Segundo estudo da Fiesp, energia mais barata, menos impostos e legislação trabalhista flexível explicam a diferença de competitividade
O custo de produção de uma calça jeans no Paraguai é 35% inferior ao do Brasil, aponta um estudo realizado pela própria Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No Brasil, uma calça jeans sai para o fabricante a US$ 7,75. No Paraguai, é de US$ 5,73. Esses números ajudam a explicar porque os empresários do setor têxtil estão entre os mais dispostos a investir no Paraguai.
Nas confecções paraguaias, os salários médios são cerca de 20% mais baixos que no Brasil, o que, junto com uma legislação trabalhista mais flexível, se transforma num ímã para um setor intensivo em mão de obra, mesmo após a desoneração da folha de pagamento promovida pelo governo Dilma Rousseff.
O ímpeto do setor têxtil e também do de calçados é tão expressivo que está ajudando a mudar o perfil do investimento brasileiro no Paraguai. Na década passada, só grandes companhias corriam o risco. Agora, a maior parte dos investimentos é de pequenas e médias empresas, variando de US$ 1 milhão a US$ 12 milhões, aponta o Centro de Análise e Difusão da Economia do Paraguai (Cadep).
Penalty. De acordo com levantamento do Cadep, a Penalty está fabricando parte de seus produtos em parceria com a Impar Paraguai, nas proximidades de Assunção. O grupo Dass, que fabrica os tênis Fila, Umbro e Trhyon, investiu US$ 5 milhões em uma fábrica própria no Paraguai. As duas empresas não deram entrevista.
Estimulado pela Adidas, que é a principal cliente da Vantex, o empresário Roberto Vanzini instalou no Paraguai a Global Confeciones. A empresa está instalada em Hernandarias, cidade paraguaia próxima da Tríplice Fronteira desde 2008.
"Hoje não está mais valendo tanto a pena quanto no início, por causa da valorização do guarani", conta Vanzini, que deixou a família em Cascavel (PR) a duas horas do Paraguai e viaja todas as semanas.
A tradicional fabricante de toalhas Buddemeyer também está produzindo no Paraguai. Segundo o diretor comercial, Rafael Buddemeyer, a companhia acaba de instalar uma joint venture com a Manufactura Pilar, empregando 50 pessoas.
"Hoje compramos a matéria-prima na China, Índia e Paquistão, produzimos no Paraguai e no Brasil e exportamos para a Europa", diz o executivo, para exemplificar a cadeia global que a empresa montou.
Alexandre Bazza é outro empresário brasileiro do setor têxtil que apostou no país vizinho e criou a Cortinerias de Paraguai, que fornece produtos para as empresas brasileiras Bella Janela e Pernambucanas.
"A logística é complexa porque importamos os insumos da Ásia pelo porto de Buenos Aires, trazemos pelo rio até Assunção e por caminhão até Ciudad del Leste, mas vale a pena", diz Bazza.
Polêmica. No início do mês passado, as vantagens de investir no Paraguai chegaram a virar tema de um seminário na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O evento causou mal-estar entre empresários do setor.
"Vemos com muita preocupação esse ataque do Paraguai", diz Aguinaldo Diniz, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Ele conta que empresas do setor tem sido abordadas pelo governo paraguaio, que expõe as vantagens de investir no seu país.
Para fontes do governo brasileiro, a promoção comercial "faz parte do jogo" e o Brasil "também joga". Além disso, a integração produtiva é benéfica para o Mercosul.
Veículo: O Estado de S.Paulo