A Associação de Café Orgânico do Brasil (Acob) poderá contar com o apoio de uma fundação da Holanda em sua meta de ampliar a participação do produto para 5% da produção nacional em dez anos e 10% em 20 anos. Atualmente, estima-se que essa fatia seja de 0,25%. Além do apelo da sustentabilidade, para pequenos produtores o cultivo orgânico pode significar boa rentabilidade diante dos baixos preços da commodity.
Os planos da Acob de incrementar a safra são respaldados sobretudo pela grande demanda internacional para o café orgânico "gourmet". Mas, para incentivar a expansão, a entidade quer tentar obter o compromisso de compradores nacionais e estrangeiros de que haverá demanda no futuro.
Nesse contexto, a associação investe em um trabalho de revitalização da entidade e de promoção do segmento que demandará, inicialmente, R$ 1 milhão. Uma das financiadoras desse projeto poderá ser a Fundação Tierra Nova, criada pela empresa holandesa Simon Lévelt, para promover o consumo sustentável de café e chás. A parceria ainda não foi fechada.
A produção nacional de café orgânico tem oscilado entre 80 mil e 100 mil sacas por safra, ante cerca de 300 mil sacas de 2003 a 2004, auge deste mercado, de acordo com Cassio Franco Moreira, produtor e presidente da Acob.
No início da década passada, muitos produtores entraram neste ramo porque não existiam certificações da produção, mas depois encontraram dificuldades para colocar o café orgânico no mercado, conforme Moreira.
Hoje, 75% da produção vai para o exterior, principalmente para Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Japão.
Apesar de os custos de produção serem muito variáveis -difícil de dimensionar um valor médio - e de a produtividade média ser um pouco menor, os prêmios sobre o café orgânico gourmet giram em torno de US$ 3 a US$ 4 por libra-peso, enquanto para o produto médio fica entre US$ 0,50 e US$ 0,70 por libra-peso. "Em épocas de crise da cafeicultura, o diferencial entre o orgânico e convencional fica mais alto", diz Moreira.
Há mais de 20 anos na produção orgânica, Moreira tem planos de aumentar a área com o produto de 20 para 35 hectares em sua propriedade em Machado, Sul de Minas, e faz a renovação dos cafezais. A safra 2012/13 rendeu cerca de 350 sacas.
O produtor Cláudio Carneiro Pinto, de Carmo de Minas, atualmente recebe em torno de R$ 850 por saca do orgânico especial, enquanto o produto convencional de café de alta qualidade vale entre R$ 350 a R$ 400. Sem informar o custo de produção, o produtor afirma que não tem prejuízo com a atividade. Cerca de 70% da produção vai diretamente para uma empresa no Japão.
Neste fim de semana, em Machado, representantes da fundação, produtores, processadores, exportadores e importadores vão participar de uma reunião sobre a cafeicultura orgânica para discutir os desafios e oportunidades para o segmento.
Veículo: Valor Econômico