A esperança dos acionistas da Dell de obter uma oferta que superasse os US$ 24,4 bilhões pactuados pela compra da fabricante de PCs foi derrubada na noite de quinta-feira, com a divulgação da notícia de que a companhia de participações em empresas Blackstone tinha abandonado sua tentativa de uma oferta concorrente.
Mas, com um grupo central de acionistas que ainda promete combater o negócio, e com a Dell enfrentando uma nova e perigosa redução em sua principal área de atuação, a de PCs, pessoas familiarizadas com o negócio advertiram que o resultado ainda está longe de ser conhecido.
Na manhã de sexta-feira, as ações da Dell caíram para níveis inferiores a US$ 13,65, que foi a base da oferta de compra anunciada em fevereiro. O recuo, o primeiro em mais de dois meses, foi de quase 4%, para US$ 13,44, e ocorreu enquanto Wall Street digeria as implicações da retirada da proposta do Blackstone.
O movimento pareceu remover o maior obstáculo à proposta apresentada pelo fundador da fabricante, Michael Dell, e pela Silver Lake, companhia de participações em empresas de tecnologia.
Um executivo que se opõe ao negócio, no entanto, advertiu que uma disputa acirrada ainda será travada em torno dos votos de acionistas que a Dell precisa obter para fechar um negócio. A Southeastern Asset Management e a T Rowe Price, os dois maiores investidores institucionais da Dell, se manifestaram contra a oferta, e o investidor ativista Carl Icahn também não se mostrava convencido.
Mesmo se os acionistas aprovarem a operação, uma nova batalha deverá se seguir, desta vez na Justiça. Por meio dela, alguns contestarão a avaliação embutida na oferta, segundo o opositor. Os acionistas podem exercer o que é conhecido como seus direitos de avaliação, ao pedir a um juiz que determine o preço justo para os ativos da empresa.
Essa contestação judicial envolve riscos, no entanto, uma vez que o tribunal poderá fixar um valor inferior aos US$ 13,65 que balizaram a oferta de compra.
As ações da Dell estavam sendo negociadas a apenas pouco mais de US$ 10 na virada do ano, antes que surgisse a oportunidade de uma compra. Desde então, as perspectivas futuras sobre áreas fundamentais de suas operações continuaram a se deteriorar.
O Blackstone atribuiu a decisão de desistir de sua oferta em parte devido a uma nova redução das projeções financeiras da Dell. O lucro operacional previsto para este ano caiu de US$ 3,7 bilhões para US$ 3 bilhões. A deterioração marca outra diminuição numa série de metas financeiras rebaixadas. "Atuo nesse setor há muito tempo e nunca vi nada parecido", disse uma pessoa familiarizada com a situação financeira da Dell.
Pessoas bem-informadas sobre a posição do Blackstone disseram que outros fatores que pesaram sobre sua decisão de abandonar o negócio foram a falta de conhecimento tecnológico próprio e o volume de dinheiro da Dell mantido no exterior.
Duas notícias em pouco mais de uma semana deram maior crédito às advertências sobre as perspectivas da Dell. Uma foi a notícia de que as vendas de PCs no primeiro trimestre caíram de forma mais acelerada que o previsto. Em outro sinal ruim para as perspectivas da Dell, foi divulgado na noite de quinta-feira que a Lenovo, a fabricante chinesa de PCs, estaria negociando a compra da divisão de servidores mais comuns da IBM, baseados na mesma arquitetura de chip x86 usada nos PCs.
Veículo: Valor Econômico