Comércio popular é afetado por concorrência

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A falta de infraestrutura -que é um dos principais gargalos da economia brasileira, e que tem recebido uma maior atenção do governo federal-, além de atrapalhar o crescimento da indústria e do setor de serviços, tem afetado o varejo. Prova disso é o comércio popular de São Paulo, que é considerado o mais importante do País mas vem perdendo espaço para shopping centers e para polos atacadistas, mais bem estruturados, localizados em outros estados brasileiros.

Segundo entidades ligadas às regiões do Bom Retiro, do Brás e da 25 de Março, todas localizadas no centro de São Paulo e que recebem compradores de todo o País, mesmo com a grande circulação de pessoas nesses locais - que vão em busca de preços mais atrativos na hora de fazer suas compras -, 2012 foi um período de vendas muito abaixo do que era esperado pelos empresários das três regiões.

Para a Câmara dos Dirigentes Lojistas do Bom Retiro (CDL-Bom Retiro) a concorrência de outros polos atacadistas -que proporcionam maior comodidade aos empresários, com estacionamento e espaços para alimentação, entre outras facilidades - foi um dos entraves à região do Bom Retiro. "Tivemos um aumento da concorrência, em especial dos polos atacadistas de outros estados, como o polo de Maringá, por exemplo", enfatizou Kelly Cristina Lopes, secretária-executiva da CDL.

A região do Bom Retiro - da qual fazem parte as lojas da Rua José Paulino - é composta atualmente por 1.600 pontos de venda, dos quais 80% são empresas atacadistas, e outros 20%, varejistas. Responsável pela movimentação anual de R$ 3 bilhões na economia brasileira, a região fechou 2012 muito aquém do esperado. "No começo do ano esperávamos uma expansão de 6% a 8%, mas, ao que tudo indica, chegaremos apenas a 5%", disse Kelly, em entrevista exclusiva ao DCI. No ano passado, o índice de crescimento atingiu cerca de 8%.

Ainda segundo Kelly, era esperada pelos lojistas da região uma recuperação com as vendas de Dia das Mães -a segunda melhor data sazonal do varejo-, mas isso não ocorreu. "Foi um ano complicado", disse ela.

Questionada sobre outros fatores que prejudicaram as vendas da região, a porta-voz do Bom Retiro afirmou que, por terem como foco principal o atacado, o maior gargalo que tem impactado negativamente a região são as questões relacionadas à infraestrutura. "Não temos espaço para atender os compradores de outros estados, pois a região não possui estacionamento para ônibus. Temos apenas uma rua, autorizada a atuar como estacionamento pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Isso não é suficiente para atender de forma profissionalizada o consumidor e os lojistas que por aqui circulam", enfatizou ela, e completou: "Os produtos importados [uma das grandes queixas dos empresários do setor], bem mais baratos que os nacionais, também ajudaram nesse crescimento menor".

Brás

Também reconhecido pela grande variedade de produtos e por preços mais baixos que os dos shoppings centers, a região do Brás, ao contrário do Bom Retiro, tem como foco de atuação o consumidor final. Com mais de 6 mil pontos de venda -dos quais 20% são do atacado, 20%, do varejo, e 60%, atacarejo-, a região também sofre de infraestrutura falha.

Os lojistas apontam certo descaso da Prefeitura de São Paulo para com esse polo comercial de grande importância para o País.

Segundo Jean Makdissi Júnior, conselheiro da Associação dos Lojistas do Brás (Alobras), na última gestão de José Serra na Prefeitura de São Paulo houve mudanças positivas para o Brás, como a revitalização do Largo da Concordia, mas na gestão de Gilberto Kassab nada foi feito. "Esperamos que, com a mudança do prefeito, o Brás volte a ter a atenção necessária", argumentou ele.

Ainda segundo o representante da entidade, o governo deveria dar mais atenção a esses polos comerciais, pois eles movimentam muito mais do que o varejo. "Além de polo de lojistas, deveríamos ter mais atenção como provedores de turismo de negócios. Recebemos comerciantes de diversas outras regiões que abastecem seus negócios como as confecções da região", enfatizou ele.

A representatividade da região é tamanha que cerca de 100 mil pessoas por dia passam por lá para fazer compras; em datas sazonais, como o Natal, é possível atingir o pico de 700 mil clientes por dia. O Brás movimenta na economia, o montante aproximado de R$ 10 bilhões ao ano.

Além dos problemas acima mencionados, a maior concorrência dos centros comerciais equipados com estacionamento, praça de alimentação e área de lazer -operações que trazem maior comodidade ao consumidor- e o comércio ambulante sem a regulamentação dos órgãos públicos, são questões para as quais os lojistas têm tentado encontrar uma solução a fim de não perder ainda mais vendas.

"Muito foi feito na regulamentação dos vendedores ambulantes, e nas lojas box -prédios que agregam diversos pequenos negócios- a convivência ainda é pacífica, mas em breve medidas de regulamentação terão de ser tomadas", diz Makdissi Júnior.

Questionado sobre as vendas ao longo deste ano, o conselheiro da Alobras afirmou que ficou aquém do esperado. "De uma maneira geral o ano foi difícil e teve crescimento abaixo do que foi registrado no ano passado."

Mas, com as vendas de Natal, é possível que haja uma pequena recuperação. "No fim de ano foi sentido que as vendas tiveram uma reação. Acredito que alguns empresários conseguiram recuperar um pouco do faturamento perdido ao longo do ano."

Em 2013 a entidade espera obter um crescimento na casa de 5%.

Outro ponto impulsionador das vendas na região, mas que também causou muito transtorno no passado, é a Feira da Madrugada, que anteriormente era realizada na região da Vinte Cinco de Março. Lá, consumidores e lojistas conseguem mais promoções, e, mesmo com o horário atípico, o evento recebe um número expressivo de visitantes.



Veículo: DCI


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