguém trabalha para ficar em terceiro.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro