Aposta em modelos mais leves visa a evitar encalhe de estoques
Até sexta-feira, a Feira Nacional da Indústria da Moda (Fenim) antecipa, nos pavilhões do Serra Park, em Gramado, as principais tendências da temporada de outono e inverno. A reunião de 2 mil marcas nacionais e internacionais que expõem as principais novidades a um público de cerca de 20 mil pessoas na Serra gaúcha promete funcionar como um verdadeiro termômetro das vendas para a próxima estação.
E o clima registrado desde as primeiras horas da abertura dos portões, na manhã de ontem, indica que os negócios desta edição serão aquecidos por uma retomada de consumo que começou no terceiro trimestre de 2012 e perdura no início de 2013. Pelo menos, essa é a expectativa de muitos entre os cerca de 600 expositores. Entre eles, o CEO do Grupo Scalina, detentor das marcas Trifil e Scala, Luis Delfim, que projeta aumento de 15% nas vendas ao longo do evento. Segundo o executivo, a extensa programação de desfiles e os estandes amplos garantirão a passagem de, no mínimo, 1,3 mil pessoas interessadas nos produtos em mostruário. “É uma oportunidade de aproximação com os nossos parceiros do Sul, e esperamos crescimento, sobretudo, nos pedidos de meias-calças, já que a previsão é de inverno mais rigoroso.”
Mesmo que a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) tenha confirmado, na segunda-feira, uma tendência de declive para o setor - que se mantém desde 2011 -, a aposta em fôlego revigorado continua em alta entre os fabricantes. Uma das justificativas para o fraco desempenho, no entanto, está relacionada, justamente, ao inverno pouco rigoroso, responsável por reduzir o ritmo do comércio e atrasar o escoamento da coleção primavera-verão.
O fato, conforme explica o gerente de marketing da Cativa, Jonas Jacobi, pesou na definição da estratégia adotada pela companhia para a estação. Neste ano, a empresa de Santa Catarina abriu mão das peças mais pesadas destinadas, essencialmente, aos estados do Sul para moldar um portfólio formado por malhas leves. “Para nós, a coleção veio para solucionar o problema da estação inverno em um país tropical. Isso sempre é uma dificuldade. Ouvimos os lojistas com sobras em estoque e percebemos que são peças mais pesadas, o que embasou o nosso planejamento”, resume.
Por outro lado, a retração, conta o gerente comercial da Hering, Ademar Heiden, foi sentida na pele por uma das maiores redes do País. No entanto, os ventos começaram a mudar de direção ainda no último trimestre. Outro ponto em destaque, na avaliação de Heiden, é a alteração das alíquotas tributárias após a entrada em vigor, no primeiro dia de janeiro, da cobrança de taxas equânimes de ICMS aos importados nos estados, o que encerrou a chamada Guerra dos Portos. A intenção, revela o gerente, é direcionar os esforços aos fornecedores nacionais. “Nossa visão é de que os importados são estratégicos para a oferta daquilo que já é presente no mercado.
Precisamos estar atentos para evitar a dependência, com uma dosagem ideal para redução de riscos, principalmente, cambiais”, considera. Como a empresa importa cerca de 30% do portfólio, o impacto da mudança deflagrou um ajustamento dos processos internos com o objetivo de segurar a elevação dos preços ao consumidor por meio da absorção dos custos neste primeiro momento.
Segmento de jeans preserva capacidade instalada no País
Ao avaliar os dados de redução de empregos nas confecções, o diretor da Expovest-Fenim, Julio Viana, relembra um período em que o setor foi o principal empregador entre as indústrias do País. As justificativas, entretanto, são velhas conhecidas dos atores da cadeia produtiva: carga tributária e importados. Quanto à concorrência estrangeira, Viana prega a convivência. Mas, no que se refere à carga tributária, o posicionamento é de que a solução do problema esteja ligada às ações governamentais. “A importação vai continuar, e, por isso, o governo deveria fazer no têxtil o que se faz na linha dura. Hoje há mais de 40% de carga de impostos e, se fossem cortados, reverteríamos essa equação”, defende ao exaltar a continuidade do parque fabril instalado no Brasil, ao contrário do que ocorreu na América Latina.
Sem ligar para as oscilações, um dos responsáveis pela manutenção da capacidade instalada referida por Viana, o segmento de jeans tem tido o luxo de andar na contramão do mercado. Na gaúcha Pitt, de Santa Cruz do Sul, não é diferente, e a empresa cresceu cerca de 60% nos últimos três anos, justamente, o período mais crítico para as demais áreas têxteis. A explicação, segundo o gerente Eduardo Simon, está na falta de similares asiáticos à produção nacional. Com menos de 5% dos itens em oferta composto por estrangeiros, a empresa de 46 anos aposta no marketing para consolidar a marca no mercado nacional. Com três lojas próprias e atuação em todo o País, em 2012, a marca inaugurou a primeira revenda exclusiva em uma capital, em Porto Alegre. Neste ano, conforme explica Simon, a aposta é desenvolver o novo modelo de negócios em cidades em que o conceito de multiloja não seja tão desenvolvido.
Veículo: Jornal do Comércio - RS