Cotação ilegal chegou a 8,63 pesos após o governo implementar novas medidas de cerco à moeda estrangeira
'Arbolitos', como são chamados os cambistas de rua, têm faturado alto; 'troco no paralelo', diz um em portunhol
"É sempre assim, basta o governo anunciar uma restrição, e as pessoas correm para comprar no 'blue' (paralelo), com medo do que pode acontecer. Hoje, por exemplo, eu estou ficando sem bilhetes", declarou um "arbolito", vendedor ilegal de dólares, à Folha, ontem, perto de um outlet de roupas de couro, no bairro de Villa Crespo.
Os "arbolitos", que podem ser encontrados nas principais ruas comerciais de Buenos Aires ou atendem em casa, após pedidos por telefone, têm tido dias movimentados.
Ontem, o dólar paralelo voltou a subir na Argentina, atingindo o recorde de 8,65 pesos, cerca de 69% de diferença com relação ao oficial, vendido a 5,10. A nova alta ocorre poucos dias após o governo implementar novas medidas de cerco ao dólar.
Desde segunda-feira, a taxa retida pela Afip (Receita Federal) pelas compras com cartão de crédito no exterior subiu de 15% para 20%. A cobrança também é feita sobre passagens e pacotes turísticos para o exterior.
"A uma semana da Semana Santa, isso vai quebrar as pernas das agências", diz um operador de turismo à Folha.
Para o economista Nestor Scibona, era previsível que o governo encareceria os gastos em turismo ao exterior. "É uma das poucas janelas abertas para que as pessoas comprassem dólares mais baratos do que no mercado 'blue' e os gastassem fora do país."
Scibona considera que é possível especular que, se esse controle não dê resultados, o governo pode "recorrer no futuro a outra receita do passado: o desdobramento do tipo de câmbio, com cotações diferentes para o comércio exterior, o turismo e as operações financeiras".
Para Marina Dal Poggeto, do estúdio Bein, a nova medida chega num contexto em que balança de turismo se tornou negativa. "O mecanismo que encontrou o governo foi o desdobramento cambiário não formal via impostos".
As medidas desta semana integram uma série de restrições que o governo vem impondo à compra de dólares desde outubro de 2011. O governo as justifica como forma de deter a fuga de capitais, que naquele ano atingiu a cifra de US$ 20 bilhões.
Os "arbolitos" que trabalham nas ruas comerciais dizem que são abordados por turistas para trocar dólares por pesos, mas não muitos.
"Às vezes vendo pesos para brasileiros, mas no geral eles têm medo e preferem ficar na fila da casa de câmbio oficial", diz o "arbolito" da Villa Crespo, que conta que aprendeu português para poder dialogar com o turismo brasileiro. "Troco no paralelo, troco no paralelo", ensaia, em bom portunhol.
Veículo: Folha de S.Paulo