Citricultores buscam saída para a crise

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A retomada do plantio na Florida e o greening deixaram aos produtores de laranja um sabor amargo em 2008. Os citricultores da bacia paulista tiveram uma sensível redução na margem mesmo em cenário favorável. O baixo estoque final estimado para a safra 2008/2009, da ordem de 96,5 mil toneladas de suco concentrado (FCOJ), 51% inferior ao da safra anterior, não impediu que a cotação da commodity recuasse 53% em 2008, atingindo o pior patamar dos últimos quatro anos. Com o desempenho, o produto registrou a maior desvalorização entre os contratos futuros de produtos agrícolas. Das 19 commodities monitoradas pelo Índice Reuters/Jefferies CRB, o suco de laranja ficou atrás apenas dos de combustíveis e metais básicos em termos de retração.

 

O alto volume dos estoques dos produtores norte-americanos - principais correntes do Brasil no mercado internacional - estimados em 438 mil toneladas de suco concentrado (FCOJ), foi o principal fator de pressão sobre a cotação da commodity que em janeiro era cotada a US$ 2 mil por tonelada e termina o ano próxima a US$ 1 mil por tonelada. "Apesar de o principal mercado paulista ser o europeu e não o norte-americano, essa queda nos valores do suco aliada à crise financeira mundial acabam influenciando também engarrafadores europeus a pressionarem o valor da fruta", afirmou Mayra Monteiro Viana, analista de mercado de citros do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Na Europa, a cotação do suco de laranja concentrado também registrou retração, ainda que mais moderada. Os preços chegaram a recuar de US$ 2,1 mil por tonelada em janeiro para US$ 1,7 mil por tonelada em novembro.

 

Os estoques de concentrado congelado de suco de laranja dispararam no último mês, elevando-se em 84% comparado ao mesmo período de 2007, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. "Vamos ter um excedente, uma superoferta", disse James Cordier, fundador da OPtionSellers.com de Tampa, no Estado norte-americano da Flórida. "O varejo fez muito pouco para estimular a demanda norte-americana". "O crescimento do desemprego é terrível para os preços do suco de laranja", disse Cordier. "Estamos esperando uma melhoria da economia. Essa é a única coisa que pode estimular a demanda por suco de laranja". As vendas no varejo caíram 1,7% nos Estados Unidos, para 47,34 milhões de galões (de 3,785 litros) no período de quatro semanas até 22 de novembro, segundo os dados mais recentes da ACNielsen postados no site do Departamento de Frutas Cítricas da Flórida.

 

"Vamos assistir ao crescimento desses estoques, principalmente diante das condições da economia mundial e do fato de o suco de laranja estar custando mais do que um tanque de gasolina", disse Steward Mann, diretor executivo da LaSalle Futures Group de Nova York.

 

De acordo com Viana, analista do Cepea, na atual temporada (2008/2009), mesmo com uma queda de quase 60 milhões de caixas sobre a safra anterior, as indústrias do setor limitaram as compras de frutas não contratadas em pleno pico de processamento (outubro/novembro). Para as próximas safras, a perspectiva é que os preços continuem bastante voláteis. "Entre os fatores de alta estão o encarecimento da produção citrícola decorrente do aumento dos custos fitossanitários e da mão-de-obra e a limitação da oferta devido à maior incidência do greening. Quanto aos aspectos baixistas, destaca-se a queda no consumo de suco de laranja, bem como o fato de a Flórida, apesar de todas as suas limitações de expansão do seu parque citrícola, estar recuperando sua produtividade", avalia.

 

Estudo realizado pelo Cepea revela que, na safra atual, a diferença nos preços recebidos por citricultores através de contratos com indústrias paulistas apresentou significativa disparidade. O intervalo dos valores referentes a contratos antigos, renegociados e novos, ficaram, em média, entre US$ 2,90 a US$ 7 a caixa de 40,8 kg - considerando o dólar a R$ 2 para a conversão dos contratos efetivados. Os produtores de forma geral também não deverão se beneficiar da valorização do dólar ante o real nas negociações da safra atual. Isso porque muitos passaram a fixar contratos em moeda nacional.

 

Os produtores de laranja brasileiros esperam que 2009 seja mais favorável do que o ano passado, quando os preços do produto caíram 50% e o greening atingiu os pomares.

 


Veículo: DCI


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