O tempo pode estar se esgotando para os últimos tênis ainda fabricados nos Estados Unidos.
A New Balance Athletic Shoe Inc., do ex-maratonista Jim Davis e da esposa dele, Ann, é a única fabricante de calçados esportivos que ainda possui fábricas nos EUA. Estas fábricas produzem cerca de um quarto dos tênis que a empresa vende no país. O resto é importado.
A companhia continuou produzindo seus calçados nos EUA, mesmo que isso significasse menos lucro. A New Balance disse que a flexibilidade de suas fábricas nos EUA e a habilidade de entregar os produtos em questão de dias, e não semanas, ajudam a compensar os custos mais altos. Mas a pressão de suas rivais para o fim de tarifas de importação para tênis de corrida, como parte de um acordo comercial mais abrangente, poderia finalmente acabar com a estratégia da New Balance de fabricar nos próprios EUA.
"Uma rápida redução dos atuais acordos (tarifários) colocaria nossas fábricas aqui em significativo risco", disse Robert DeMartini, diretor-presidente da New Balance, sediada em Boston, e que vem lutando para manter as tarifas inalteradas.
Há uma longa tradição das empresas norte-americanas, incluindo as montadoras de automóveis, de lutar por barreiras comerciais para conter os concorrentes estrangeiros. O que é incomum no caso da New Balance é que essas mesmas tarifas que beneficiam suas fábricas nos EUA também elevam os custos de uma parte muito maior de sua produção de calçados, que é feita fora do país.
Impostos de importação para calçados existem nos EUA desde a década de 1930, quando o país ainda tinha uma grande indústria doméstica de calçados que queria proteger da concorrência internacional. Mas, atualmente, os EUA importam 99% de seus calçados, principalmente da Ásia.
A New Balance, com vendas no ano passado de US$ 2,4 bilhões, vê as tarifas de importação como um dos diversos fatores que mantêm sua operação nos EUA viável. A empresa comprou maquinário novo e reduziu desperdícios em suas fábricas americanas, que empregam um total de 1.350 pessoas.
A New Balance informa que o custo para produzir calçados nos EUA é entre 25% e 35% maior do que na Ásia.
As tarifas de importação de calçados, que variam amplamente, dependendo de características como os tipos de materiais utilizados, podem acrescentar cerca de US$ 3 a US$ 5 ao preço médio de um par de tênis de corrida importado. Pode não parecer muito, mas a New Balance diz que a falta dessa proteção tornaria sua estratégia de fabricação nacional bem mais difícil.
Se as tarifas forem eliminadas, "isso permitirá que os nossos concorrentes obtenham margens ainda maiores", disse Matthew LeBretton, um porta-voz da New Balance, e "eles (os rivais) poderiam então reinvestir isso em seus negócios".
A batalha pelas tarifas acontece num período em que a manufatura norte-americana parece estar à beira de um renascimento, impulsionado por forças que devem favorecer empresas como a New Balance. Os salários na China subiram quase 20% ao ano desde 2007, incentivando muitos fabricantes a transferir trabalhos que exigem mão de obra intensiva para países com custos mais baixos, como o Vietnã. Mas os custos também estão subindo em outras partes da Ásia.
Um estudo recente da empresa de pesquisas Boston Consulting Group prevê que em 2015 haverá apenas uma diferença de 10% entre os custos de fabricação de produtos como máquinas, móveis e plásticos na China e nos EUA. Mas os calçados não estão entre esses produtos.
Os oponentes às tarifas dizem que o acordo comercial proposto afetaria apenas uma pequena parte das importações de calçados dos EUA. Isso devido principalmente ao fato de que a China não é uma das dez outras nações da Bacia do Pacífico, juntamente com os EUA, que estão incluídas no tratado. Mas a medida beneficiaria o Vietnã, que fornece pouco mais de 8% dos calçados importados pelos americanos.
A Nike Inc., com sede em Beaverton, no Oregon, e forte rival da New Balance, está entre as empresas que lutam contra as tarifas. "Impostos mais baixos nos permitiriam reinvistir o que fosse economizado em inovação e na manutenção da nossa competitividade global, resultando em empregos com salários mais altos nos EUA", disse Greg Rossiter, porta-voz da companhia.
Veículo: Valor Econômico