Insisto, logo existo
Com ação cotada a R$ 0,02, a Tectoy tenta se reerguer no mercado de tecnologia com tablets para crianças e artigos para bebês.
Com design visionário, que lembraria anos mais tarde o de um notebook, o minicomputador Pense Bem foi um sucesso estrondoso da Tectoy, no final dos anos 1980, até começo dos 1990. “O primeiro contato da criança com a informática desenvolve o raciocínio numa divertida brincadeira”, dizia o anúncio do aparelho, um dos primeiros lançados pela Tectoy. Na época, a empresa se beneficiava da reserva de mercado criada no final da ditadura militar. A chamada política nacional de informática, de 1984, impediu que multinacionais de ponta viessem ao Brasil, cabendo a indústrias nacionais, como a Tectoy, desenvolver inovação própria ou fazer acordos com as estrangeiras barradas.
A Tectoy se aliou à japonesa Sega, dona do videogame Master System e de personagens populares como Sonic, o porco-espinho azul. O produto foi um enorme sucesso. No entanto, em 1992, a lei protecionista expirou. O Brasil se abriu à chegada de gigantes do segmento. A tecnologia do Pense Bem não se renovou e o produto passou a ser visto como uma relíquia cult que divertiu crianças da época. Para piorar a situação, a Sega passou a ter problemas no mercado internacional. O console Saturn enfrentou a concorrência do poderoso Playstation, da Sony, além da tradicional arqui-inimiga Nintendo com o Nintendo 64. O último videogame da empresa parceira da Tectoy seria o Dreamcast, sucesso de crítica, mas não de público.
A Tectoy, no entanto, nunca desistiu e fez diversas tentativas para voltar. Na década seguinte, a Tectoy enfocou sua estratégia comercial nos aparelhos de DVD e karaokê. Houve também erros estratégicos nos produtos de ponta da empresa. Em pleno 2010, época em que os televisores de plasma e LCD se disseminaram com força, a empresa, numa recaída nostálgica, lançou tevês de tubo. Antes disso, em 2009, a companhia, que opera uma fábrica na Zona Franca de Manaus, chegou a voltar a apostar em videogames, numa parceria com a fabricante de chips americana Qualcomm, para a fabricação do Zeebo. O grande diferencial era que a plataforma não usava mídias físicas.
Os títulos só podiam ser adquiridos através de uma rede wi-fi. “Pirataria é um grande problema no Brasil”, disse Sérgio Bastos, CEO da Tectoy desde julho deste ano. O console não pegou e a rede sem fio de jogos foi desativada em 2011. Além desse mico, a Tectoy, que disputa com a depauperada Gradiente o troféu resistência, se transformou em motivo de chacota entre os jogadores por insistir até hoje no velho Master System. “O produto serve como primeiro videogame para as crianças”, diz Bastos. Para reerguer a empresa, que hoje tem sua ação oscilando entre R$ 0,02 e R$ 0,06 na Bolsa de Valores, Bastos aposta no lançamento de tablets para crianças.
O principal trunfo do Magic Tablet é uma parceria com a Disney e o conteúdo infantil derivado da marca do Mickey, como wallpapers, jogos e capas personalizadas. Bastos também aposta em produtos para bebês, em parceria com a americana Fisher-Price. Já estão disponíveis esterilizador de escovas de dente e umidificador de ar ultrasônico. Em ambos os produtos, Mickey toma o lugar que um dia foi do porco-espinho Sonic e passa a ser o principal promotor de vendas. A aposta para o ano que vem é ampliar esse segmento com sete novos produtos. “A Tectoy busca diversificação”, diz Bastos. “Vemos uma janela de oportunidade agora.”
Veículo: Revista Isto É Dinheiro