Frutas esquecidas e deixadas de lado ainda têm cultivo preservado em quintais e propriedades de agricultores que fazem questão de preservar as relíquias raras nos sacolões das metrópoles
Elas lembram a infância, a visita à casa dos avós, tios mais velhos e padrinhos no interior. Geralmente são pequenas, menores do que as frutas em fartura, com cores e tamanhos vibrantes nas prateleiras atuais dos sacolões das metrópoles. Quem conhece a pitanga, o marmelo, a jabuticaba branca, amora, gabiroba e seriguela? Hoje elas não estão mais à venda no comércio tradicional. Mas em algumas propriedades são estudadas e cultivadas, como relíquias nobres, capazes de incrementar os pratos da culinária local.
O produtor Everton de Paula, dono da Pousada das Cores, na Vila Colonial de Cocais, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte, é um desses saudosistas que fazem questão de preservar variedades dos tempos das vovós. O cultivo dessas frutas em extinção é um dos atrativos da pousada, que tem hoje como um dos principais negócios a venda de produtos (geleia, licor, doces) feitos à base das “relíquias”. O cultivo não é fácil e a rentabilidade é baixa, se comparada com as outras frutas presentes atualmente na mesa do consumidor. Mas o sabor diferenciado compensa o trabalho extra, garante Everton.
Ele destaca que muitas dessas frutas não são mais cultivadas pela falta de mão de obra. “Muitos produtores cimentaram os terrenos e acabaram com as frutas do cerrado e da mata atlântica. Um dos problemas do cultivo dessas plantas é que não há mão de obra disponível. Tivemos um grande êxodo rural”, observa.
Mas os obstáculos não impendem Everton de insistir na produção das frutas raras. Ele planta, colhe e beneficia toda a produção na pousada. Os clientes agradecem. Os produtos, além de serem servidos no café da manhã, almoço e jantar, são vendidos na loja criada por Everton dentro do empreendimento, a Caminhos da Roça. “A rentabilidade é pequena. No meu caso é viável porque tenho onde empregar. Os hóspedes gostam porque estão acabando com a comida da roça. Hoje, tudo é muito industrializado. Eu estou na contramão do progresso. Mas sobrevivo bem e feliz assim. Quero ser pequeno e organizado”, afirma.
Estado é pioneiro em outros resgates
É bom lembrar que o resgate de culturas antigas não se restringe às frutas. Entidades ligadas ao agronegócio têm trabalhado também para retomar o cultivo das hortaliças não convencionais no estado. Em Minas Gerais, o plantio de verduras e legumes que não são normalmente encontradas em sacolões ainda é informal. As mudas geralmente ficam em pequenas quantidades nos sítios. Mas, para evitar seu desaparecimento e incentivar o uso pelas comunidades locais, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Ministério da Agricultura estão desenvolvendo unidades experimentais de material vegetativo.
O estado é pioneiro no resgate das hortaliças não convencionais. Na avaliação dos pesquisadores, o trabalho de resgate das hortaliças tradicionais é fundamental para que se evite o processo de extinção dessas plantas. É preciso lembrar que, quando uma hortaliça ou fruta some, vai para o espaço também parte da tradição, cultura e herança das gerações passadas.
Veículo: Estado de Minas