Aperto na oferta de crédito derruba embarques do algodão

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A restrição de crédito no Paquistão e na Indonésia, maiores compradores do algodão brasileiro, interrompeu a série mensal de vendas recordes da commodity brasileira. Em novembro, os embarques da fibra deveriam atingir o auge no ano. No entanto, a desaceleração da economia mundial reduziu a demanda pela fibra e provocou a crise de confiança mundial, que dificulta o acesso à recursos de financiamento. Segundo informações da Secretaria de Comérico Exterior (Secex), o volume embarcado da fibra somou 71,1 mil toneladas em novembro, queda de 26,5% na comparação com o mês anterior. O volume também é 7,6% menor que o mesmo período de 2007, quando 77 mil toneladas foram vendidas.

 

"No último mês, tudo ficou muito parado. A previsão era que fossem embarcados cerca de 80 contêiners de pluma, mas só conseguimos enviar três", revela Benedito Oliveira, da AgRural. Segundo disse, cada contêiner possui capacidade de 25 toneladas de pluma. Ele disse ainda que o maior problema encontrado pelos países importadores é o crédito.

 

"A crise já está instalada no Paquistão e em outros compradores do Brasil. Acredito que em dezembro teremos novas reduções", Pery Pedro, trader de algodão da Olam, um das cinco maiores empresas de exportação do mundo.

 

Ainda assim, o volume embarcado até agora já superou o do ano anterior. Conforme informações da Safras & Mercado, cerca de 470 mil toneladas foram exportados no acumulado do ano, crescimento de 12% em relação a 2007. Os principais compradores foram Paquistão, com 97 mil toneladas, seguido por Indonésia (71 mil toneladas), Coréia do Sul (58 mil toneladas), Argentina (24 mil toneladas) e Tailândia (24 mil toneladas). Miguel Biegai Junior, analista da consultoria, diz o pico das exportações é concetrado em outubro e novembro. "Certamente teremos um volume menor de vendas que as 650 mil toneladas previstas".

 

Oliveira acredita que a retração em dezembro será na mesma proporção que a do mês passado. "Se o volume total atingir 80% do previsto será muito. Inicialmente esse produto deverá ficar estocado", avalia. O trader da Olam acrescenta que a safra anterior teve um atraso de um mês. "Isso deveria deslocar o auge das vendas para os últimos dois meses, mas não foi o que vimos". Segundo disse, o único país que ainda não apresentou sinais de enfraquecimento na demanda foi a Coréia do Sul. "Essa economia mostra um pouco mais de fôlego e parece que seu setor têxtil sentirá menos a crise, por enquanto".

 

Pedro lembra que mesmo com a redução na produção e no consumo mundial, os estoques altos devem continuar travando os negócios. Segundo informações do Departamento de Agricultura Americano (Usda, sigla em inglês), a produção mundial cairá 280 mil toneladas, para 22,31 milhões de toneladas. Pedro observa que a demanda deverá recuar 600 mil toneladas no próximo ano. "Metade dessa redução (300 mil toneladas) vem da China, um dos maiores consumidores mundiais. Ainda assim, os estoques finais estão altos e correspondem a seis meses de consumo".

 

No mercado interno, por outro lado, especialistas acreditam que a crise ainda não atingiu a indústria. Pedro conta que a valorização do dólar nos últimos meses aumentou a competitividade do setor em relação ao fio indiano, que era importado por um custo muito mais baixo antes da crise. "A sensação que nós temos é que a crise ainda não chegou por aqui, ao contrário do mercado externo. A indústria interna está mais competitiva agora".

 

Biegai lembra que a mercadoria que não foi vendida será comercializada no mercado interno e já pressiona os preços por aqui. Segundo a consultoria Safras & Mercado, a libra-peso da pluma (0,45 quilos) é negociada atualmente entre R$ 1,12 e R$ 1,13, queda de 13% na comparação com os preços médios antes da crise, que estavam em R$ 1,30 a libra-peso. "Mas não acredito que recuem mais", disse. Ele disse que o patamar de remuneração do produtor é de R$ 1,27 a libra-peso.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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