Comunidades mantêm canteiros urbanos em São Paulo; mais do que produzir comida, eles mobilizam bairros
Reportagem visitou nove locais; encontrou boas verduras, mas também sujeira e cachorros transitando
Perto do encontro da avenida Paulista com a rua da Consolação, um canteiro de 30 m2 quase não chama a atenção de quem circula por ali. Mas quem se detém e observa melhor percebe que o pequeno verde no meio do concreto guarda pés de alface, manjericão e até café.
A chamada praça do Ciclista, ponto de encontro de cicloativistas, passou a receber o cultivo de hortaliças em outubro passado. A rega é feita todas as tardes por seis voluntários, que se revezam na manutenção da horta, sem cercas protetoras, rodeada por vias entre as mais movimentadas da cidade.
Ainda assim, plantas sem viço --e uma sujeira aqui e ali-- podem dar a impressão de certo ar de abandono.
Na horta do BNH, na Vila Madalena, as plantas são espalhadas por pontos dispersos na praça. A ausência de cercas permite que cachorros transitem por ali, livremente. O mesmo se observa na horta da Nascente, na Pompeia.
Além de receber ajuda em mutirões semanais, os voluntários fazem parte de um grupo que cuida de outras hortas comunitárias na cidade, os Hortelões Urbanos.
O grupo se formou pouco antes da criação da horta das Corujas, que ocupa 800 m2 da praça Dolores Ibarruri, na Vila Beatriz. Isolado do conglomerado urbano por árvores, o espaço é o mais bem organizado desse movimento.
Seus organizadores estão entre os poucos que estabeleceram um acordo, ainda que informal, com a subprefeitura e mantêm diálogo aberto com o poder público.
As demais hortas visitadas pela reportagem ainda não haviam estabelecido acordos com a prefeitura (leia ao lado).
Antes de começar a plantar, os voluntários da horta das Corujas bancaram análises do solo e da água. E um documento define diretrizes para a manutenção.
Os canteiros foram protegidos por uma cerca baixa, para evitar a circulação de animais --mas sem cadeado, para que os interessados circulem livremente.
Uma placa informa regras como a proibição do cultivo de árvores frutíferas (propícias para a formação de arbustos) e as datas de mutirões.
O que é cultivado ali vai para a mesa de muita gente do bairro. "Nunca tinha comido um feijão que eu tinha plantado. Sentei para debulhar com a minha filha e foi muito gostoso", conta a jornalista Claudia Visoni, 47, uma das envolvidas na iniciativa.
A colheita não tem regras definidas, mas o dia a dia desses espaços leva a sério a ideia de comunitário.
Ainda que utensílios, mudas e adubo cheguem às vezes por meio de doações, são os próprios voluntários que se mobilizam para conseguir os materiais.
Além de produzir alimentos, essas hortas podem ter outros usos. Na da Vila Anglo, na Pompeia, os organizadores promovem oficinas de educação ambiental com crianças do bairro.
Veículo: Folha de S.Paulo