A Siemens, maior empresa do setor de engenharia da Europa, concordou em pagar US$ 1,6 bilhão para liquidar processos de suborno nos Estados Unidos e Alemanha, após dois anos de investigações sobre pagamento de propinas para autoridades governamentais em várias partes do mundo. A Siemens pagará € 596 milhões (US$ 814 milhões ) na Alemanha, incluindo uma multa de € 201 milhões de 2007, informou seu advogado, Peter Solmssen. A companhia também pagará US$ 800 milhões nos Estados Unidos, depois de se reconhecer culpada pela violação de leis anticorrupção por contabilizar falsamente US$ 1,36 bilhão em subornos.
"É o final de um capítulo difícil na história da companhia", disse Solmssen, que representou a Siemens em audiência perante o juiz Richard Leon, ontem, em Washington. "Estamos felizes por deixar esse episódio para trás," disse o advogado. Peter Löescher, presidente do grupo, afirmou que este resultado, menos oneroso que o previsto, é um "presente de Natal". "Estou feliz e aliviado que tenhamos obtido este fantástico resultado tão rapidamente. É o melhor dos presentes de Natal", declarou Löescher à edição on-line do jornal alemão Bild.
Acusações
A empresa usou contas fora dos livros para ocultar pagamentos ilegais, subornos descaracterizados na contabilidade corporativa, e propinas falsamente descritas pagas para o governo iraquiano no programa de petróleo para alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU), disse o procurador dos EUA, Jeffrey Taylor, em ação penal que deu entrada em 12 de dezembro. "As multas para a liqüidação foram menores que as multas multibilionárias que a maioria esperava", disse em nota o investidor Nick Heumann, analista da Sterne Agee & Leach em Nova York.
Com uma nova administração começando no próximo ano, a resolução poderia ter "facilmente se esticado" para pelo menos até o fim de 2009, disse Heumann, que recomenda a manutenção das ações. A Siemens caiu US$ 0,23 para € 47,15 no fechamento do pregão de Frankfurt. As ações caíram 56% este ano.
Escândalo
A companhia, cuja origem data de 1847, se envolveu em um escândalo de suborno divulgado em novembro de 2006, levando a investigações em pelo menos uma dúzia de países. Ela pagou suborno para ganhar contratos de transporte na Venezuela, redes de telefonia celular em Bangladesh, estações de força em Israel e sistemas de controle de tráfego na Rússia, disseram os promotores.
"Nós lamentamos expressamente que erros tenham ocorrido no passado", disse Gerhard Cromme, chairman do conselho supervisor. "Considerando o quão intimidadora foi a magnitude do caso, parece um milagre que tão pouco tempo tenha se passado para chegar a um acordo com as autoridades." A soma das liqüidações "é de longe mais importante" que as investigações remanescentes em outros países, disse Cromme. "A maioria delas está atrás de nós." As unidades da Siemens de Bangladesh e da Venezuela confessaram-se culpadas de conspiração para cometer suborno, mas a companhia controladora não fez o mesmo. Isso significa que a Siemens ainda pode participar de licitações para contratos do governo americano, disse Solmssen.
Theo Waigel, ex-ministro alemão de Finanças, irá monitorar a obediência da companhia às resoluções norte-americanas nos próximos quatro anos, afirmou a Siemens. A empresa informou no último mês que ia reservar € 1 bilhão para responder às acusações nos EUA e Alemanha. Löescher, CEO da companhia, foi contratado em julho de 2007 para "limpar" a empresa após os escândalos de pagamento de propina. Ele substituiu metade dos 100 principais executivos da empresa.
A Siemens tem colaborado com as investigações de seus ex-executivos, afirmaram os promotores públicos. As autoridades de Munique ainda estão investigando cerca de 300 suspeitos. Três ex-funcionários foram condenados em Munique nos dois primeiros julgamentos realizados este ano sobre o escândalo. Johannes Feldmayer, ex-membro do conselho, foi considerado culpado e foi sentenciado, em novembro, em um caso relacionado ao da Siemens na cidade alemã de Nuremberg. "Há ‘caixa dois’ em muitas das unidades da companhia, que era usado para o pagamento de propinas", afirmaram promotores de Munique.
A decisão norte-americana inclui multa de US$ 450 milhões para a empresa e outras unidades. Segundo acordo com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA e a Justiça, Siemens de pagar ainda multa de US$ 350 milhões sobre seus lucros.
Veículo: Gazeta Mercantil