Lençóis afrodisíacos e hidratantes, lingerie que diminui a celulite, camisetas autobronzeantes e roupas que monitoram os batimentos cardíacos ou mudam de cor de acordo com a variação das emoções.... As inovações tecnológicas da indústria têxtil na França ganharam papel fundamental na sobrevivência desse fragilizado setor, que perdeu 500 mil empregos desde os anos 1980 em razão da transferência de fábricas para outros países e da concorrência asiática.
O "renascimento" na França está ocorrendo graças a esses novos materiais. Os chamados tecidos inovadores (ou técnicos) já representam 40% da produção têxtil do país, segundo o Observatório de Tecidos Técnicos do Instituto Francês da Moda (IFM).
Os setores têxtil e de confecções são emblemáticos na desindustrialização que afeta a economia. Hoje, reúnem apenas 100 mil empregos. Nessa guerra, as indústrias resistem utilizando como arma a inovação tecnológica e diversificação dos mercados. Os tecidos técnicos são utilizados em satélites e foguetes, trens-bala, construção civil, indústria automobilística e até para confeccionar cordas de violino ou fios cirúrgicos reabsorvidos pelo organismo. Os tecidos inovadores representam 5,5 bilhões de euros em vendas na França, com crescimento anual de 6%, enquanto o setor têxtil-vestuário apresenta quedas consecutivas no faturamento desde 2008.
Preocupados com o possível desaparecimento de um pilar histórico da indústria francesa e também do continente, o governo da França e a União Europeia apoiaram a criação do Centro Europeu de Têxteis Inovadores (Ceti), um espaço de 15 mil m² inaugurado em outubro passado, com investimento de 40 milhões de euros. Ali estão instalados laboratórios com equipamentos de ponta que desenvolvem atualmente pesquisas nas áreas de Tecidos não Tecidos (TNT) e novas fibras. O objetivo é transferir tecnologia para as indústrias com a criação de protótipos e produção em pequena série.
A escolha do local não foi por acaso: o Ceti se situa entre as cidades de Tourcoing e Roubaix, nas proximidades de Lille, no norte da França, um grande polo têxtil do país desde a Revolução Industrial. "A inovação criou um novo mercado. O crescimento dos têxteis técnicos compensa a queda dos têxteis tradicionais", disse ao Valor Marc Honoré, diretor-geral do Ceti. "Conseguimos estabilizar o número de empregos nessa indústria na região graças à inovação."
Uma centena de pessoas trabalha no Ceti. Mas como o centro tem parcerias com inúmeros laboratórios científicos no país, outra centena de pesquisadores externos também colaboram diretamente. O orçamento anual previsto é de € 10 milhões.
As pesquisas desenvolvida no centro europeu estão voltadas para a área de Tecidos Não Tecidos (TNT). Envolvem a criação de materiais para sistemas de filtração de ar e de outras substâncias, como até mesmo o vinho, e também a isolação térmica de prédios ou ainda roupas, além da reciclagem de fibras. Melhorias nos TNTs utilizados por indústrias de higiene pessoal e limpeza estão em estudo. O Ceti também estuda desenvolver fibras com produtos agrícolas como o milho e a beterraba. As pesquisas com os nanotêxteis também são prioridade. Vão se concentrar em fios condutores de eletricidade para criar tecidos mais resistentes e que se iluminam.
A região Norte-Pas de Calais, onde o Ceti está instalado, criou o Textil 2020, que reúne polos de pesquisas têxteis na Europa. A ideia é fazer parcerias com países como o Brasil e também abrir mercados, já que associações de empresas também integram esses centros, diz Honoré. Um representante do Ceti esteve no Brasil em meados de Brasil para iniciar os contatos.
Veículo: Valor Econômico