O gasto do brasileiro para comer e beber fora de casa aumenta há uma década acima da inflação. Desde 2003, acumula alta de 143%, bem acima da variação de 82% do IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação, o IPCA - só muda o período de coleta, que se encerra no dia 15 de cada mês.
Em sete desses dez anos, refeição, lanche e bebidas em restaurantes subiram mais do que a comida comprada para consumir em casa. Para especialistas, o hábito de comer fora encareceu mais do que a inflação com o aumento dos alimentos e custos maiores, como mão de obra (talvez o mais pesado com ganhos reais do salário-mínimo nos últimos anos).
O economista da Fundação Getulio Vargas André Braz destaca outro fator de pressão, a disparada dos aluguéis comerciais. “Com a valorização imobiliária nos grandes centros urbanos, os aluguéis têm tido uma valorização relevante.” Outro motivo para a alta é que o mercado de trabalho aquecido, que fez a renda subir e criou uma nova classe de consumidores, que passaram a frequentar mais restaurantes. Além disso, com o crescimento do emprego e mais mulheres no mercado de trabalho (e com menos tempo para cozinhar), comer fora tornou-se uma hábito mais frequente.
Segundo Marcelo Moura, economista do Insper, o avanço do rendimento e do emprego fez crescer a demanda por refeições fora de casa e permitiu ainda “um repasse maior de custos mais elevados” dos estabelecimentos, sobretudo a mão de obra. Neste ano, comer em casa subiu mais com o choque dos alimentos no Brasil devido ao clima desfavorável que fez disparar o preço de hortaliças, legumes e frutas - cujo caso emblemático é o tomate - e no exterior com quebra de safra de grãos em grandes produtores como os EUA.
Com isso, a alimentação no domicílio subiu mais (15,45%) do que fora de casa (10,49%). Em ambos os casos, porém, as altas superam às do mesmo período de 2012 e a inflação pelo IPCA-15 em 12 meses até abril (6,51%).
Comer em casa, porém, ainda é mais barato - custa, em média, um terço do valor da refeição em restaurantes. O especialista da FGV, no entanto, diz que a tendência para os próximos meses é de uma desaceleração dos custos do alimento, resultado da desoneração de itens da cesta básica, e de uma safra de grãos “mais robusta” neste ano.
Veículo: Jornal do Comércio - RS