De olho nas vendas de roupas no período natalino, grandes players do setor supermercadista passaram a investir na reconfiguração da área têxtil para atrair o consumidor que ainda não está acostumado a comprar roupas em hipermercados, e assim, ganhar capilaridade para disputar clientes com grandes redes de departamentos como C&A, Lojas Renner e Riachuelo. Desta forma, supermercados como o Pão de Açúcar , GBarbosa e Wal-Mart, prevêem crescimento nas vendas de até 25% na comparação com 2007.
No comércio varejista, o setor de vestuário é tradicionalmente um dos mais aquecidos durante o período de vendas natalinas. Por isso, a estratégia do Grupo Pão de Açúcar para alavancar as vendas na área foi contratar, há quatro meses, Sidnei Fernandes, executivo com 24 anos de experiência na C&A, para comandar a diretoria de Têxtil. Para as vendas de dezembro, a rede espera alta de 20%, fato que também se deve à reformulação pelo qual o departamento passa. "Desenvolvemos uma nova marca para a companhia, com aspecto mais moderno e dividido em quadro estilos: tendências, casual, clássica e esportiva", explicou Fernandes.
De acordo com o executivo, a rede tinha uma marca voltada para moda e outra casual e a idéia foi concentrar os esforços em uma marca principal e compor estilos diferentes. Em setembro a nova coleção foi apresentada em um lançamento exclusivo para o público interno e após a aprovação o próximo passo foi levar as novidades para os pontos-de-venda.
Para receber o novo conceito de vestuário a equipe de Têxtil passou mudar, inclusive, o layout das lojas, informando melhor a clientela sobre as marcas e enfatizando a qualidade dos produtos, já que muitos não têm o costume de comprar roupas em supermercados. "Estamos passando por um processo de reconstrução da marca própria de vestuário no Grupo, mas é a partir do ano que vem que investiremos pesado na comunicação para este setor."
Antes as lojas do Extra e Pão de Açúcar comercializavam três marcas para o público adulto e duas para o público infantil. Algumas unidades ainda têm a coleção, mas o intuito é retirá-las gradativamente. O investimento nesta reformulação não é revelado, entretanto, a meta é elevar a participação das vendas de vestuário dentro da categoria não alimentar, em 6%.
Os planos do Grupo Pão de Açúcar (GPA) englobam ainda incrementar a participação no faturamento da área com os produtos da licenciadora de roupas norte-americana Cherokee, cujo contrato exclusivo completou um ano. A marca está presente em 45 lojas distribuídas no País, sendo que em algumas regiões, sua participação nas vendas de vestuário chega a quase 10%. Fernandes conta que está montando um time para desenvolver produtos para esta marca.
Valor
A quarta maior rede supermercadista do País e segunda maior do Nordeste, a GBarbosa - que faturou R$ 1,8 bilhão em 2007 -, pertencente ao grupo chileno Cencosud, revelou que está revendo todo o mix de marcas para o próximo ano. "Nossa meta é trabalhar com as marcas mais valorizadas pelo público. O grande varejo errou por muito tempo, pois comprava apenas roupa básica e abria mão da qualidade", analisou Leandro Cardoso, gerente de Bazar e Têxtil da varejista.
A rede vê crescimento de até 25% para este Natal, e o gerente da rede enfatiza que "a crise ainda não chegou na região, como apontam nossos indicadores". Por isso, a rede presidida por Gerard Scheij garante ter investido mais na qualidade dos produtos e mantido os preços acessíveis.
O executivo, que já trabalhou no Grupo Pão de Açúcar e no Carrefour, afirma que no Sudeste "os clientes ainda têm preconceito com a roupa vendida em supermercado", entretanto, no Nordeste "é mais comum as pessoas saírem da loja com roupa na sacola".
Da mesma forma que Grupo Pão de Açúcar, a GBarbosa iniciou no segundo semestre uma reforma mirando um crescimento de dois dígitos nas vendas do setor pra 2009, na categoria não alimentar. O último hipermercado inaugurado pela companhia, em Aracaju, foi formatado para atender os públicos das classes A e B, e a disposição do setor fica próximo ao de eletroeletrônicos, valorizando esta área.
Ao contrário dos concorrentes, a rede fundada pelos irmãos Gentil e Noel Barbosa, não possui produtos com marca própria. A política da empresa para este segmento não foi definida pela ex-dona, a holandesa Ahold, mas a expectativa é que a nova controladora chilena avance nesse sentido. "Quando esta questão [da marca própria] for definida exploraremos a força da GBarbosa no têxtil", disse Cardoso.
Intercâmbio
Lançada há dois anos no Brasil pelo Wal-Mart, a marca própria de roupa George, uma das três mais vendidas no Reino Unido, serve de benchmarking para a operação brasileira da maior varejista do mundo. "Nossa equipe de desenvolvimento compartilha muitas informações com o time da George, na Inglaterra, sempre adaptando as coleções ao perfil do brasileiro", pontuou Adriana Ramalho, diretora de Têxtil do Wal-Mart Brasil. A companhia que detém nove bandeiras em 18 estados prevê alta de 20% nas vendas para o setor no período natalino.
As filiais instaladas no Nordeste e Sul receberam mais produtos, por estarem no litoral. Segundo a diretora, foi criada uma linha exclusiva de importados. "Há algumas semanas entregamos mais de 20 mil bolsas que foram consumidas em menos de dez dias." Para 2009, a meta é investir nas linhas casual e esportiva e aumentar em até 15% as vendas.
Veículo: DCI