Ciclista dá pedal ao comércio

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Os ciclistas pedalam forte para conquistar seu espaço na capital, e aos poucos vão ganhando mais força. Sabendo disso, alguns comerciantes perceberam que tratar bem quem se desloca daqui para lá de bike, arriscando-se entre carros, motos e ônibus, é um bom negócio. O mesmo foi comprovado pelo Departamento de Transportes de Nova York, que afirma que as ciclovias beneficiam o comércio local.

Empresários e comerciantes de São Paulo fizeram pequenas adaptações, tornando lojas, restaurantes e supermercados mais 'bike-friendly', além de oferecer brindes e descontos para atrair esse público. "Nossa cidade ainda é carente de infraestrutura para o ciclista. Por isso, acredito que um gesto de boas-vindas pode melhorar a rotina de muita gente, além de ser uma forma de criar uma clientela fiel", conta Fernanda Barros, 37 anos, chef e proprietária do Le Repas Bistrot, em Pinheiros.

Em novembro de 2012, Fernanda decidiu mimar seus clientes e instalou um paraciclo (estacionamento rotativo para bicicletas) em frente ao seu bistrô. Além disso, passou a oferecer uma salada de folhas como cortesia para quem chega de bike ao Le Repas. Gastou cerca de R$ 120 com a instalação, que acomoda quatro magrelas. Os almoços de sábado e domingo movimentam o paraciclo, estimulando muitos clientes do restaurante a deixarem seus carros em casa e sair pedalando.

Mesmo antes de possuir o paraciclo, Fernanda já era cortês com seus clientes ciclistas. "Costumava guardar as bikes dentro do próprio restaurante. A ideia do paraciclo veio dos próprios clientes que me trouxeram fotos. Pesquisei e outros três comerciantes da região também adotaram a ideia", disse.

A presença das magrelas no cotidiano das metrópoles virou objeto de estudo do Departamento de Transportes de Nova York. Um levantamento realizado pelo órgão americano revelou que o número de vendas das lojas de rua em Manhattan aumentou em 49%, nas vias próximas à ciclovia protegida, em contraste a uma média de 3% em estabelecimentos comerciais distantes da ciclovia.

O estudo foi realizado nas 8ª e 9ª avenidas de Manhattan, que receberam as primeiras ciclovias protegidas nos EUA. No local, ciclistas circulam com segurança por faixas que têm estacionamento de carros (à direita) e calçadas (à esquerda). Portanto, não há nenhum tipo de contato entre bikes e automóveis em movimento.

O mesmo estudo também apontou que esse tipo de investimento gera mais clientela  ao comércio de rua. Não apenas os ciclistas, mas também os pedestres se sentem mais seguros para circular pelas calçadas, tendo ao lado uma ciclovia protegida. A conversão de um estacionamento em uma praça para pedestres no Brooklyn é outro exemplo citado no estudo americano. Após a reforma, o comércio do entorno registrou um aumento de 172% nas vendas, contra um aumento de apenas 18% no restante do bairro.

São Paulo ainda está a anos-luz de Nova York no quesito respeito ao ciclista, mas se lá lojas e restaurantes se beneficiam com essa proximidade da bicicleta com o comércio, aqui não é diferente.

A ilustradora Fernanda Guedes, 48 anos, concorda com as afirmações. Ela passou a utilizar a bicicleta como meio de transporte em 2010, quando vendeu seu carro. Habituada a percorrer distâncias de até oito quilômetros sobre duas rodas, Fernanda já vê algumas mudanças em São Paulo com relação aos ciclistas. "O mercado em que faço compras implantou o bicicletário há 3 meses e já me sinto mais acolhida. A locadora e a padaria que frequento também têm paraciclo há muito tempo. O comércio que não investir nesse público sairá perdendo. A ciclovia da Faria Lima, por exemplo, recebe gente de alto poder aquisitivo e o comércio da região ainda não se atentou para isso", disse.

Para o psicólogo e especialista em trânsito Salomão Rabinovich, o comércio está desempenhando um papel importante ao incentivar o uso da bike. "Essa fomentação é muito valiosa. É uma pena não termos ciclofaixas suficientes para todos. O comércio está fazendo sua parte, e a Prefeitura deve fazer a dela", disse.

Antonio Carlos Pela, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e coordenador do Conselho de Política Urbana (CPU) da ACSP, faz coro. "O incentivo cabe a todos e os comerciantes sabiamente estão cumprindo seu papel, impulsionando o funcionamento da cidade."



Veículo: Diário do Comércio - SP


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