Alta do dólar capitaliza lojas e reduz estoques

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A alta do dólar nos últimos meses está capitalizando o comércio. O varejo de importados aproveitou os baixos custos da moeda norte-americana de maio a agosto deste ano, quando o dólar estava em cerca de R$ 1,70, para antecipar as compras de Natal. Agora, esses produtos, que já estavam estocados, estão sendo vendidos pelo dólar do dia (R$ 2,35, no fechamento de ontem), e algumas lojas estão mudando os preços conforme a cotação.

 

Para o empresário e ex-diretor executivo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) Emerson Kapaz, "alguns lojistas estão vendendo os produtos adquiridos com a cotação do dólar em baixa por valores mais altos prevendo um custo maior no momento da reposição do estoque, visando o equilíbrio em relação a um custo adicional na compra".

 

Ele ressalta que a questão é saber se este varejista está conseguindo vender igual ao concorrente, que pode não estar adotando esta estratégia, pois o consumidor também já busca os itens mais baratos. "Entretanto, alguns setores como o de automóvel e informática adotaram a tática de enfatizar o dólar a US$ 1,70, por exemplo, para aumentar o volume de vendas", disse.

 

Esse equilíbrio ressaltado por Kapaz traz também outra questão, de certa forma, preocupante. Se o dólar continuar a subir, as lojas que comercializam produtos importados podem começar o próximo ano com baixo estoque de produtos. Segundo apurou o DCI, importadores, supermercadistas e lojas de brinquedos frearam os pedidos e afirmam esperar a estabilização do câmbio para fazer a renovação dos estoques.

 

Apesar de acreditarem que o Natal será bom para as vendas, eles estimam que, no ano que vem, o mercado deverá desaquecer. No caso do varejo popular, por exemplo, as empresas almejam crescimento de 7% nas vendas de itens importados neste ano, mas apenas 3% em 2009.

 

De acordo com Gustavo Dedevits, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Populares (Abipp), os estoques para o ano que vem estarão baixos. "Estamos em uma praia e vemos a onda lá em baixo, não sabemos se é de surfe ou um tsunami que nos arrebentará. Apenas um dólar no patamar de R$ 2,00 estaria bom", avalia.

 

"Ninguém quer comprar agora. Todos vão esperar o começo do ano e a taxa de câmbio. Não tem como adiantar as importações", disse. Ele reforça que o pagamento das primeiras parcelas das compras dentro da Abipp já foi feito. "Em outubro, novembro e dezembro são efetuados os pagamentos. O ideal é vender tudo para capitalizar." Segundo o presidente, os 23 associados da Abipp distribuem os produtos a 55 mil pontos, em todo Brasil.

 

Para ele, este mercado é necessário à economia, pois corresponde a cerca de 30% do comércio em geral e atende as classes C, D e E. "Todos têm o direito de consumir. O que custa US$ 10 vai continuar a custar o mesmo, mas o consumidor, ao invés de pagar R$ 17, pagará R$ 23", disse.

 

Synesio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos alerta de que em 2009 os importados devem subir de preço e os estoques do varejo devem ficar baixos. "Não é muito problema, pois varejo e atacado vendem 30% no primeiro semestre e o restante no Dia da Criança e no Natal".

 

Alexandre Navarro, diretor da loja Navarro, especializada em bonés e óculos, e um dos diretores da União dos Lojistas da 25 de Março, diz ter mercadoria suficiente para começar o ano, assim como os outros lojistas, e que a alta do dólar não prejudica o fim do ano.

 

"A região da 25 [de Março] não tem um estoque apenas para reposição rápida, como acontece no comércio em geral, mas, um estoque que atenda à necessidade para o varejo." Quanto a repor estoque para 2009, o diretor é enfático: "Nem acabou o ano e boa parte dos comerciantes locais querem viajar ao exterior para renovar o estoque. Viajamos para a China em maio para receber as mercadorias até outubro."

 

2009

 

Na avaliação de Alexandre Andrade, especialista em varejo da Tendências Consultoria, os preços devem variar ao longo do ano por causa da taxa de câmbio. Ele prevê, para dezembro de 2009, um dólar a R$ 2, mas acredita que a moeda estrangeira deve flutuar em torno dos R$ 2,15 durante o ano. "À medida que a turbulência passa, o câmbio se acomoda."

 

Para ele, o crescimento do varejo deve ficar na casa de 9,3% este ano e de 5,2% em 2009. "O mercado estava acelerado e vai desacelerar mais do que o previsto: preços devem subir", completou.

 

Supermercados

 

Frederico Turolla, do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), acredita que há uma tendência de os supermercados se voltarem ao mercado nacional, "contudo, isso deve acontecer a mais longo prazo, creio que depois do vencimento de contratos atuais". Para ele, os consumidores também têm a mesma tendência, de optar por similares.

 

Nas redes de supermercados Sonda e Pão de Açúcar, as realidades divergem quanto a estoques de produtos importados e reposição de estoque. No primeiro, de acordo com Roberto Moreno, diretor financeiro do Sonda Supermercados, os preços de importação aumentaram. "No ano passado era mais barato importar um bolo congelado dos EUA que comprá-lo no Brasil. Hoje a realidade não é a mesma: preferimos comprar de grandes importadores a fazer a importação. Itens como queijos e vinhos vendem muito nesta época."

 

Do lado do Grupo Pão de Açúcar, os produtos importados, como bacalhau, não sofreram impacto no preço final. A rede informou que "as negociações foram feitas antecipadamente, seguindo a programação prevista e sem necessidade de repasse ao consumidor". A rede destaca que alguns itens já chegaram em setembro, mas não revela a que preço de dólar foram fechadas as negociações, nem quando renovará os estoques. "A empresa tem R$ 1,4 bilhão em caixa e analisará as oportunidades para agregar cada vez mais valor ao negócio", disse.

 

A alta do dólar dos últimos meses capitaliza o comércio. O varejo de importados, que aproveitou os baixos custos da moeda norte-americana entre maio e agosto deste ano, quando o dólar era cotado em média a R$ 1,70, para antecipar as compras de Natal. Agora, esses produtos, que já estavam estocados, estão sendo vendidos pelo dólar do dia (R$ 2,35, no fechamento de ontem), e algumas lojas estão mudando os preços a cada manhã conforme a cotação.

 

Para o empresário e ex-diretor executivo do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), Emerson Kapaz, "alguns lojistas estão vendendo os produtos adquiridos com a cotação do dólar em baixa por valores mais altos, prevendo um custo maior no momento da reposição do estoque no próximo ano". Com isso, se o dólar, que ontem caiu mais de 3%, voltar a subir, as lojas de importados podem começar o próximo ano com baixos estoques.

 

Importadores, supermercadistas e lojas de brinquedos frearam os pedidos e afirmam esperar a estabilização do câmbio para renovar os estoques. O comércio havia encerrado as compras para o fim do ano em setembro, com a possibilidade de voltar a fazer pedidos para o Natal caso o Dia da Criança movimentasse acima do esperado. Como, por causa da crise, isso não aconteceu, os estoques foram mantidos.

 

Apesar de acreditarem que o Natal será bom para as vendas, as varejistas estimam que, no ano que vem, o mercado deverá desaquecer. No caso do varejo popular, por exemplo, as empresas almejam crescimento de 7% nas vendas de itens importados neste ano, mas apenas 3% em 2009.

 

Veículo: DCI


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