Investidores que apostaram US$ 90 mil em opções de compra de ações da empresa ganharam US$ 1,8 milhão, e são investigados pela SEC
O uso irregular de informações sigilosas sobre a venda da fabricante de molhos Heinz para o grupo 3G e o fundo Berkshire Hathaway, na semana passada, rendeu a um grupo de investidores ainda não identificados um lucro de 2.000%, que transformou um investimento de US$ 90 mil em US$ 2 milhões de um dia para o outro. É o que aponta o relatório preliminar da comissão de valores imobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), “xerife” do mercado financeiro americano, que identificou uma conta batizada de “GS” no Goldman Sachs em Zurique, na Suíça, como a fonte das transações suspeitas.
Em documento encaminhado à Corte Distrital do Distrito Sul de Nova York na sexta-feira, o advogado da SEC Sanjay Wadhwa explica que, um dia antes de ser anunciada a negociação, os investidores que operam a conta GS adquiriram 2.533 opções de compra de ações – cada uma destas opções dava o direito de comprar, até o dia 22 de junho (terceira sexta-feira do mês), 100 papéis da Heinz a US$ 65 por unidade.
O aumento no volume de transações deste tipo foi de 1.700% em relação a um dia típico, segundo a SEC. No dia 12 de fevereiro, apenas 14 opções de compra haviam sido negociadas; em 11 de fevereiro, nenhuma. Desde novembro do ano passado, a soma chegava a 61 contratos.
Volume e preço atípicos
De saída, a negociação chamou a atenção da autoridade reguladora financeira porque o valor da compra excedia o preço corrente do papel. Desde novembro, as ações da Heinz vinham sendo “consistentemente negociadas” em torno de US$ 60, de acordo com a SEC. Para os vendedores das opções, os compradores pareciam acreditar que haveria uma improvável alta de 8% em quatro meses.
Na quinta-feira, dia 14, foram anunciados os temos do acordo entre o Berkshire Hathaway, o 3G e a Heinz, e a alta foi muito mais improvável e rápida: as ações foram adquiridas por US$ 72,50 – prêmio de 21% em relação à cotação da data.
Outro ponto que reforçou as suspeitas de que os investidores possuíam “informação material, não pública” quando realizaram as transações é que nos seis meses que antecederam o surto de compras, ou seja, desde setembro de 2012, a GS não possuía registro de qualquer operação com papéis da empresa americana. O documento, porém, não faz qualquer menção a de onde teria partido a informação.
“O timing, o tamanho e a lucratividade das negociações dos acusados, tanto quanto sua ausência de história pregressa de negociações significantes com a Heinz na conta GS, tornam essas negociações altamente suspeitas. Em particular, depois de não ter negociado papéis da Heinz por pelo menos seis meses, os acusados investiram quase US$ 90 mil em arriscadas posições no dia anterior ao do anúncio. Como resultado desta negociação, a posição dos acusados na Heinz aumentou de aproximadamente US$ 90 mil para mais de US$ 1,8 milhão, um aumento de quase 2.000% em apenas um dia”, escreveu Wadhwa.
Veículo: O Globo - RJ