São Paulo de todos os povos e mercadões

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Que o Mercadão, no Centro, é o mais famoso mercado municipal da cidade todos estão cansados de saber. Um dos principais pontos turísticos da Capital atualmente, o endereço atrai paulistanos, turistas brasileiros (quase 40% dos visitantes) e estrangeiros (5%), segundo uma pesquisa da São Paulo Turismo, realizada no fim do ano passado. Os outros 12 mercados municipais da cidade, no entanto, não fazem feio e podem valer o passeio.

Circular pelos corredores dos mercados de bairros também é uma maneira de conhecer, através da comida, o crescimento da cidade de São Paulo e as mais diversas contribuições culturais dos povos que aqui chegaram. Influenciados por movimentos migratórios e imigratórios, que determinaram os produtos comercializados nos locais, alguns desses pontos surpreendem. É o caso de Santo Amaro (alemães), Lapa (italianos) e de São Miguel Paulista (nordestinos).

Os primeiros registros de imigrantes em São Paulo datam de 1827, quando alemães se fixaram na região de Santo Amaro e Itapecerica da Serra. Quase dois séculos depois, não é de se estranhar que no mercado municipal de Santo Amaro você possa comprar meerrettich (raiz forte), sauerkraut (chucrute), apfelwein (vinho de maçã) ou kraueuterkaese (queijo fundido com ervas).

A zona leste, onde está o mercado de São Miguel Paulista, é a cara do Brasil, sendo o bairro homônimo, um dos mais populosos da cidade. Segundo dados de 2008 do IBGE obtidos na Prefeitura, a região possui mais de 410 mil moradores. Em 1920, começou a migrar para São Paulo um grande número de nordestinos, principalmente baianos e pernambucanos, que se instalou especialmente em São Miguel Paulista.

Um passeio pelo mercado municipal revela boas surpresas em meio a tantos produtos nordestinos bons e baratos. Que tal um bolo Puba, feito de mandioca, por R$ 9 o quilo?

Lapa – Inaugurado em 1954, o mercado municipal Rinaldo Rivetti, na Lapa, tinha entre seus primeiros clientes imigrantes europeus à procura de produtos da terra natal. Italianos e espanhóis compravam no local vinhos, bacalhau e azeites. Se o perfil da freguesia foi se alterando ao longo das décadas, alguns dos permissionários mais antigos ainda resistem, vendendo mais ou menos os mesmos produtos de 40 anos atrás.

"Ah, o mercado mudou bastante, mas eu sou uma pessoa conservadora. Estou aqui há 46 anos, sou casado há 52 e continuo com um box de cereais até hoje", diz Áureo Soares Agulha, 73 anos, filho de espanhóis.

Em Santo Amaro, aulas de alemão.

Cliente da Penedo, loja de frios e laticínios, entre outras iguarias, Roberto Heilmair é só elogios ao Mercado de Santo Amaro, na zona sul: "Há produtos excepcionais aqui. Encontro coisas que só iria achar no Santa Luzia ou no Santa Maria", diz, citando dois dos supermercados mais exclusivos de São Paulo. Filho de alemães, ele ressalta que, apesar de não haver muitas lojas no mercado público, elas são "muito boas".

"Pena que esse lugar não seja muito conhecido", lamenta Heilmair. Mas Daniel Hollaender, proprietário da Penedo, não tem do que reclamar. "As vendas estão bombando. Pelo menos 80% dos clientes são alemães." Até o cônsul da Alemanha em São Paulo é freguês. Para atender bem todo mundo, as funcionárias da Penedo tiveram aulas de alemão e hoje se viram muito bem no idioma germânico.

O alemão de Elvira Batista, mineira de Guanhães, perto de Governador Valadares, inclusive, vai muito além do guten morgen (bom dia) ou do guten tag (boa tarde)... Ela explica o que é o pumpernickel (pão), brotkörbchen (cesta de pães sortidos), isbein (joelho de porco defumado) e por aí vai.

Aos sábados de manhã, a Penedo tem um atrativo a mais. O alemão Thomas Huppert vende pães típicos, tudo fresquinho, que ele prepara de madrugada. Brezel, bägel, streuselkuchen sel, stollen. Tão gostoso quanto impronunciável.

Cachaça de centeio – Ali perto, o português Amadeu Martins Rosa, dono da Adega Beira Alta, vende cervejas alemãs, schlichte ("uma cachaça de centeio") e jägermeister, um destilado para "beber depois da feijoada". Mas o que a freguesia alemã gosta mais é de uma boa cachaça mineira. "Eles adoram caipirinha", diz Rosa, que está há 50 anos no Brasil e vende mais de 90 cachaças diferentes na adega.

São Miguel Paulista dos miúdos


O mocotó do SS Rei dos Miúdos é o melhor da região, segundo Armando José do Nascimento, pernambucano de Tacaratu e morador da zona leste desde que chegou em São Paulo, há exatos 20 anos.

Dono de uma 'casa do norte' chamada Recanto Nordestino, na Avenida Pires do Rio, Nascimento diz que o mocotó do açougue é "bem carnudo". "E não é seco também", completa ele, antes de colocar o saco de 28,4 quilos nas costas e correr para pegar o ônibus. "A cozinheira 'tá' esperando. Não posso ficar conversando", se desculpa.

Sarapatel, buchada de cabrito, testículo de boi, tripa de porco, coração de boi – "para churrasco" – são outros itens que fazem sucesso.

Cabrito – Agora, o que surpreende mesmo é saber que o Rei dos Miúdos vende cabrito inteiro (R$ 19,90 o quilo, em média 13 quilos cada animal) e nem precisa encomendar. "Nordestino faz muita reunião entre eles, então fica mais fácil assar um cabrito inteiro logo de cara", conta Satiro Fernandes, que "cuida" do açougue. Nascido na Lapa, zona oeste, Fernandes, passou os primeiros seis meses indo para São Miguel e voltando todos os dias até se mudar de vez para o bairro.

Ao lado, na Queijos Padilha, as bolachas do Norte ("do Zé Bolacha"), vendidas a R$ 6 o quilo, saem como "água", segundo Thiago Pereira, filho do Márcio, há 32 anos no mercado. A clientela gosta também do bolo puba, R$ 9 o quilo, mas o soberano ali é o requeijão do Norte, a R$ 22,99 o quilo.



Veículo: Diário do Comércio - SP


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