Produtos motivam inadimplência
Comprar roupas e eletrodomésticos tem levado os nomes de muitos consumidores para a lista do Serviço de Proteção do Crédito (SPC) da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). Esses produtos foram a principal causa de inadimplência na cidade em 2012, segundo pesquisa da CDL, e evidenciam a falta de planejamento e a desorganização da vida financeira das famílias, principalmente daquelas com renda entre R$ 1.380 e R$ 2.200. Até o ano passado, o desemprego e as compras feitas para terceiros eram apontados pelos inadimplentes como as maiores razões para os atraso no pagamento de bens adquiridos a prazo.
"Este grupo não tinha acesso ao crédito, o que só está acontecendo agora com as medidas adotadas pelo governo. Mas eles compram de maneira desorganizada, muitas vezes usando dois ou três cartões de crédito e acabam não conseguindo cumprir com todos os compromissos assumidos", explica Ana Paula Bastos, economista da CDL/BH. O número de registros junto ao SPC da CDL/BH apresentou em novembro, em relação a outubro, aumento de 12,99%. Na comparação com novembro de 2011 o crescimento foi de 10,2% e, no acumulado do ano, de 2,38%.
A pesquisa revela que 21,65% dos consumidores entrevistados ficaram inadimplentes porque não conseguiram quitar as parcelas da compra de eletrodomésticos. Isto explica, em parte, porque 54% dos inadimplentes são do sexo masculino. "São os homens que em geral pagam os eletrodomésticos e os bens de maior valor agregado, porque eles ainda ganham mais do que as mulheres", afirma a economista. O perfil do inadimplente também mostra que 30,5% dos devedores têm idade entre 41 e 50 anos; 45,5% são solteiros; 34,57% têm renda entre R$ 1.376 e R$ 2.200; 50% trabalham com carteira assinada e 57% têm o 2º grau.
Abaixo dos eletrodomésticos no ranking da inadimplência estão as roupas, produtos que levaram os nomes de 15,98% dos consumidores para o SPC. Depois estão "outros", que incluem motocicletas, casamento, óculos, viagens e oficinas (segundo 12,89% dos entrevistados); eletrônicos (9,79%); financiamento de carro (8,76%); ajuda à família (5,67%); móveis (5,15%); calçados (4,64%); empréstimos em bancos e financeiras (4,12%); alimentos e bebidas (4,12%); reforma do imóvel (3,09%); escola/faculdade (1,55%); cama, mesa e banho (1,03%), perfumaria (0,52%); brinquedos (0,52%) e financiamento da casa (0,52%).
Por outro lado, lembra Ana Paula Bastos, o aumento da inadimplência em novembro já era esperado, pois os próprios comerciantes, estimulados pela entrada do décimo terceiro salário, aumentam o número de registros no SPC durante este período, cientes de que muitas pessoas vão priorizar a quitação de débitos. "A inadimplência está diretamente vinculada ao consumo, ela vai começar a subir nos três primeiros meses do ano, como conseqüência das compras de Natal, para voltar a se acomodar somente em abril", prevê. Para o lojista que quiser evitar dores de cabeça, a economista sugere a consulta ao SPC antes de realizar vendas a prazo, além da manutenção de um cadastro atualizado de clientes.
Planejamento - A pesquisa da CDL também indica que a principal causa de inadimplência em BH em 2012 foi a falta de planejamento, motivo apontado por 29,7% dos consumidores entrevistados para deixarem de pagar seus compromissos. Em seguida estão: desemprego (17,67%), compra para terceiros (8,65%), menor rendimento (8,27%), doença/falecimento (4,89%), má fé (4,89%), esqueceu de pagar a dívida (4,51%), discorda dos valores e por isso não efetuou o pagamento (4,14%), atraso do salário (3,38%), problemas com o credor (3,38%), empréstimos (2,63%), outros que incluem afastamento do emprego e roubo (2,63%), priorizou outras contas (1,5%), uso excessivo do crédito (1,13%), falta de tempo/esquecimento (1,13%), não recebeu a fatura/carnê (0,75%), empréstimo consignado (0,38%) e perdeu os documentos necessários para o pagamento (0,38%).
A maioria dos consumidores, 88,83%, utiliza o crédito para consumo. Em seguida estão: financiamento de veículos (6,15%), financiamento de habitação (3,35%) e empréstimos para terceiros (1,68%). Na hora de pagar as dívidas, os consumidores priorizam as de maior valor primeiro (41,03% dos entrevistados). Serviços essenciais como água, luz e telefone vêm em segundo lugar segundo 22,56% dos consumidores. Em seguida estão: as de menor valor (14,87%), as que vencem primeiro (14,36%) e dívidas no cartão de crédito (7,18%).
Veículo: Diário do Comércio - SP