Produto funcional é mais caro e vende mais

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Margarina que ajuda a controlar o colesterol; iogurte para regular o intestino; água que melhora a vitalidade da pele; e suplemento para manter a saúde dos músculos e ossos. Alimentos funcionais despertam interesse de multinacionais e empresas brasileiras, que vêm registrando seus produtos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No ano passado a agência aprovou 170 deles, um salto considerável em relação aos oito produtos aprovados há 12 anos, quando começa a série histórica informada ao Valor.

No total, a Anvisa, cuja licença para um alimento ou bebida funcional dura cinco anos, já deu sinal verde para 720 produtos (ver gráfico nesta página).

O funcional, em geral, é mais caro do que o produto comum e o desempenho nas vendas também costuma ser maior do que o da média do mercado. É o caso da margarina Becel pro-activ, único produto do portfólio da Unilever que é funcional. Essa margarina conter fitoesteróis - substâncias que auxiliam na redução da absorção de colesterol - seu desempenho se destaca no setor.

"Enquanto o mercado de margarinas caiu 2,9% em 2012, as vendas de Becel aumentaram 4% devido ao reconhecimento do produto como benéficos à saúde cardiovascular", diz a gerente de marketing de Becel, Carolina Valim.

Enquanto a demanda por esse tipo de produto cresce, os preços aumentam. Segundo a Nielsen, a venda dos iogurtes funcionais nos últimos dois anos encerrados em setembro de 2012 aumentou 4,6% e a dos não funcionais, 2,4%. E a diferença de preço entre eles, considerando o mesmo fabricante, foi de 37% no ano passado.

No mesmo período, as vendas do arroz comum mostraram retração de 3,% enquanto o integral teve 14% de alta. Um quilo de arroz padrão custava R$ 1,93 e o integral, R$ 4,56 - diferença de 136%.

De olho nesse mercado, a brasileira Bioleve lançou há três meses a água com colágeno, fibras e vitaminas, que promete "melhorar a vitalidade da pele e prevenir o envelhecimento precoce". A companhia tem 2,4% do mercado de água mineral no país e pretende lançar neste ano mais produtos funcionais. "Decidimos entrar no segmento de bebidas funcionais porque além de ser benéfico à saúde, também está crescendo mundialmente", diz a gerente de qualidade da Bioleve, Rosângela Guersoni. No portfólio a bebida não é tratada como uma água comum. É vendida em farmácias, centros de estética e academias de ginástica.

A francesa Danone tem dois produtos com alegação de propriedade funcional (probióticos) em seu portfólio no Brasil. São eles Actimel e Activia, vendidos também em outros 68 países. Este último foi lançado no país em 2004 e detém a liderança, com cerca de 13% de participação no faturamento do mercado de produtos lácteos frescos, segundo a empresa. Seu motor de inovação é o Centro de Pesquisas Daniel Carasso, sediado em Palaiseau, na França, onde estão mais de mil cientistas nas áreas de nutrição e saúde humana.

A concorrente Nestlé, maior fabricante mundial de alimentos, está jogando suas fichas e 500 milhões de francos suíços, aplicados entre 2011 e 2021, nesse mercado. Em 2011, a dona de marcas conhecidas como Ninho, Nescafé e Maggi, criou o Instituto de Ciências da Saúde da Nestlé, dentro da escola politécnica de Lausanne, na Suíça. Assim, iniciou um ambicioso projeto, que inclui o Brasil, para reforçar sua presença no novo segmento da indústria de alimentos que atua na fronteira entre alimentos e medicamentos.

Em Lausanne, 50 pesquisadores em biologia molecular, genética, engenharia de alimentos e nutrição trabalham no desenvolvimento de produtos úteis na prevenção e tratamento da diabete, obesidade, doenças cardiovasculares e mal de Alzheimer, para diversos mercados.

"O envelhecimento da população mundial, o aumento da expectativa de vida e a valorização da nutrição são fatores de crescimento deste mercado", diz o diretor da divisão Health Science da Nestlé, Marco Hidalgo. No país, a empresa tem 18 alimentos funcionais em seu portfólio; os dois últimos lançamentos desenvolvidos localmente são o suplemento infantil Nutren Kids e Nutren Senior, para pessoas acima de 60 anos, com proteína, vitamina D e cálcio, benéficos na manutenção da saúde muscular e óssea.

O mercado de saúde e do bem-estar movimenta US$ 154 bilhões, segundo a pesquisa da Euromonitor International. E o Brasil corresponde a US$ 13 bilhões das vendas, 35% dos negócios na América Latina.

"Relevantes pesquisas científicas na área de nutrição têm levado a uma série de descobertas de ingredientes e propriedades para a saúde que podem ser incorporados aos alimentos", diz o diretor da feira internacional de alimentos funcionais Vitafoods, Chris Lee. O evento, cuja segunda edição ocorreu nesta semana em São Paulo, mostrou novidades como o requeijão com colágeno. Neste produto, o benefício é a substituição parcial de gordura por proteína (ver reportagem abaixo sobre o uso de proteína em diversos produtos). A inovação é proposta pela Rousselot, fabricante de gelatinas e colágeno para as indústrias de alimentos e farmacêutica.

Os mercados com maior crescimento nas vendas de produtos funcionais são China, Brasil e Arábia Saudita, mas o perfil de consumo varia de acordo com a população. A idade, conforme a analista do setor de saúde e bem estar da Euromonitor, Diana Cowland, é determinante nas necessidades nutricionais e psicológicas: "Populações jovens com média de idade inferior a 30 anos colocam maior foco em aproveitar a vida, priorizando alimentos que aumentam a energia, enquanto populações mais velhas, com média de idade de 50 anos, favorecem produtos que melhoram a saúde cardiovascular."

Para divulgar a funcionalidade de um alimento ao consumidor, o fabricante é obrigado pela Anvisa a apresentar estudos, em laboratório e em humanos, que comprovem a segurança e a eficácia dos componentes adicionados. "Temos que avaliar a veracidade da alegação científica, um procedimento que ocorre em qualquer país", diz a gerente de produtos especiais da Anvisa, Antonia de Aquino.

"A regulamentação começou há 12 anos - e é necessária. A ideia é proteger o consumidor e não inibir o mercado. Mas, de fato, a indústria não consegue atender às exigências e demonstrações exigidas", diz o professor titular do departamento de alimentos da USP e consultor técnico de alimentos funcionais da Anvisa, Franco Lajolo.

Para contornar a dificuldade e avançar no desenvolvimento de alimentos mais complexos, Lajolo aposta na parceria da indústria com a universidade. "O futuro está na dieta individualizada", diz o professor, ao considerar que a dieta tem impacto diferente sobre cada subgrupo genético.

As dificuldades e gastos com pesquisas são encarados como barreira pela indústria, mas quando a Anvisa aprova um alimento funcional, seu fabricante está autorizado a divulgar seu diferencial. Um exemplo: o iogurte Activia, da Danone, que contém o bacilo "dan regularis" e, conforme as pesquisas, melhora o ritmo do intestino.

Segundo o analista de mercado da Nielsen, Claudio Czarnobai, com o aumento da renda, existe uma migração generalizada para produtos de maior valor agregado. "Entre os grandes discursos que promovem a movimentação de consumidores estão sofisticação, indulgência, conveniência e saudabilidade", diz.



Veículo: Valor Econômico


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