Adiadas as entregas de celulares

Leia em 5min 30s

O Natal não fugiu à regra das demais datas comemorativas nas quais o brasileiro deixa para fazer as compras na última hora, levando o período de dez dias que antecedem 25 de dezembro a serem determinantes para definir se as vendas serão superiores, iguais ou inferiores às do ano passado.

 

Uma coisa, porém, já é considerada certa hoje e não se trata de uma boa notícia: o Natal de 2008 na indústria da telefonia celular ficará abaixo das expectativas desenhadas pelo mercado.

 

Adiamento das entregas

 

As operadoras celulares, responsáveis pela compra de 80% dos telefones, acabam de surpreender as expectativas originais pedindo às fabricantes que posterguem a entrega de cerca de 30% dos celulares já encomendados para este Natal.

 

Ou seja, dos 15 milhões originalmente previstos para serem comercializados no período de outubro a dezembro, cerca de 4,5 milhões terão sua entrega adiada para 2009.

 

Talvez a primeira parcela do 13º salário tenha chegado às mãos das camadas mais pobres da população com algum atraso, ou o noticiário pessimista da crise financeira internacional tenha impactado mais fortemente do que se poderia supor e evitar, acreditam as fontes ouvidas pela Gazeta Mercantil.

 

O que há de concreto é que as vendas de novembro último não acompanharam o aquecimento que vinha sendo constatado nos meses anteriores, comparativamente ao ano passado, e que provavelmente levariam a um recorde de crescimento este ano.

 

As negociações entre fabricantes de aparelhos - Sony Ericsson, Motorola, Samsung, LG e outras - e as operadoras móveis - Vivo, TIM, Claro e Oi - costumam ocorrer por trimestre.

 

As referentes ao Natal, principal data comercial do ano, são efetuadas no início de setembro. Os procedimento deste ano seguiram a normalidade até que setembro surpreendeu com uma escalada do dólar ao fim do mês, depois de as negociações terem sido encerradas. Como se sabe, o celular tem forte componente importado, alcançando valores variáveis mas elevados em dólar.

 

Indústria subsidia o dólar

 

As fabricantes de celulares seguiram a iniciativa da Nokia e tomaram a decisão de fixar o dólar em R$ 1,90, embora ele tenha oscilado entre R$ 2,30 e R$ 2,40, a fim de não permitir que as vendas perdessem velocidade junto às operadoras.

 

Elas, por sua vez, amargaram uma parte do aumento bem menor do que o real, saltando de R$ 1,60 para R$ 1,90 ao longo do mês. O objetivo principal por trás do esforço era não estancar o avanço vigoroso que vinha acontecendo no número de clientes.

 

Mesmo com esse nível de perdas assumidas pelos dois lados da negociação, os consumidores não conseguiram manter as compras, e novembro ficou aquém das estimativas do setor.

 

"Talvez a primeira parcela do 13º salário tenha sido paga com algum atraso", considerou o diretor de marketing da Claro, Erik Fernandes, tentando justificar o recuo nas vendas.

 

Negociações trimestrais

 

O presidente da Sony-Ericsson, Silvio Stagni, acredita que a indústria foi levada a concordar com o recuo das compras das telefônicas porque historicamente as operadoras são muito corretas no cumprimento dos contratos. Tais contratos na verdade prevêem que não pode haver postergação, mas desta vez o cenário mudou e a crise começou a ser encarada com algum temor depois que o dólar descolou. "Não havia por que negar o adiamento, afinal as operadoras são muito corretas", disse Stagni.

 

A postergação está sendo feita para o primeiro trimestre do ano que vem. Em princípio se imaginou que novembro fosse manter o ritmo de crescimento que vinha sendo observado nos primeiros meses, e que levou outubro a bater recorde de novas habilitações pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), com 4 milhões de novos clientes, aquém somente de dezembro de 2004 e 2007, o mês que em geral é o mais gordo em vendas, com 30% do ano.

 

No entanto, novembro deste ano acabou sendo equivalente a novembro do ano passado, sem embutir o vigor da expansão dos meses anteriores. O último trimestre equivale às vendas de 30% dos celulares do ano, enquanto o primeiro trimestre responde por 18%, o segundo por 28%; o terceiro por 24%.Tudo leva a crer, portanto, que as vendas do ano não chegarão aos 51 milhões previstos inicialmente. "É bem provável que parem em 46 milhões", disse Stagni.

 

Previsão para 2009

 

O ano de 2009 vai impor uma perda de margem de rentabilidade para ambos os lados, operadoras e fabricantes de aparelhos, prevê Stagni. Ainda que o dólar encontre um valor de equilíbrio, é provável que as vendas fiquem mais apertadas para as companhias, pressionando os fornecedores. Por outro lado, é possível que as companhias telefônicas abandonem gradualmente o subsídio dos aparelhos, como é estratégia da Oi, que se atém a promover serviços e distribuição de chips.

 

Segundo o diretor de segmentos da equipe de mercado da Oi, Roberto Guenzburger, a prática de não subsidiar já atinge 25% das vendas totais de aparelhos celulares para o cliente final existentes no mercado. "É proporcional ao incremento da venda de chips", diz o executivo recém-saído da Claro, onde exercia a direção de marketing.

 

Fora da guerra

 

"Não estamos nessa guerra de bloquear aparelhos e estimulamos a liberdade do cliente, que recebe um crédito para utilizar onde quiser, na compra de um telefone ou de qualquer bem de sua preferência", afirmou.

 

A fase de Natal e o hábito de presentear com o celular encontra mais sentido na Oi, na visão de Guenzburger. "Você dá um celular de presente, não vai querer que ele esteja bloqueado, não é?", questionou.

 

Janeiro de 2009 deverá refletir o que tiver ocorrido em dezembro. Anteriormente, segundo Fernandes, da Claro, o mês de janeiro era fraco. A chegada do pré-pago e o acesso das camadas mais populares ao celular transformou janeiro, que passou a ser um dos mais repletos de promoções e queimas de estoques das companhias celulares.

 

O executivo ressalta que os clientes de pré-pagos viajam menos e por isso as vendas foram ficando mais aquecidas ao longo do tempo, deixando para trás a paradeira que marcava janeiro.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


Veja também

Promoções limpam estoques de bem durável

A pressão do impacto da crise internacional fez com que as grandes varejistas de eletrodomésticos, eletr&o...

Veja mais
Sonda expande atuação

Seguindo seu plano de expansão iniciado em 2007, o Sonda Supermercados, inaugura na próxima quinta-feira, ...

Veja mais
Cliente ajusta perfil de compra à crise

O principal executivo do Wal-Mart Stores anunciou que os consumidores mudaram seu comportamento a fim de reduzir as desp...

Veja mais
Aperto na oferta de crédito derruba embarques do algodão

A restrição de crédito no Paquistão e na Indonésia, maiores compradores do algod&atil...

Veja mais
Indústria catarinense fecha 1,5 mil vagas em novembro

A indústria de Santa Catarina registra pelo segundo mês consecutivo queda nos indicadores de comérci...

Veja mais
Marketing de cigarros

Fumantes podem abrir processos contra o marketing dos cigarros "light", legislou a Suprema Corte dos EUA. A decisã...

Veja mais
Siemens paga US$ 1,6 bi para encerrar processo por corrupção

A Siemens, maior empresa do setor de engenharia da Europa, concordou em pagar US$ 1,6 bilhão para liquidar proces...

Veja mais
O custo da responsabilidade na venda externa de produtos químicos

O novo regulamento em fase de implantação na Europa para controle de usos de produtos químicos, con...

Veja mais
Papelão vende menos em novembro

As vendas de papelão ondulado, material para embalagens considerado um termômetro da economia, tiveram qued...

Veja mais