Historicamente volátil, o mercado de leite longa vida iniciou este ano com estoques baixos, o que tem gerado uma disputa pela matéria-prima, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV).
Diante desse cenário de pressão de alta para a matéria-prima, a indústria tem buscado repassar o aumento para o produto final e, com isso, conseguiu reequilibrar a rentabilidade no primeiro trimestre de 2013, diz a entidade. "Se a matéria-prima continuar sendo disputada, a indústria tentará repassar", afirmou Cláudio Teixeira, que acaba de assumir a presidência da ABLV.
A concorrência pela matéria-prima é ainda reflexo da alta dos custos de produção do setor leiteiro no ano passado. De acordo com a entidade, os custos elevados forçaram uma redução dos estoques de leite longa vida, que atingiram um nível crítico em setembro de 2012 - 100 milhões de litros, o equivalente a sete dias de produção. Para efeito de comparação, os estoques no mesmo mês de 2011 somavam 300 milhões de litros, ou 17 dias de produção.
Teixeira afirmou que no ano passado a indústria trabalhou com margens "estreitas ou inexistentes". Além dos custos mais elevados da matéria-prima, a pulverização do setor, que tem mais de 80 marcas, também contribuiu para o achatamento de margens de um segmento com rentabilidade já historicamente baixa.
O período de maior dificuldade foi em meados do segundo semestre. Segundo Teixeira, nesse momento a indústria de longa vida pagava, em média, 5 centavos de real a mais por litro de leite adquirido do produtor do que um ano antes. Outros custos (incluindo logística e mão de obra) estavam 10 centavos acima de igual período de 2011. Em contrapartida, o preço médio do longa vida nas vendas da indústria para o varejo estava 6 centavos de real abaixo do verificado um ano antes.
Ainda que o cenário tenha sido adverso - levando empresas a dificuldades -, a produção de leite longa vida em 2012 cresceu 5,3%, para 6,125 bilhões de litros em relação ao ano anterior, conforme a ABLV. A evolução decorreu do crescimento vegetativo da população, mas também do fato de que o leite UHT vem ganhando espaço no mercado do produto pasteurizado e do leite informal. No primeiro caso, as vendas recuaram 12%, para 1,3 bilhão de litros em 2012. Já as de produto informal caíram 14,6%, para 1,520 bilhão de litros no ano passado, segundo a associação.
Com esse avanço, a participação do leite longa vida nas vendas dos chamados leites fluidos no Brasil atingiu 81% em 2012. Trata-se de uma elevação de três pontos percentuais em relação a 2011. Além disso, observou Teixeira, o longa vida esteve presente em 88% dos domicílios brasileiros no último ano.
Para este ano, a previsão é de um crescimento de 3% a 4% na produção e venda de longa vida, diz a ABLV. As razões para o avanço devem ser as mesmas vistas no ano que passou. O crescimento tímido da oferta de matéria-prima no país inibe um maior avanço da produção de leite longa vida. "A produção de leite no Brasil cresce pouco por isso a disputa [por matéria-prima] deve continuar", estimou o dirigente da ABLV, que preside a Italac.
Segundo a entidade, a produção brasileira de leite foi de 32,4 bilhões de litros em 2012, aumento de apenas 1% sobre o ano anterior.
Além da busca do equilíbrio nas margens da cadeia produtiva de longa vida, Teixeira disse que a qualidade do produto segue uma prioridade. Em 2008, a ABLV criou um programa de monitoramento da qualidade do longa vida. Desde a implantação, já foram realizadas cerca de 1.600 análises de 80 marcas comercializadas no país.
Veículo: Valor Econômico