O presidente do conselho de administração do grupo: crise na Europa faz empresa voltar-se para China e Brasil
Com 85% dos € 4 bilhões em negócios da Barilla localizados em economias de crescimento lento, na Europa, e a maior parte do restante, nos Estados Unidos, vender massas aos consumidores asiáticos tornou-se prioridade para a maior produtora de massas do mundo, em receita.
"É extremamente importante que redesenhemos alguns produtos para que sejam usados na 'wok'", diz Barilla em entrevista.
Ele espera que suas equipes de pesquisa, no norte da Itália, elaborem produtos para o consumidor chinês no Ano-Novo.
"Estamos criando uma massa para a 'wok' que tem o mesmo gosto, mas a tecnologia por trás é completamente diferente".
Globalizar as massas é o mantra do grupo sob o comando de Barilla, da quarta geração da família que comanda a empresa desde sua fundação em 1877, em uma loja de pão e massas em Parma.
A Barilla tem 42 fábricas e vende suas massas, pães e outros produtos de padaria em cem países.
Depois de vários anos expandindo-se no setor de panificação, biscoitos e tortas - incluindo a imprudente aquisição da empresa panificadora alemã Kamps, em 2002, que levou a uma baixa contábil de 1 bilhão -, empresa está voltando a suas raízes.
A mudança na estratégia ocorre em plena crise econômica da Europa, que leva as famílias a cortar gastos em quase tudo, a não ser em produtos básicos.
Em meio a esse recuo, analistas consideram que uma empresa como a Barilla, cujo foco é voltado a alimentos básicos, como as massas, poderia ter uma oportunidade para elevar as vendas.
Guido Barilla, formado em filosofia, diz que as pesquisas feitas pelo Centro Barilla de Alimentos e Nutrição, mantido por sua família, também chegaram à conclusão de que investir em massas tem outra vantagem para os tempos mais difíceis.
As massas beneficiam não apenas os negócios, mas também o ambiente: seu custo de produção é menor; gasta menos energia e água; e é mais barata para os consumidores do que, por exemplo, a carne.
"Descobrimos que a proteção ambiental e a saúde das pessoas podem ser buscadas da mesma forma", diz Guido, fã de esportes e que diz não poder ficar um dia sem um prato de massa e um bom copo de [vinho] Lambrusco.
A mudança na agenda da Barilla também incluiu mudar a composição do comando.
Há dois meses, o grupo contratou Claudio Colzana, da Unilever, como executivo-chefe. Colzani, que durante seus 20 anos na multinacional de bens de consumo também comandou a Unilever Bestfoofs, no Brasil, diz que a receita da Barilla não deverá crescer neste ano, mas prevê que vai chegar a "cerca de € 6 bilhões a € 7 bilhões" em 2017, à medida que o foco da empresa seja reajustado para massas e molhos para massas.
Ele acredita que os novos mercados vão representar de 15 % a 20% desse total.
Além de cuidar da entrada na China, onde a Barilla testa novos produtos, Colzani vê oportunidades para a empresa na América Latina, com a venda dos produtos básicos da dieta mediterrânea.
O Brasil, que vem sofrendo cada vez mais com a obesidade, é um alvo e a empresa poderia promover investimentos significativos no país, excedendo o orçamento anual habitual, de € 150 milhões.
Paralelamente, em meio ao declínio das vendas de massas nos Estados Unidos, onde o grupo obtém 10% da receita, a Barilla pretende reapresentar as massas aos consumidores dos Estados Unidos, com a abertura de restaurantes, começando com três inaugurações em Nova York.
É uma maneira de voltar a familiarizar os consumidores dos EUA com a "cultura da dieta mediterrânea", diz Colzani.
O executivo-chefe admite que fortalecer a marca Barilla é vital, uma vez que as marcas próprias continuam arrebatando vendas de massas e molhos e que os preços dos insumos para o grupo italiano aumentam de 3% a 4% por ano.
Até agora, a Barilla não aumentou o preço de seus produtos. Conseguiu absorver custos adicionais de € 100 milhões nos últimos quatro anos, tornando seus processos mais dinâmicos. Guido Barilla vê essa flexibilidade financeira como uma vantagem do capitalismo familiar italiano.
De fato, enquanto outras empresas voltam as costas aos investimentos na Itália, em meio à adoção de programas de austeridade e ao menor índice de confiança dos consumidores em quase 20 anos, a Barilla gastou 40 milhões na abertura de uma fábrica de molhos perto de Parma, onde produzirá seus produtos "Made in Italy" para os consumidores na China e Brasil.
Guido Barilla diz que investir é o único caminho para a Itália seguir adiante. "Precisamos recuperar a confiança. Essa é a grande tarefa para o futuro"
Veículo: Valor Econômico