A queda dos preços do açúcar tende a persistir nos próximos meses, mas não necessariamente significará dificuldades para o setor sucroalcooleiro no mundo. De acordo com o diretor da consultoria inglesa LMC International, Martin Todd, a redução dos custos de produção tende a acompanhar essa desvalorização da commodity na Bolsa de Nova York. "Você tem de olhar para as duas coisas juntas: os preços do açúcar caem, mas os de fertilizantes, gasolina, maquinários também estão caindo", disse ele, que participou ontem do evento Agri & Food Day, promovido pelo Itaú BBA, em São Paulo.
Com relação ao etanol brasileiro, Todd afirmou que o aumento das exportações para os Estados Unidos vai depender da política energética elaborada pela Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA). Segundo ele, a demanda pelo biocombustível nos EUA tende a crescer em razão da política de Padrão de Combustíveis Renováveis (RFS), que prevê o aumento do uso de biocombustíveis no país ao longo dos próximos anos. No entanto, essa procura pode ser preenchida por biodiesel ou etanol de milho, a depender das exigências da EPA, avaliou.
Na última segunda-feira, a consultoria FCStone projetou que o Brasil poderá exportar até 2,6 bilhões de litros de etanol para os EUA em 2013. O número representa apenas 0,686 bilhões de galões dos 2,75 bilhões de galões dos chamados combustíveis avançados que o governo norte-americano pede para serem consumidos neste ano.
Na avaliação de Alexandre Figliolino, diretor do Itaú BBA, o Brasil deveria se voltar para o mercado interno quando o assunto é etanol. Ele comentou que o produto perdeu competitividade nos últimos anos ante a gasolina e que exportações para os EUA, o principal importador, são reguladas pela EPA. "O etanol mais competitivo ajuda o consumo interno, reduzindo o excedente de oferta, seja pelo aumento de área plantada com cana, seja pelo aumento da produtividade", afirmou. Figliolino disse que o setor está inseguro com as mudanças de regras estabelecidas pelo governo e que o Brasil deveria seguir a lógica de mercado.
"As margens estão próximas a zero, ninguém consegue investir. O setor precisa de uma taxa de retorno." Segundo ele, as recentes alterações na política energética brasileira (reajuste de combustíveis e aumento da mistura de etanol na gasolina) até favorecem a demanda pelo biocombustível, mas ainda não estimulam o setor. Ele diz que a capacidade instalada da indústria deixará de ser ociosa a partir da safra 2014/15. Assim, se não houver investimento, a produção não crescerá.
Levantamento feito pelo Itaú BBA mostra que 36% das usinas do Centro-Sul estão com pleno acesso a capital e que 29% apresentam endividamento adequado. Contudo, 16% precisam passar por algum tipo de recuperação e 18%, por processos de fusão ou aquisição.
Veículo: Diário do Comércio - SP