O otimismo está mais moderado na indústria e caiu no comércio, segundo duas pesquisas diferentes divulgadas ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Na indústria, após atingir um pico de otimismo nos primeiros meses do ano, a percepção do setor que os negócios vão bem recuou um pouco, mas ainda se mantém em patamar moderado em maio. É o que aponta o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da FGV, que registrou 105,0 pontos neste mês, recuperando o mesmo patamar de março após ter caído para 104,2 em abril. Leituras acima de 100 pontos indicam otimismo e em janeiro e fevereiro, o índice havia sido de 106,5 e 106,6, respectivamente.
No varejo, um cenário menos favorável para o emprego, a renda e o crédito conduziu ao recuo de 3,6% no Índice de Confiança do Comércio (Icom) no trimestre finalizado em maio, segundo o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) Jorge Braga.
Na indústria, "o avanço que aconteceu até fevereiro chegou a apontar para um otimismo mais forte, mas nos meses seguintes foi calibrado, indicando um patamar mais moderado", disse Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos da FGV, lembrando que a oscilação acompanha o ritmo de produção da indústria, que, após um primeiro trimestre mais forte, deve passar por uma desaceleração no segundo trimestre.
"Os indicadores apontam para um crescimento da indústria em maio, mas o setor vem oscilando muito e é difícil dizer que isso se repetirá em junho. Isso colabora para o cenário em que haverá desaceleração do crescimento ante os primeiros meses, mas ainda com avanço no segundo trimestre", explica Campelo
A percepção de que a indústria já trabalha hoje em patamares melhores do que o ano passado, mesmo que em um avanço vagaroso, aparece também nos indicadores de estoques, que estão caindo, e de utilização da capacidade instalada, que está subindo. Segundo a FGV, o nível de empresas com estoque em excesso caiu 1,3% de abril para maio, para 101,5 pontos, numa escala em que números acima de 100 indicam excedente de estoque. Enquanto isso, o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) da indústria de transformação subiu, passando de 84,1% em março, 84,2% em abril e 84,6% em maio.
O Índice de Situação Atual, que aponta para a percepção das empresas do ambiente de negócio no momento, ficou em 105,7 pontos, com alta de 2,1% sobre abril. Por outro lado, o Índice de Expectativas Futuras, que verifica as percepções das empresas para os negócios nos próximos três a seis meses, piorou: caiu 0,7% com relação a abril, para 104,2 pontos. Foi a terceira queda mensal consecutiva. "No início do ano, o indicador refletia a expectativa de um crescimento mais forte da indústria neste primeiro semestre. Essa 'calibragem' do resultado não altera a percepção de que a atividade vai melhorar, mas isso vem agora em um ritmo mais moderado", disse Campelo.
Para Braga, a recente decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de elevar em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic) também afetou a confiança no comércio. Embora exista defasagem, em torno de oito meses, no impacto dos juros mais altos na economia real, a decisão tem efeito psicológico e ajuda a inibir novas compras.
No caso da piora do cenário inflacionário, o economista citou o aumento nos preços dos alimentos como fundamental para essa mudança. Tanto que, no Icom de maio, os segmentos que contaram com o desempenho mais negativo foram os relacionados ao setor. É o caso de hipermercados e supermercados, cujo índice de confiança saiu de uma elevação de 1,6% para recuo de 5,3% do resultado anterior para o de maio, anunciado hoje.
No entanto, para o especialista, não é possível dizer com certeza que haverá uma continuidade no cenário negativo do Icom - mesmo que o recuo de maio tenha sido o quinto consecutivo na mesma base de comparação. "O Índice de Expectativas - IE [um dos dois subindicadores do Indice de Confiança do Comércio] ainda está em queda, mas menos intensa", disse, acrescentando que o IE saiu de uma queda de 6,4% em março para recuo de 5,2% em abril, e taxa negativa de 4,3% em maio. "Pode ser um sinal de melhora. Não é muito, mas pode ser um sinal", avaliou.
Veículo: Valor Econômico