Comércio reduz estoques e já faz pedidos à indústria

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Com menor sobra de mercadorias depois do Natal, redes varejistas fazem encomendas, o que deve acelerar a produção no 1º trimestre


Mesmo com a forte campanha de liquidações na praça, grandes redes varejistas iniciaram este ano com estoques mais ajustados do que no início de 2012. Essa sobra menor de produtos pode indicar um primeiro trimestre mais ativo para a indústria. No começo de 2012, os fabricantes ficaram em compasso de espera aguardando novos pedidos do varejo até meados de março.

"Na virada para 2012 sobrou mais produto. Neste ano, o nosso planejamento foi mais ajustado", afirma Jorge Faiçal, diretor de Operações da rede de hipermercados Extra, do Grupo Pão de Açúcar. Ele conta que já começou a colocar pedidos para a indústria, especialmente no setor de alimentos. "No ano passado, sobrou tanto chester que tivemos de reduzir as compras de frango, que voltaram ao ritmo normal só em fevereiro", lembra o executivo.

Chocolates, console de games, telefonia celular, tablets, ventiladores e aparelhos de ar condicionado são exemplos de produtos que tiveram pedidos colocados às indústrias no início deste ano, diz Faiçal.

Movimento semelhante ocorre no concorrente Walmart. "Já começamos a fazer encomendas para as indústrias", diz Alain Benvenuti, vice-presidente Comercial da rede com 550 lojas espalhadas pelo País. Ele observa que, além de a gestão de estoques neste ano estar mais afinada com o ritmo de vendas, o calendário favoreceu o comércio. Como o Natal e o Ano Novo caíram numa terça-feira, o consumidor teve um fim de semana prolongado para ir às compras, ao contrário do que ocorreu no mesmo período do ano passado.

Dados de duas entidades representativas do comércio varejista indicam que as lojas viraram o ano com estoques mais enxutos. Pesquisa qualitativa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) com 6 mil empresas do comércio de todas as capitais do País mostra que, em dezembro do ano passado, 66% das companhias informaram ter estoques adequados. Em dezembro de 2011, esse resultado era um pouco menor: 64,2%. Fábio Bentes, economista da CNC, atribui esse resultado ao desempenho favorável das vendas de Natal, que nas contas da entidade deve ter crescido entre 7% e 7,5%, e ao fato de os varejistas terem feito programações de compras mais adequadas à realidade das vendas.

Sondagens realizadas pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) com cerca de 200 empresas do segmentos de bens duráveis e semiduráveis nos períodos pré e pós Natal indicaram que a maioria das companhias informou ter estoques adequados. "Estoque mais adequado pode significar a colocação mais rápida de novos pedidos à indústria", observa o assessor econômico da Fecomércio-SP, Fábio Pina.

Além de o estoque do comércio estar mais ajustado, Pina acrescenta dois fatores que, na sua opinião, devem impulsionar os pedidos às indústria neste início de ano. O primeiro, que já ocorre nos últimos anos é o fato de o salário mínimo reajustado entrar em vigor no dia 1º de janeiro. "Isso antecipa uma demanda extra que anteriormente ocorria em maio", diz. O segundo fator que beneficia a indústria nacional é o câmbio. No ano passado, o dólar valia cerca de R$ 1,60 e agora está na faixa de R$ 2,10. "Isso favorece o mix de produtos nacionais em detrimento dos importados", diz.

Liquidação. Diante do grande número de liquidações anunciadas, com descontos que chegam a 70% sobre o preço de etiqueta, a impressão que se tem é que há uma grande sobra de produtos de Natal. Pelo menos seis redes varejistas - Walmart, Extra, Carrefour, Casas Bahia, Ponto Frio e Camicado - iniciaram liquidações. Os descontos máximos oferecidos variam entre 50% e 70%. De acordo com as redes, parte das ofertas são saldos de Natal e a outra parcela é de mercadoria especialmente negociada com a indústria para liquidação.

"Liquidação após o Natal sempre vai ter, mas neste ano não sobrou muito estoque porque ninguém estava tão otimista", diz o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri.

Os números de vendas da associação confirmam esse desempenho. O volume de compras em dezembro cresceu 3% em comparação com o mesmo mês do ano passado e os negócios foram puxados pelo pagamento à vista, que subiram 6% no período.

Já as compras financiadas ficaram praticamente estáveis (0,1%) nas mesmas bases de comparação. Segundo Alfieri, o fato de o consumidor ter evitado novos financiamentos indica que o risco de inadimplência, que geralmente cresce no fim do primeiro trimestre, neste ano poderá ser menor.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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