As sucessivas altas nos preços dos alimentos fazem com que os clientes não sintam os efeitos da desoneração do IPI (do Imposto sobre Produtos Industrializados) e do PIS/Cofins sobre os produtos da cesta básica - que reduziu a zero as alíquotas sobre itens como carne, arroz, feijão, leite. As medidas foram anunciadas em março pela presidente Dilma Rousseff. O cenário aponta justamente o inverso: 92% de paulistanos da classe C reclamaram da elevação de preços no setor alimentício. E, devido a estas condições, 80% dos consumidores já tiraram algum produto de sua cesta de compras. Alimentos como feijão, carne e café foram citados, além do tomate (65%). É o que aponta pesquisa realizada pela consultoria Hibou.
O peso da cesta básica no orçamento familiar também já é um dos causadores do aumento no número de inadimplentes. De acordo com a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada pela Fecormercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), 57,1% das famílias paulistanas estão endividadas, especialmente por conta de gastos com alimentos.
Segundo o economista Radamés Barone, professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), a medida tomada pelo governo para diminuir o valor dos itens da cesta não é suficiente. "Para que os consumidores possam sentir os efeitos da redução de impostos, é preciso focar no topo da cadeia produtiva. Isso porque os insumos (como adubos, fertilizantes) tiveram reajustes e essas despesas ainda precisam ser repassadas ao cliente. De que adianta reduzir o PIS e Cofins se os artigos presentes na produção só aumentam?", indaga o docente.
Além disso, Barone acrescenta que a elevação do preço do combustível e, consequentemente do frete, também contribui para encarecer os itens do setor alimentício. "Por isso, a desoneração é insuficiente."
Outro aspecto que precisa ser considerado é o fator climático. "As oscilações no clima interferem diretamente nos preços dos produtos in natura."
Apesar de considerar que a desoneração dos produtos da cesta básica tenha chegado em bom momento, por eliminar distorções tributárias e traduzir benefício para os consumidores, o presidente do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo), Alvaro Furtado, acredita que seus efeitos "vão demorar algum tempo para serem percebidos pela população, uma vez que o varejo só receberá os produtos desonerados quando houver renovação de estoques".
De qualquer forma, segundo ele, ainda que isto não esteja acontecendo em toda a sua extensão, a maioria das empresas já está repassando para os preços finais a redução. "Para o segmento, foi importantíssima a eliminação da distorção presente na cadeia da carne, por exemplo, com a isenção total de PIS e Cofins", diz.
Segundo cálculos de especialistas, estima-se que em São Paulo a cesta básica terá redução de cerca de R$ 10. Para Furtado, a medida não vai gerar aumento de consumo. "Diferentemente da linha branca e de automóveis, a desoneração não gera antecipação ou crescimento nas compras dos consumidores", diz o presidente, que complementa: "A expectativa de uma redução de 0,6% na inflação por conta da medida certamente é um alívio, mas não assegura a contenção, uma vez que há aumentos significativos para a inflação, como combustíveis."
Veículo: Diário do Grande ABC