Em mais um capítulo do movimento de consolidação da indústria brasileira de lácteos, a Vigor anunciou ontem a compra de 50% do capital votante da mineira Itambé , pertencente à Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR) e uma das cinco maiores produtoras de leite do país.
Com isso, a Vigor, controlada pela J&F - holding da família Batista, que também controla o frigorífico JBS -, dá a sua primeira grande tacada desde que abriu o capital, em junho do ano passado. A empresa deverá desembolsar R$ 410 milhões no negócio. Por meio de sua assessoria, a Vigor se limitou a informar que os recursos virão de "linhas de financiamento disponíveis".
Com a operação, que depende da aprovação do Cade, Vigor e CCPR passarão a ser sócias no capital social da Itambé. A princípio, as duas companhias terão operações separadas, mas os resultados da Itambé passarão a ser consolidados dentro do balanço da Vigor. O atual presidente do laticínio mineiro, Jacques Gontijo, fará parte do conselho de administração. O novo presidente da Itambé será indicado pelos novos sócios.
Em comunicado, a Vigor informou que o aporte na Itambé será usado para "fortalecer a estrutura de capital" da empresa mineira. A nota afirma que o investimento "irá acelerar a execução do plano estratégico da Vigor, incluindo a expansão para importantes mercados, como os de Minas Gerais e Rio de Janeiro, regiões bastante complementares às principais áreas de atuação da Vigor". E continua: "A força da marca Itambé, uma das mais tradicionais marcas do segmento de lácteos no país, será uma das principais alavancas de criação de valor desse investimento."
Fundada em 1944, a Itambé capta anualmente cerca de 1,1 bilhão de litros de leite de 9,4 mil pecuaristas e possui um portfólio de 150 produtos, entre diferentes tipos de leite, requeijão, manteiga, iogurtes e doces. Seu faturamento oscila em torno de R$ 2 bilhões.
Contudo, a Itambé sofre com a escalada do endividamento ao longo dos últimos anos - razão pela qual se tornou um alvo preferencial de especulações sobre possíveis fusões no setor. Em 2009, no auge da crise financeira internacional, a CCPR liderou uma tentativa de associação com outras quatro centrais de cooperativas de Minas Gerais, Goiás e Paraná, mas o negócio, que criaria a maior captadora de leite da América Latina, não vingou.
A Vigor é apenas a décima primeira captadora de leite do país, com aproximadamente 215 mil litros de leite recebidos em 2010, de cerca de 1,3 mil produtores.
Embora a Vigor não tenha apresentado um desempenho brilhante nos últimos anos - a empresa registrou um lucro líquido de R$ 24 milhões nos três primeiros trimestres de 2012, suficiente apenas para neutralizar o prejuízo do mesmo período do ano anterior -, sua situação financeira é bastante folgada.
"Somos geradores de caixa e, com um endividamento quase zero, podemos aumentar nossa alavancagem", afirmou Gilberto Xandó, presidente da Vigor, em entrevista ao Valor em junho passado. Na ocasião, o executivo sinalizou que os investimentos da companhia ganhariam corpo neste ano, mas negou que a empresa tivesse planos de ser uma consolidadora no mercado de leite.
A Vigor abriu seu capital em junho de 2012, depois de ser desmembrada da JBS - a companhia havia sido adquirida em 2008, no processo de incorporação do frigorífico Bertin. Quando anunciou a separação, o presidente da JBS, Wesley Batista, afirmou que o objetivo da operação era valorizar a empresa de lácteos, que ficava "escondida" dentro da JBS, e torná-la reconhecida nacionalmente.
Desde então, a companhia persegue o plano de mais do que triplicar seu faturamento em cinco a dez anos, para R$ 5 bilhões, o que a colocaria - nos cálculos de Batista - na primeira ou segunda posição no mercado brasileiro de lácteos". Ontem, as ações da Vigor negociadas na BM&FBovespa fecharam estável, negociadas a R$ 6,75. Desde a abertura de capital, o valor de mercado da companhia subiu 5,47%.
Veículo: Valor Econômico