Fábricas chinesas de têxteis para o lar miram mercado brasileiro

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Ampliação da fatia de 8% de participação de importados têxteis para o lar entra na pauta de indústrias asiáticas


O mercado nacional de cama, mesa e banho - um dos poucos segmentos da indústria têxtil que pode se vangloriar de um índice inferior a 10% na participação de importados - entra de vez na mira das indústrias asiáticas. Uma amostra das intenções foi percebida durante a Texfair Home, que pela primeira vez abriu as portas dos pavilhões do Parque Germânia, em Blumenau, às fábricas estrangeiras, alterando a composição do evento. Isso porque, dos 120 estandes em exposição, 78 são nacionais, 34 chineses e o restante dividido entre indianos, italianos, paraguaios, uruguaios, portugueses e turcos.

A novidade pegou de surpresa até mesmo alguns expositores nacionais. Embora a justificativa do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Vestuário de Blumenau (Sintex) seja a de que a abertura é um movimento em direção à qualificação da feira, com componentes utilizados pela própria indústria nacional e com maior foco na decoração, não é difícil encontrar na ala asiática produtos como cortinas e travesseiros já acabados. Além disso, boa parcela dos sites dos grupos chineses oferece linhas diversificadas de produtos industrializados, o que gera desconforto em alguns fabricantes nacionais e temores com a possibilidade de ampliação dos 8% de participação no mercado nacional.

É o que revela o diretor comercial da Altenburg, grupo sediado em Blumenau e que há dois anos mantém média superior a um milhão de travesseiros vendidos apenas no mercado interno. Na avaliação de Glaucio Gil, a presença de empresas chinesas pode atrair a atenção de clientes aos produtos importados. “Não concordamos com essa participação massiva. O foco da maioria das empresas, pelo que observamos, é maior na parte de tecidos, decoração e cortinas. Entretanto, percebemos que eles também trabalham com cama, mesa e banho em escala mundial. Não são fornecedores nossos e representam um ponto negativo. Nada impede que os clientes daqui comprem diretamente da China, o que não valoriza em nada a nossa indústria”, considera.

O presidente do Sintex, entidade organizadora da Texfair, defende a iniciativa e afirma que, em eventos realizados em outros estados, não há contrariedade à participação de estrangeiros. Ainda segundo ele, o sindicato busca disciplinar o processo de integração. “Trata-se de um caminho natural. Abrimos neste ano, mas de modo muito seletivo. Em outras feiras, isso é uma realidade. Vamos seguir o mesmo caminho de maneira mais disciplinada e seletiva. Hoje o próprio expositor é um importador. Todos complementam suas linhas com produtos de fora”, explica.

Alheios às discussões, alguns diretores de marcas asiáticas revelam suas intenções. Conforme explica o gerente da Quinuo, Tony Xi, que pela primeira vez participa de um evento no Brasil, mesmo que já tenha intimidade com o idioma, a meta é abrir um canal “ainda inexistente” de distribuição de cortinas. O grupo, oriundo da cidade de Shaoxing, considerada a capital têxtil do gigante asiático, espera triplicar as vendas internacionais de cortinas, que fecharam 2012 em 150 contêineres. E uma das apostas, comenta Xi, é o Brasil. “Por enquanto, não exportamos para cá. Há dificuldade de preço neste mercado, mas a melhor maneira de fazer isso é estando aqui com uma chance de conhecer melhor o Brasil. Acho que o melhor é liberar a nossa entrada, porque nós fazemos mais quantidade e de melhor qualidade para todo o mundo”, sintetiza.

Em meio aos estandes de travesseiros e almofadas acabadas, o também estreante em eventos nacionais, diretor-geral da Pacific Home Fashion, Gordon Chu, não esconde as expectativas. Do total de US$ 60 milhões embarcados pelo grupo sediado na província de Shandong em 2012, apenas US$ 1 milhão foi destinado ao Brasil. “Já temos alguns clientes e queremos ampliar. Muitos estão interessados nos nossos produtos, mas a exportação de almofadas e travesseiros para cá é insignificante. Queremos aproveitar essa oportunidade para aumentar a nossa presença aqui, pois percebemos nos compradores brasileiros uma estabilidade positiva ao negócio”, afirma.
Copa 2014 e Olimpíadas atraem foco das empresas

As oportunidades geradas pelos eventos esportivos que serão realizados no País em 2014 e 2016 já começam a deixar seus reflexos no segmento de têxteis para o lar. O processo de ampliação do número de leitos na rede hoteleira têm contribuído também com a demanda por itens de decoração, cama, mesa e banho. Atento ao momento, o presidente da Anatex, Paulo Cezar Silva, elaborou um projeto voltado especificamente ao setor.

Após pesquisa de mercado, uma das linhas da tecelagem da fabricante de cortinas sediada no Sul de Minas Gerais foi destinada exclusivamente para a confecção dos produtos diferenciados. Segundo ele, por exigir material mais sofisticado e padrões variáveis, a produção é repleta de especificidades, que podem ampliar o custo de fabricação das peças em até 20%.

Entretanto, a meta é ambiciosa, e 15% do faturamento anual, em 2013, deve ser gerado com o novo nicho de mercado. “Existem padrões específicos para cada hotel. É quase como uma concorrência pública. É algo bastante promissor e não é restrito apenas à Copa do Mundo. Temos Olimpíadas e muita coisa a ser feita. Não há uma fábrica que se destaque neste tipo de atuação e que atinja a todos os estados, principalmente quando falamos de cortina de alto padrão”, explica.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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