A intensificação dos acordos bilaterais pode gerar novas oportunidades às empresas
A trajetória das relações comerciais entre Brasil e Japão sempre foi marcada pela exportação de produtos agrícolas e minério pelo lado brasileiro. Apesar da importância dentro do mercado japonês, este tipo de bens não agrega valor. Para garantir uma balança comercial vantajosa, a indústria brasileira precisa diversificar sua penetração na região. Após viver por um período no Japão, a pesquisadora Cristiane Serpa, do Centro de Estratégias e Negócios Internacionais do Ibmec, acredita que os fabricantes brasileiros possuem qualidade suficiente para diversificar as exportações para o país.
“Tem uma série de processos e produtos que o Brasil tem a possibilidade de investir. Você pode ampliar a penetração de produtos de moda, como joias e sapatos. São produtos que não concorrem com a China. A lógica de entrada é dentro da estrutura de diferenciação e qualidade”, explicou Cristiane.
O investimento em novas exportações, no entanto, não podem frear o ritmo dos negócios já existentes. “Não pode abrir mão da ideia de complementaridade das indústrias que existe. Temos que mantê-la e criar outras sinergias. Por exemplo, desenvolver negócios entre as empresas japonesas que investem aqui e as brasileiras que queiram entrar no Japão.”
A busca por novas oportunidades no mercado japonês pode acontecer na intensificação de acordos bilaterais, tornando a complementaridade das indústrias ainda maior. O caminho seria investir na exportação de semimanufaturados.“ Podemos aumentar a parceria com a integração nesta produção fracionada que existe hoje. Por exemplo, os japoneses têm uma forte indústria de autopeças e nós podemos fazer componentes para eles. É um mecanismo de troca na área industrial, que é nossa fragilidade”, afirmou Evaldo Alves, mestre em economia da Fundação Getúlio Vargas.
Com uma visão mais pessimista, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o Brasil ainda tem sua capacidade industrial fragilizada para disputar o mercado japonês, uma vez que tem China e Índia com condições logísticas favoráveis para abastecer o Japão. Além disso, os asiáticos já frustraram o Brasil como consumidores de vários produtos.
“O Japão tem uma política rigorosa, vários produtos agrícolas brasileiros não conseguem entrar. Havia uma expectativa do Japão serum grande importador de etanol, mas eles optaram por não usar de forma intensa. Além disso, até a compra de minério, que aumentou na última década, teve redução recentemente. É ummercado complicado para o Brasil disputar com China e Índia”, lembrou.
Veículo: Brasil Econômico