Mercado tranqüilo com compra da Itambé

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Valor investido será utilizado para readequação da estrutura de capital e na ampliação da produção.


O mercado produtor de leite e lácteos no Brasil e em Minas Gerais reagiu bem ao anúncio feito na quinta-feira, dia 21, pela Vigor Alimentos S.A, de que celebrou um contrato de subscrição com a Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda. (CCPR) e a Itambé Alimentos S.A. (Itambé), através do qual passa a ser titular de 50% do capital social total e votante da Itambé (Ações).

Segundo fato relevante divulgado pela Vigor, a empresa realizará investimento de R$ 410 milhões, que serão utilizados para readequação de sua estrutura de capital e investimentos em ampliação da capacidade produtiva da Itambé. A empresa mineira foi criada a partir dos ativos e passivos operacionais e contratos relacionados ao processamento, distribuição, marketing e comercialização de produtos lácteos e refrigerados da CCPR. .

"Essa aquisição não é propriamente uma novidade, pois a Itambé já vinha buscando um parceiro há algum tempo", conta o presidente do Sindicato da indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira, para quem o negócio promete ser muito bom tanto para os produtores, quanto para a indústria e os consumidores. Em sua avaliação, pelo fato de pertencer a uma cooperativa (CCPR), a Itambé estava em dificuldade de lançar ações em bolsa e manter o crescimento da industrialização na aceleração que vinha promovendo nos últimos anos.

"A Itambé precisava se capitalizar de outra forma", analisa Moreira, para quem "esse foi um passo muito importante, muito bem dado". Entre os motivos, ele aponta o nível de industrialização e de tecnologia que a JBS (detentora da Vigor) pode oferecer à Itambé e, assim, "espelhar para o setor que faça da mesma maneira". Em sua avaliação, a fusão significará sinergia e crescimento, tendo em vista o papel da Itambé na captação e fomento à produção, e o da Vigor nas áreas de industrialização e comercialização. "São complementares em produtos, mercado e logística", sintetiza.

Isto porque, segundo ele, a Vigor tem um mercado consumidor muito forte nas regiões Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo, com uma atuação menor no Nordeste, onde a Itambé tem melhor presença. "Assim, os mercados do Sul e Sudeste serão revigorados com a presença da Itambé, e as portas do Nordeste se abrirão para os produtos da Vigor", acredita.

Para Moreira, além da expansão da base territorial, os produtos também se complementariam. "A Vigor tem um foco maior em queijos e a Itambé, em produtos refrigerados". Enquanto a Vigor atinge mais diretamente os consumidores de maior poder aquisitivo, a Itambé alcança pessoas de todos os níveis sociais.

"Com a fusão, serão atendidas todas as camadas, com produtos de melhor qualidade, tendo em vista futuros investimentos, inclusive em tecnologia. Além dos ganhos com o papel que será primordial par a Itambé, que é da melhoria de qualidade da produção primária", acredita Moreira. Para ele, o negócio permitirá um "fôlego novo" à Itambé, considerando também inserção internacional da JBS.


Cooperativas - A notícia também foi bem recebida pelo presidente da organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg), Ronaldo Scucato. Mas ele considera precipitado falar dessa aquisição na perspectiva do cooperado e das cooperativas. Ele afirma que não recebeu nenhum comunicado oficial e lembra que a operação ainda está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mesmo assim, a considerar as primeiras informações divulgadas pela Vigor, as perspectivas do dirigente são positivas.

"Em primeiro lugar, é importante que os produtores sejam beneficiados e que a natureza da cooperativa se mantenha", pontua Scucato, que se mostra confiante mesmo diante da possibilidade de os cooperados perderem o poder de gestão da empresa. "Veremos com o tempo", pondera, considerando, no entanto, "que se houver melhoria de gestão, será benéfico para a empresa, inclusive para se alcançar o mercado externo".

Um segundo aspecto que Scucato considera positivo nessa aquisição é a perspectiva de ganho de tecnologia, gerando melhoria de qualidade, além de crescimento de produção e de mercado. Quanto à uma eventual concentração excessiva do mercado de lácteos por um mesmo grupo, Scucato mostra-se tranqüilo. "O mercado é muito amplo. Tem espaço para todo mundo", avalia.


Mudanças - Segundo nota divulgada pela companhia mineira, a parceria entre os dois grupos potencializará as operações da Itambé, "que continuará sua trajetória de crescimento no mercado nacional com uma estrutura de capital adequada, processos operacionais e administrativos independentes, gestão totalmente profis- sionalizada e acionistas experientes em toda a cadeia de produção de lácteos". Nessa perspectiva, será nomeado um novo presidente.

Ainda segundo a em-presa, o aporte permitirá que seja mantido e ampliado o relacionamento com as 31 cooperativas que agrupam aproximadamente 8 mil produtores, que fornecem diariamente cerca de 3 milhões de litros de leite à companhia.

Sediada em Belo Horizonte, A Itambé tem cinco fábricas que processam cerca de 3 milhões de litros/dia. Uma delas está localizada em Goiás e as outras quatro em Minas Gerais (o maior Estado produtor de leite do país): Sete Lagoas, Guanhães, Pará de Minas e Uberlândia. Estas unidades estão estrategicamente posicionados em grandes bacias leiteiras. A empresa também possui dez centros de distribuição.

Empresa é o 3º maior laticínio do país

Mais do que garantir o crescimento sustentado, a aquisição de 50% do capital social total e votante da Itambé pela Vigor possibilitou a sua sobrevivência no mercado. Esta é a opinião do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, que acredita que a empresa "não tinha outra saída". Caso contrário, avalia, "a Itambé poderia ter o mesmo destino de um laticínio paulista que fechou no começo do ano passado".

No último ranking de maiores empresas de laticínios do país, divulgado pela Leite Brasil, referente a 2011, a Itambé ocupa a terceira posição, em volume de recepção de leite: 1,1 bilhão de litros ao ano. A companhia mineira, com 69 anos de mercado, perde apenas para a LBR-Lácteos Brasil, com 1,6 bilhão de litros/ano e para a DPA Manufacturing Brasil (em nome da Nestlé, da Fonterra, da DPA Brasil, da DPA Nordeste e da Nestlé Waters), com 2,1 bilhões de litros anuais.

Como, segundo Rubez, "a LBR-Lácteos Brasil também deve vender seus ativos", é bem provável que, com essa fusão, a Itambé Alimentos S.A, alcance a segunda posição em volume de recepção. "A perspectiva não é apenas de sobrevivência, mas de crescimento", avalia o dirigente, ressaltando que a Vigor tem posição forte no mercado de São Paulo , "que é o maior do Brasil", enquanto a Itambé está bem posicionada quanto ao centro produtor, em Minas Gerais.

Para Rubez, não há o menor risco de o consumidor ser prejudicado com essa fusão. " melhor duas empresas se unirem e manterem duas marcas, em vez de uma delas desaparecer do mercado", resume.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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