Entrevista com o Presidente da Whirlpool Latin América: 'Não adianta baixar IPI de produto ruim'

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Presidente de fabricante de eletrodomésticos diz que prorrogação do corte do IPI vai premiar quem investe em tecnologia


João Carlos Costa Brega, presidente da Whirlpool Latin America, fabricante de fogões, geladeiras e máquinas de lavar, se diz satisfeito com a prorrogação do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) até o final de junho de 2013, porém com alíquotas maiores do que as atuais para a maioria dos produtos a partir de fevereiro. "O governo condicionou a prorrogação da redução do IPI aos produtos com maior eficiência energética. Isso vai premiar as empresas que investem em tecnologia e o consumidor."

Desde abril no comando da maior empresa de eletrodomésticos do País, dona das marcas Brastemp e Consul e de um faturamento de R$ 4,6 bilhões até setembro, Brega diz que a indústria de eletrodomésticos está fazendo a sua parte para ampliar as vendas. "Não adianta baixar IPI de produto ruim", ressalta. Só neste ano a companhia lançou mais de 140 produtos, número recorde. Segundo ele, os preços dos eletrodomésticos caíram não só pelo corte do imposto, mas também por causa dos avanços tecnológicos.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o senhor avalia a prorrogação do corte do IPI com alíquotas maiores do que as atuais a partir de fevereiro, exceto para máquinas de lavar?

A minha avaliação é muito positiva porque o governo condicionou a prorrogação da redução do imposto aos produtos com maior eficiência energética. Isso vai premiar as empresas que investem em tecnologia e o consumidor. Apesar de alíquota aumentar em relação à atual para vários produtos, exceto máquinas de lavar, ela será menor do que as alíquotas originais.

Os planos de investimento e o emprego serão mantidos?

Temos 14 mil trabalhadores nas três fábricas de eletrodomésticos. Nada muda. Quando decidimos fazer um investimento, estamos olhando o mercado no longo prazo, não para o mês seguinte.

Quais foram os impactos da última rodada de corte do IPI que começou no fim de 2011?

De novembro de 2011 a novembro deste ano, só a Whirlpool gerou 2 mil empregos. Vamos aumentar a capacidade de produção de refrigeradores de duas portas em 10% na fábrica de Joinville (SC). Essa ampliação, que estará concluída em agosto de 2013, vai gerar mais 500 postos de trabalho. Sem dúvida, o ano de 2012 foi bom para a linha branca por dois fatores primordiais. O primeiro, que não dá para negar, foi a redução do IPI - se reduz o IPI porque ele é muito alto. Aliás, como carga tributária, se for analisada toda a cadeia, incluindo contribuições, encargos, impostos diretos e indiretos, depois do fumo, o setor mais taxado no Brasil é a linha branca. Mais do que bebida, supera 70%. Por isso é que o governo faz essa desoneração. Mas também nós estamos fazendo a lição de casa, investindo em tecnologia, inovação e novos produtos para atrair o consumidor e incentivar a troca do eletrodoméstico. O investimento em inovação é o segundo fator.

Em quanto foram ampliadas as vendas com o último corte do IPI?

O mercado está crescendo em unidades acima de 10%, ano contra ano. Nós temos acompanhado esse crescimento e não temos perdido participação.

Há economistas e críticos do governo que dizem que essa fórmula de expandir o PIB (Produto Interno Bruto) via consumo está esgotada. Como o senhor avalia isso?

Eu não compartilho dessa avaliação. Acho que primeiro é preciso ter demanda para pensar em alguma coisa. Mais de 90% dos lares têm geladeira e fogão, mas a idade média desse parque de eletrodomésticos é elevada. Já foi superior a dez anos. Hoje está um pouco abaixo de dez anos, mas continua elevada. Entendemos que, por meio de tecnologia e inovação, vamos fazer essa renovação. No caso de máquinas de lavar roupa, metade dos lares tem esse eletrodoméstico, menos de 6% deles têm lava-louça. Há espaço para crescer por meio da substituição de produtos antigos e pela compra dos consumidores entrantes no mercado de eletrodomésticos da linha branca.

Como tem sido a discussão do governo com a indústria de eletrodomésticos?

Quero deixar claro: não sou de nenhum partido político, mas este governo dialoga com a indústria. Isso não significa que ele faça o que a indústria pede. Temos mostrado para o governo que gostaríamos que o corte do IPI fosse permanente, baseado no índice de nacionalização dos produtos e no consumo de energia. Queremos uma redução estrutural, semelhante ao novo programa automotivo, que privilegie quem produz no País com tecnologia. Isso não é nada diferente do que existe em outros países, como nos Estados Unidos, na China e em países da Europa.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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