Ar condicionado e geladeira em baixa nos estoques

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Forte calor e a manutenção da redução do IPI dos eletrodomésticos provocaram corrida ao varejo e busca por aparelhos sofisticados


O consumidor corre o risco de não encontrar aparelhos de ar condicionado e algumas geladeiras com duas portas nas lojas neste verão. O forte calor e a manutenção da alíquota reduzida do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos eletrodomésticos da linha branca provocaram uma corrida às lojas que fez as vendas crescerem acima da expectativa do mercado.

Sem produtos para pronta entrega, alguns lojistas estão reforçando as encomendas feitas à indústria. Mas os fabricantes alegam que não têm condições de atender aos pedidos extras.

De acordo com o gerente de compras das Lojas Colombo, Leandro Arruda, o varejo enfrenta dificuldades para se abastecer de produtos típicos de verão desde o fim do ano passado. Ele conta que pedidos de refrigeradores de alta capacidade feitos pela rede em novembro, para entrega no mês seguinte, até ontem ainda não tinham sido cumpridos. Além da demora na entrega, os fabricantes estariam deixando de atender a 40% das encomendas, em média.

"O governo incentivou o consumo, mas a indústria não estava preparada para o aumento da demanda", afirma o executivo. Desde outubro, a venda de eletrodomésticos da linha branca nas lojas da rede Colombo cresceu 40% em relação ao mesmo período um ano antes.

Falta pontual. O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, alega que estão faltando apenas modelos de geladeiras frost free (que possibilita refrigeração sem produção de gelo) e de inox. "Com a redução do IPI para linha branca, o consumidor decidiu comprar produtos com mais recursos", diz Kiçula. Mas ele ressalta que não existe uma falta generalizada do produto.

"A migração para modelos de refrigeradores mais sofisticados não estava desenhada pela indústria da forma tão forte como foi", reconhece Armando Ennes do Valle Júnior, vice-presidente de Relações Institucionais da Whirlpool para a América Latina. "A gente acredita que até o meio do ano todos os fabricantes já terão superado isso", acrescenta o executivo.

Além disso, Valle observa que grandes varejistas que se programaram e anteciparam pedidos não estão tendo problemas agora. "Têm mais problemas aqueles pequenos varejistas que se depararam com uma demanda também não esperada por eles, porque agora a indústria não consegue responder na velocidade que eles precisam."

Dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool é líder de vendas nesse segmento. Em 2012, os produtos da empresa com redução do IPI cresceram em linha com o mercado, ao redor de 15%. Já os aparelhos de ar condicionado split, fecharam o ano sem crescimento. O segundo semestre foi bom, mas o primeiro, quando a indústria nacional sofria concorrência acirrada do produto asiático, foi muito ruim.

Dados da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) mostram a aceleração das vendas a prazo neste mês. Na primeira quinzena de janeiro, os números de consultas para vendas a prazo aumentaram 1,8% em relação a igual período de 2012, um ritmo bem superior ao fechamento de dezembro, que foi de 0,1% na comparação com o mesmo mês de 2011.

"Tudo indica que houve uma melhora das vendas no varejo neste mês em relação ao fechamento do ano", observa o economista da ACSP, Emílio Alfieri. Ele explica que, neste ano, a temporada de liquidação foi mais rápida do que no início de 2012, quando o acúmulo de estoques era maior em relação ao atual.


Com aumento de IPI, importados sumiram do mercado


Os aparelhos de ar condicionado desapareceram das lojas porque os pedidos do varejo para janeiro, feitos em setembro e outubro, foram programados com base num início de ano normal, não com calor excessivo, dizem fabricantes. Como o calor nas últimas semanas foi intenso, e o tempo de entrega da indústria varia de 30 a 40 dias, faltam produtos.

Uma grande rede de eletrodomésticos e móveis, que prefere não ser identificada, se queixa da escassez de aparelhos de ar condicionado e climatizadores. "Poderíamos vender mais se tivéssemos produto. O varejo não esperava uma demanda tão forte", diz a fonte.

Não é o caso das Lojas Colombo, ao menos por enquanto. "Eu consegui me planejar, recebi antes a mercadoria e consegui de certa forma suprir as vendas", diz Leandro Arruda, gerente de compras da rede. "A indústria fala que vai faltar entre 300 mil e 500 mil peças de split nesta temporada."

No polo industrial da Zona Franca de Manaus, onde são fabricados 90% desses equipamentos no País, a produção do último trimestre de 2012 cresceu 200% em relação a igual período de 2011, diz Wilson Perico, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam). Saltou de 350 mil, em 2011, quando competia com os importados, para perto de 1 milhão no ano passado.

"Além de terem sido pegos de surpresa pelo aumento da demanda, os lojistas agora querem receber novos produtos ainda neste mês, porque está fazendo calor", afirma Perico. Os comerciantes, segundo ele, não aceitam receber os aparelhos em fevereiro ou março. "A indústria de Manaus demora, em média, 45 dias, para fazer a entrega em São Paulo ou no Rio de Janeiro ", diz o presidente da Cieam.

O varejistas lembram que os equipamentos importados, que respondiam quase 70% das vendas, sumiram do mercado. Para proteger a indústria de Manaus, em setembro de 2012, o governo elevou de 20% para 35% a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos aparelhos trazidos do exterior ou fabricados fora da Zona Franca. "Com a alta do dólar frente ao real, ficou inviável trazer produtos do exterior", diz Arruda, da Colombo.


Veículo: O Estado de S.Paulo


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