Dados da Fipe mostram que alimentos tiveram deflação de 0,14%, o que deve ajudar a reduzir a inflação - que segue pressionada por itens como gastos com saúde e vestuário
O preço dos alimentos em São Paulo teve a primeira deflação desde março do ano passado. Segundo os números do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os alimentos tiveram queda de 0,14% na segunda quadrissemana de maio, o que surpreendeu os economistas do instituto. Os serviços, no entanto, continuam a pressionar o índice - os preços do grupo Saúde, por exemplo, tiveram alta de 1,71% no período.
"A queda dos alimentos in natura foi uma surpresa", disse o coordenador do indicador da Fipe, Rafael Costa Lima. "Tínhamos perspectiva de que a deflação de alimentos viria em algum momento, mas, aparentemente, já chegou e veio com força."
Os alimentos foram considerados nos últimos meses os vilões da alta da inflação, que em março ultrapassou o teto da meta estabelecida pelo Banco Central, de 6,5% ao ano - nesse caso, o indicador oficial é o IPCA, medido pelo IBGE. Mas o governo e o próprio BC insistiam que a elevação de preços era um problema sazonal.
Na quinta-feira, um outro índice de inflação, o Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10), da Fundação Getúlio Vargas, também havia detectado o recuo dos preços dos alimentos. Dentro do índice, os alimentos in natura apresentaram deflação - o preço do tomate, por exemplo, apresentou recuo de 14,7%. Mas, segundo a FGV, esse é um movimento que pode ter fôlego curto.
"A desaceleração da alimentação está muito concentrada nos produtos in natura. Entre os derivados de matérias-primas agropecuárias, a influência é menor. Não é uma desaceleração generalizada. Talvez continue por mais um tempo, mas não tem fôlego para ir muito longe", disse Salomão Quadros, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
O Banco Central, porém, continua confiante na queda dos preços dos alimentos para que a inflação não dispare. "A inflação já está caindo no atacado. Nos próximos três meses, teremos inflação mais baixa no nível do consumidor. Em maio, junho e julho, veremos a inflação mais baixa, refletindo inclusive a queda nos preços de alimentos", disse nesta semana o presidente do BC, Alexandre Tombini.
Revisão. A queda inesperada no conjunto de preços do grupo Alimentação na segunda quadrissemana de maio levou a Fipe a mudar sua projeção para o dado fechado do mês. A expectativa atual de Costa Lima é de que o IPC encerre maio com uma alta de 0,28%, e não mais em 0,33%.
O grupo Alimentação, por sua vez, após a retração de 0,14% na segunda medição, deverá, segundo o economista, terminar com 0,07%, ante uma estimativa anterior de 0,27%. A expectativa de Costa Lima era de que o grupo ainda apresentasse uma taxa positiva para a segunda quadrissemana, de 0,04%.
"Os produtos in natura podem continuar em queda, mas os industrializados podem não cair tanto. Com isso, prevemos um IPC de 0,28% no final do mês", disse o economista, que manteve sua projeção de inflação de 5,00% no fechamento de 2013.
Na avaliação dele, o grupo Saúde deverá permanecer pressionando a inflação dos paulistanos até o final do mês, em razão do impacto do reajuste recente nos preços dos medicamentos. "Tem ainda Vestuário, que está subindo mais do que o esperado", admitiu, acrescentando que prevê taxas de 1,14% para a Saúde e de 0,59% para o grupo Vestuário.
Veículo: O Estado de S.Paulo