Recuperação da safra norte-americana e recorde no Brasil devem reduzir preços e afetar rentabilidade do produtor
Governo prepara instrumentos de apoio à comercialização para diminuir impacto da retração do cereal
O Brasil consolida neste ano a safrinha de milho acima de 40 milhões de toneladas. O que deveria ser uma boa notícia para o país traz preocupações para o setor.
Ao contrário do que ocorreu no ano passado, a conjugação de uma safra recorde no Brasil e de um cenário de recuperação da produção nos EUA pode comprometer a rentabilidade do produtor.
A safrinha, que era motivo de dúvidas em algumas regiões do país devido ao atraso no plantio de soja, está sendo beneficiada pelo clima e deve somar 44,4 milhões de toneladas, somando uma produção total próxima de 82 milhões de toneladas no país.
Esse crescimento será puxado por Mato Grosso, onde a safrinha deverá atingir 19,1 milhões de toneladas, ante os 16,5 milhões do ano passado.
Os dados são de André Pessôa, diretor do grupo Agroconsult. Para ele, o atraso no escoamento da produção de soja, provocado pelos gargalos nos portos brasileiros, prejudicará os embarques de milho, pois os terminais ficarão ocupados com a oleaginosa até agosto.
O milho brasileiro, portanto, só entraria no mercado internacional a partir de setembro, quando se inicia o domínio norte-americano no comércio mundial, com o início da colheita naquele país.
Quanto à soja, "a janela de oportunidade para os produtores brasileiros está aberta até outubro, quando os EUA voltam ao jogo. O problema para o Brasil é o congestionamento nos portos", diz Gavin Maguire, da área de mercados agropecuários da Thomson Reuters.
Esse cenário de maior oferta de milho deve reduzir os preços internacionais. Fernando Muraro, da AgRural, estima que o bushel do cereal cairá abaixo de US$ 5 a partir de setembro, ante os US$ 6,67 de ontem em Chicago.
Diante disso, o governo já prepara instrumentos de apoio à comercialização por meio de leilões de compra.
Essas operações devem atingir 3 milhões de toneladas, disse ontem o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, durante o seminário da BM&FBovespa sobre perspectivas para o agronegócio.
Mas, no longo prazo, Dan Glickman, ex-secretário do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA), acredita em preços mais altos e voláteis para as commodities agrícolas, pois a urbanização e a alta da renda em países emergentes resultarão em maior demanda por alimentos.
Veículo: Folha de S.Paulo