Novo preço mínimo para o setor ficou abaixo do desejado

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O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, nesta semana, o reajuste do preço mínimo do café arábica de R$ 261,69 para R$ 307,00 a saca de 60 kg, valor que implicou elevação de 17,3%, mas que ficou aquém da nossa expectativa, já que aguardávamos, no mínimo, a aprovação da média do custo de produção calculada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de R$ 336,13 por saca, para a safra 2013.

Foram duas as justificativas apresentadas pelo governo para não chegar ao patamar de preço apurado pela estatal: (1ª) a preocupação com a possível inflação que um aumento maior no preço traria. Isso, porém, não se justifica, haja vista que, quando o café valia aproximadamente R$ 500 por saca não houve aumento nas gôndolas ou no cafezinho nos bares e restaurantes; (2º) e o fato do governo temer que uma correção maior no valor do café poderia fazer com que outros setores também pedissem elevações, o que também consideramos injustificável, uma vez que o preço de referência do café estava congelado desde 2009.

Por outro lado, não podemos esquecer que a aprovação do novo preço mínimo do café, ainda que em patamares aquém do tecnicamente solicitado, representa a conclusão da segunda de quatro etapas de uma política estratégica para a cafeicultura brasileira. A primeira delas foi a prorrogação dos vencimentos de estocagem, que venceriam em março e abril, por 12 meses, com início do pagamento em junho, fato que impediu a entrada imediata e de uma só vez de cerca de 2,5 milhões de sacas no mercado e a subseqüente pressão sobre as cotações.

A terceira etapa está em vias de ser concluída ainda em maio, pois é aguardado que o CMN defina a distribuição dos R$ 3,1 bilhões para as linhas de financiamento do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), como estocagem, custeio e colheita. A previsão é que o Conselho Monetário Nacional aprove voto nesse sentido em sua reunião ordinária deste mês. Já a quarta etapa é a necessária implementação de instrumentos de mercado, conforme o melhor cenário estudado, pensando na geração de renda aos produtores. Nesse sentido, defendemos a realização dos leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) e de Opções Públicas.

Há cerca de um ano (15/5/2012), foi publicado o artigo Café: há motivos para preocupação?, de autoria da professora Sylvia Saes e Bruno Varella Miranda. No conteúdo, eles ressaltam que a safra recorde brasileira 2012/13 e a crise econômica dos países desenvolvidos eram os argumentos que embasavam a especulação baixista para os preços na época. Também apontavam que tais contextos não deveriam ter um peso exagerado na trajetória de longo prazo do mercado, pois os estoques de café estavam limitados e existia um tênue balanço entre oferta e demanda mundiais.

Passado um ano (e uma safra) observamos que a argumentação acima continua válida, embora as cotações do Contrato C da Bolsa de Nova York (ICE Futures US), referência para a formação do preço do arábica no mundo, tenham despencado cerca de 3.480 pontos. O problema, conforme indicado pelos autores, é o foco dos especuladores no lucro de curto e médio prazos, que contribui para a formação do preço desconsiderando os fundamentos que afetarão o mercado no longo prazo.

Frente às oscilações bruscas do mercado e à visão imediatista da formação dos preços por influência dos especuladores, buscar maior eficiência econômica é fundamental. Entretanto, para isso, precisamos de desenvolvimento e de transferência de tecnologia para o campo, áreas que demandam maior atenção de nossos gestores públicos.

O produtor deve manter sua visão no longo prazo, investindo tempo na gestão das propriedades, com acompanhamento criterioso de custos de produção e projeção das margens almejadas. Somente assim poderá realizar sua comercialização no momento correto, beneficiando-se também dos instrumentos de política pública para apoiar o ordenamento da oferta e a garantia de renda que estamos negociando com o governo federal.

SILAS BRASILEIRO*

* Presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) e deputado federal



Veículo: Diário do Comércio - MG


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